Em novembro de 2014, quatro dias após a reeleição de Dilma, escrevi um artigo em que chamava a atenção para o papel central que a economia tem em qualquer governo, para o bem ou para o mal.
Na ocasião, lembrava que a situação econômica de Brasil, Argentina e Venezuela formava um gráfico que mostrava diferentes estágios de uma “doença”.
No Brasil, a “doença” avançava mais lentamente graças a resistências no congresso e maior vigilância da sociedade civil. Ainda daria para evitar o desastre se Dilma abandonasse a “Nova Matriz Econômica” e colocasse à frente da economia gente que o mercado reconhecesse como competente. Como sabemos, ela preferiu o desastre.
Naquele momento a Argentina já estava no estágio 2 da “doença”, com dólar paralelo e índice de inflação totalmente descolados da verdade oficial, desemprego crescente e falência financeira; e a Venezuela, infelizmente, já chegara ao estágio 3, de metástase, com a total destruição da economia (e da democracia), o que impedia o país sair desta crise sem muito sofrimento para toda a população.
As análises e prognósticos daquele artigo se revelaram precisos, não porque eu seja um gênio, mas pela simples razão de que não brigo com os fatos.
Agora, quando nos aproximamos de novas eleições e vemos tanta gente ainda presa às mesmas ideias que produziram aqueles desastres, é fundamental ter noção de que, nas próximas eleições, estará em jogo voltar ao caminho do desastre ou acelerar a recuperação da economia.
Eleger adeptos da “nova matriz econômica” (também conhecida como “realismo mágico” e “keynesianismo populista”), é escolher o desastre.
Eleger quem defende a responsabilidade fiscal e uma agenda de reformas que diminua o tamanho (e o custo) do Estado Brasileiro, é escolher o caminho da volta a uma situação econômica favorável para o conjunto da população.
A ARGENTINA E A IGNORÂNCIA DOS CRÍTICOS.
Quer saber como identificar quem representa perigo real para a economia brasileira?
Um bom método é observar as opiniões recentes de “analistas” e “economistas” que comemoraram os problemas do presidente Macri na Argentina e sua negociação com o FMI.
Os termos “analistas” e “economistas” estão entre aspas porque quem vê tais dificuldades como “obra” de Mauricio Macri e do seu “neoliberalismo”, não pode ser levada a sério nestas áreas (ou por quem deseja ser bem informado).
Mas então, questionarão alguns destes enganadores, por que as medidas de Macri não tiraram a Argentina da crise?
Esta pergunta, na verdade, revela ignorância ou má-fé, já que a economia da Argentina melhorou, embora ainda não o suficiente.
É importante lembrar que Cristina Kirchner dinamitou as contas públicas e a credibilidade do país portenho (veja destaque aqui) e viu a inflação atingir 50% ao ano, impulsionada pelo mesmo tipo de keynesianismo populista de Lula a parir de 2009 e Dilma em todo seu primeiro mandato: grande oferta de crédito para estimular o consumo e abandono do famoso tripé macro econômico metas de inflação, câmbio flutuante e superávit fiscal primário.
Naquele período, os dados econômicos divulgados pelo governo de Cristina Kirchner eram totalmente descolados da realidade, conforme indicavam institutos independentes, o que levou o Banco Mundial a aplicar sanções ao país.
A manipulação por lá faz as pedaladas de Dilma parecerem coisa de criança.
O populismo desenfreado de Cristina Kirchner, com suas manipulações, levou a uma situação em que 36% da arrecadação era utilizada para pagar subsídios de energia elétrica e transporte para a população.
“Mas isto é uma coisa boa” dirão os ingênuos e os adeptos do realismo mágico (aquela escola econômica que não acredita na matemática).
Não, não é uma coisa boa, como o tempo se encarregou de mostrar de diversas e perversas maneiras.
Macri assumiu em meio à crise e foi um tanto covarde (por não fazer os ajustes e as reformas necessárias de imediato). Além disso, deixou-se seduzir pelo keynesianismo populista, ampliando de 10 para 18 meses os programas de financiamento em vigor. Também errou ao abaixar arbitrariamente a taxa de juros e apresentou metas de inflação muito ambiciosas, que não conseguiu entregar, corroendo rapidamente sua credibilidade e gerando desconfiança no mercado.
Quando percebeu que não conseguiria manter o caminho populista e começou os ajustes, atingiu em cheio a classe média e os mais pobres, acrescentando insatisfação política às dificuldades econômicas, mas os resultados começaram a aparecer.
Houve redução progressiva no déficit primário das contas argentinas, que foi de 5,4% em 2015 para 3,9% em 2017, não por acaso o primeiro ano em que a economia apresenta alguma recuperação (evidentemente, não o suficiente para sanear o passado).
A QUESTÃO DA VOLTA AO FMI.
A Argentina precisava financiar a pesada dívida que carrega, fruto de administrações irresponsáveis, e os juros mais baratos disponíveis no mercado mundial são os praticados pelo FMI.
Além disso, em meio a tantas incertezas e especulações, os bancos privados não só elevam ainda mais seus juros, mas frequentemente preferem nem emprestar dinheiro novo a um possível mal pagador.
Macri fez a opção mais segura e mais econômica para as contas públicas argentinas, acalmou mercados e impediu a deterioração da recuperação do PIB que a Argentina vem apresentando.
QUEM FALA EM FRACASSO, MENTE OU É INCOMPETENTE.
Os números desmentem quem fala em “fracasso” de Macri.
A inflação ainda está alta, mas caiu de algo como 45% para 25% ao ano.
Indicadores sociais mostram uma redução da taxa de pobreza de 22% (caiu de 32,2% em 2016 para 25,7% da população em 2017).
Evidentemente, ainda há muito trabalho a ser feito, outros ajustes, mas o caminho está correto.
E O QUE O BRASIL TEM COM ISSO?
Diante de tanta guerra de informação, é conveniente o eleitor brasileiro prestar atenção em alguns detalhes.
Os “analistas” e “economistas” que mentem ao dizer que a Argentina piorou com Macri, são os mesmos que falam em “Golpe” contra Dilma e não reconhecem as melhoras que o Brasil teve no governo Temer.
Acontece que o processo de retomada é muito mais difícil do que o de deterioração.
Quem não reconhece que a crise atual, com seu desemprego recorde, é consequência direta das escolhas gerenciais erradas de Lula e Dilma (assim como a crise argentina é filha dos Kirchner e a da Venezuela de Chávez e Maduro) tende a, caso volte ao poder, repetir os erros e aprofundar o desastre.
Não tenha ilusão. Estas pessoas não aprendem, elas se orgulham dos próprios erros.
Votar nos candidatos apoiados por estas pessoas é apostar no caos e condenar o Brasil a virar uma Venezuela.
Artigo de Paulo Falcão.
Um pouco de memória para desconstruir as narrativas que Lula e o PT tentam nos vender a avisar sobre riscos reais no horizonte. Por Amilton Aquino, em 4 de junho de 2023:
E o Banco dos Brics negou um empréstimo à Argentina, apesar da Dilma no comando. Ou seja, os demais membros do Conselho sabem que emprestar à Argentina é a certeza de nunca mais receber o dinheiro de volta. Vai sobrar para o Brasil, o FMI e, talvez à China, neste caso com uma garantia bem vantajosa, podem ter certeza.
No caso do FMI, certamente vão fazer as exigências de sempre (compromisso com reformas e austeridade) que a Argentina reluta em abraçar. E também como sempre, os hermanos vão prometer tudo o que for preciso para pegar a grana para, lá na frente, anunciar um novo calote, reclamando dos ianques, da interferência do FMI, dos juros… O mesmo blá blá blá de sempre, que os populistas latino-americanos (especialmente os de esquerda) vivem a repetir.
Mas não é sobre a Argentina que quero falar, e sim de duas obsessões do Lula no cenário internacional: o FMI e o assento no Conselho de Segurança da ONU.
Começando pelo FMI, será que os juros cobrados são realmente altos? Não. Não são. Tanto que Lula, às vésperas da eleição de 2006, vendeu títulos da dívida interna a 12,75% (juros aliás bem próximos dos atuais, que ele reclama tanto) para quitar antecipadamente com o FMI uma dívida com juro de 4%! Sim, ele fez isso para ter o gostinho de, na campanha de 2006, dizer que o Brasil havia “quitado a dívida externa”. Detalhe: o empréstimo foi feito por FHC no auge da Crise Lula, durante a eleição anterior, quando o dólar disparou, quando as pesquisas indicavam o petista como o sucessor de FHC. E mais um detalhe: o próprio Lula viajou com FHC ao FMI para se comprometer com a austeridade necessária para quitar a dívida. Ou seja, Lula sabe que o FMI não é o bicho papão que ele pinta nos discursos. E o faz apenas para jogar pra plateia.
Por fim, a obsessão por uma vaga no Conselho de Segurança da ONU, formada por EUA, Reino Unido, França, China e Rússia, todas potências nucleares. Por que diabos tanto esforço diplomático para entrar num clube que só nos traria mais responsabilidade e gastos militares, inclusive um maior risco de entrarmos em guerra?
A resposta é simples: vaidade, delírio de poder, o verdadeiro tesão do Lula, o cara que posa de pai dos pobres, mas, no poder, esbanja de todas as formas. Não por acaso, tanto agora como em 2003, uma das primeiras providências ao chegar ao governo foi trocar o avião presidencial. A exigência agora é que o novo avião tenha suíte presidencial, uma brincadeirinha que vai custar U$ 80 milhões aos cofres públicos (link nos comentários).
Enfim, Argentina e Brasil são dois dos países mais abençoados pela natureza. Poderiam ser hoje verdadeiras potências com credenciais para participar inclusive do seleto Conselho de Segurança da ONU, mas estão condenados à mediocridade por serem conduzidos por uma elite patrimonialista durante a maior parte da sua história, e mais recentemente, por uma esquerda típica latino-americana, mais preocupada com narrativas desconexas que com a realidade.
E aí amigo ? Qual a sua orientação pra hoje (18/04/2019) ?
Parece que o negócio ta piorando na Argentina…
O economista austericida Samuel Pessoa, não sei se para livrar a cara da Kirchner ou do Macri , disse que a crise argentina tem 60 anos….
Se for assim os argentinos poderiam dobrar a aposta em Macri.
O caso da Argentina nos permite observar dois fenômenos.
Primeiro, a crise gerada pelo populismo doidivanas de Cristina Kirchner.
Depois, o resultado da covardia de Macri em fazer os ajustes da economia.
Macri nunca atacou os problemas de forma radical. Nunca fez tudo que precisava ser feito. Dava um passo para a frente, o mercado reagia positivamente, a oposição gritava prometendo milagres e ele recuava parcialmente.
Se tivesse feito os ajustes, é provável que os resultados teriam sido melhores.
Mas se tivesse seguido o caminho de Cristina Kirchner, com certeza estariam em situação muito pior.
Aliás, a Venezuela persistiu na estrada para o inferno que você parece defender e hoje está lá, passando fome e sede no escuro. Nem petróleo está conseguindo extrair direito.
Nós não precisamos inventar a roda. Basta observar o que funciona e o que não funciona no mundo e copiar os modelos virtuosos.
O artigo acima está correto. A covardia de Macri custou caro à Argentina. Com o atual congelamento de preços, não é preciso ter bola de cristal para saber que tudo vai piorar. Haverá escassez de produtos nas lojas e surgirá um mercado paralelo com preços altos. Nada diferente do que ocorre em todo o mundo quando alguém esquece a história e repisa velhos caminhos mágicos.
Parabéns pelo artigo equilibrado e bem fundamentado. Vou começar a seguir este blog.
Entre os “analistas” e “economistas” que você cita entre aspas, sem dúvida está Marcio Pochmann. Veja que artigo desonesto ele publicou na folha. Puro argumentum ad hominem. Só este trecho já serve para que ninguém o leve a sério:
“Após dois anos de gravíssima recessão, a economia brasileira encontra-se em ritmo de estagnação, com anomalias próprias de um capitalismo controlado por equivocado receituário neoliberal.”
É como se a crise não tivesse pai nem mãe. Começou com Temer….
Mas a coisa segue, cada vez pior. Veja ai.
“Marcio Pochmann: Paladino de governo para ricos
Ideólogos como Samuel Pessôa disputam tal papel
Após dois anos de gravíssima recessão, a economia brasileira encontra-se em ritmo de estagnação, com anomalias próprias de um capitalismo controlado por equivocado receituário neoliberal.
Em sua nova versão desde o desastre dos anos de 1990 em administrar as finanças públicas, com dívida líquida saltando de 30% para 60% do PIB entre 1995 e 2002, a atual equipe “dos sonhos do mercado financeiro” do governo Temer teima em fracassar duplamente.
De um lado, o neoliberalismo adotado voltou-se ao ataque dos direitos sociais, promovendo o desmonte das políticas públicas, com a retirada dos pobres do orçamento governamental e o rebaixamento do investimento ao menor patamar das últimas cinco décadas.
O resultado tem sido o desemprego mais abrangente, o colapso da classe média assalariada, o empobrecimento da população e o mais assustador: o dramático aumento de famílias miseráveis.
O Brasil caminha para se tornar novamente aquele país em que o sonho do mais pobre é garantir ao menos três refeições na mesa de casa.
Mesmo assim, o endividamento público cresce vertiginosamente, gerando desorganização nas finanças governamentais. Quando a presidente Dilma foi arbitrariamente retirada, a Dívida Líquida Consolidada do Setor Público, que era de 39,2% em maio de 2016, passou a equivaler, em fevereiro de 2018, a 52% do PIB.
De outro lado, a inegável incapacidade do neoliberalismo de permitir a retomada sustentada do crescimento econômico. No dia 24 de junho de 2016 (1 mês e 11 dias após o afastamento da presidenta Dilma), por exemplo, uma nota do Ministério da Fazenda de Henrique Meirelles definia o seguinte:
“A situação do Brasil é de solidez e segurança porque os fundamentos são robustos. O país tem expressivo volume de reservas internacionais e o ingresso de investimento direto estrangeiro tem sido suficiente para financiar as transações correntes. As condições de financiamento da dívida pública brasileira permanecem sólidas neste momento de volatilidade nos mercados financeiros em função de eventos externos.”
E continuava: “O Tesouro Nacional conta com amplo colchão de liquidez. A dívida pública federal é composta majoritariamente de títulos denominados em reais Além disso, o governo anunciou medidas fiscais estruturantes de longo prazo. A recente melhora nos indicadores de confiança e na percepção de risco do país reflete essas ações. Nesse contexto, o Brasil está preparado para atravessar com segurança períodos de instabilidade externa.”
Os dois anos de governo Temer indicam que —ao contrário do conjunto da sociedade— são fundamentalmente os bancos que acumulam lucros extraordinários (os três maiores bancos privados tiveram lucro líquido de R$ 53,8 bilhões em 2017, 15% superior ao de 2016).
Na mesma marcha, destaca-se o conjunto dos rentistas, que absorveu R$ 401 bilhões (6,1% do PIB) do orçamento público somente no ano passado.
É nessa perspectiva que ideólogos como Samuel Pessôa disputam, entre outros, a acirrada posição de paladinos do governo para ricos.
Assumem, como na época da Inquisição, a condição de julgadores que definem o que é o “certo”, desqualificando colegas, distorcendo argumentos e posando de falsa moral acadêmica.
Não importa que apenas cinco bilionários detenham patrimônio equivalente ao ganho da metade mais pobre dos brasileiros, tampouco reconhecer que, no país, ser rico é muito mais do que igual situação na França. O que vale mesmo é propagar o irresponsável ideário neoliberal e distorcer a realidade, sempre em defesa do governo para os ricos no Brasil.”
Obrigado pela contribuição.
Caro Paulo Falcão, veja por favor o conceito de “imunização cognitiva”.
Isso se encaixa PERFEITAMENTE a sua tese!!!! Forte abraço.
Obrigado pela dica. Achei este artigo que tem tudo a ver:
A IMUNIZAÇÃO COGNITIVA.
https://goo.gl/V4Xz62
Este parágrafo é exemplar:
“A imunização cognitiva é um escudo que permite que as pessoas se agarrem a valores e credos, mesmo que fatos objetivos demonstrem que eles não correspondem à verdade. A pessoa cognitivamente imunizada está no terreno da fé, que dispensa o raciocínio lógico. Para ela, argumentos lógicos não têm relevância.”