A terminologia esquerda X direita é precisa quando indica posição geográfica em relação a um marco qualquer, ou na morfologia. No entanto, em ciências humanas, principalmente no Brasil, é cada vez mais uma simplificação das teorias e da realidade que sequestra a racionalidade do discurso (e das práticas) políticas e econômicas. Se em sua origem, na revolução francesa, o sentido era claro, certamente tal clareza se perdeu e há necessidade premente de redefinir os conceitos à luz dos sóis ideológicos, dentro dos marcos teóricos que definem cada uma das principais categorias do espectro político. Este é o caminho para a desconstrução da armadilha a que foi reduzida a questão.
Para que possamos discutir um assunto qualquer com alguma propriedade, com honestidade intelectual, é fundamental definir o sentido das palavras, dos conceitos. Quando o assunto envolve palavras e conceitos que funcionam como um caminhão baú em que vão se acomodando diversos adjetivos de uso intercambiável e significado genérico, tal necessidade se torna inescapável para quem quer clareza e liberdade de pensamento.
Que esta simplificação aconteça no embate político partidário é triste mas compreensível, uma vez que os grandes movimentos políticos (de todos os matizes) tratam “o povo” como massa de manobra, lhes acenando com um futuro glorioso, o que se faz com um discurso simplista, maniqueísta, ciente de que “o povo” é pouco afeito a sutilezas.
No entanto, em ambiente universitário tal prática é um reducionismo tosco do qual não pode sair nada de bom.
A TEORIA DAS DUAS GAVETAS
O primeiro passo para libertar a razão desta caverna ideológica é desconstruirmos a prática de baixa sofisticação a que chamo de “teoria das duas gavetas”. Não sei se a nomenclatura (ou figura de linguagem) é original, mas a critica em si certamente não é. Ludwig von Mises, economista e filósofo que se refugiou nos EUA fugindo do nazismo disse em “Intervencionismo, uma Análise Econômica” (1940): “A terminologia usual da linguagem política é estúpida. O que é esquerda e o que é direita? Por que Hitler é de ‘direita’ e Stalin, seu amigo e contemporâneo, de ‘esquerda’? Quem é ‘reacionário’ e quem é ‘progressista’? Reação contra políticas pouco inteligentes não deve ser condenada. E progresso em direção ao caos não deve ser elogiado. Nada deve ser aceito apenas por ser novo, radical, e estar na moda.”
Hoje há duas correntes básicas que fazem uso desta simplificação nociva. Na primeira, prevalecente nas ciências humanas, principalmente no Brasil, a “gaveta da esquerda” abriga progressistas, ambientalistas, democratas, socialdemocratas, socialistas, comunistas, anarquistas, movimentos populares, movimentos por liberdades civis e secularistas.
Na “gaveta da direita” estão conservadores, reacionários, fascistas, nazistas, capitalistas, neoliberais, liberais (estes três últimos como sinônimos de reacionários e/ou fascistas), grupos religiosos, meritocratas, monarquistas, “a mídia”, “a elite” e a famigerada classe média.
Posto desta forma, a batalha já está ganha pela esquerda, uma vez que detém o monopólio das virtudes, enquanto à direita sobram as iniquidades.
É claro que, além de reducionista, tal divisão é absolutamente falsa.
A segunda corrente é rara na academia brasileira, mas quando surge ganha visibilidade, muitas vezes até como estratégia de luta da primeira, a denunciar a “intolerância da direita”.
Para esta, a “gaveta da direita” guarda o respeito à propriedade privada (dos meios de produção), ao estado democrático e de direito, empreendedores, meritocracia, desenvolvimento sustentável, neo conservadores, direitos e liberdades civis.
Na “gaveta da esquerda” estão o não reconhecimento das leis que balizam o “estado burguês” e a propriedade privada, comunistas, socialistas, anarquistas, centrais sindicais e movimentos sociais que promovem invasões e ocupações na cidade e no campo.
Embora menos reducionista, esta divisão é igualmente falsa, ou insuficiente.
Proponho reduzir o problema aumentando o número de gavetas para que possamos redistribuir os conteúdos segundo critérios objetivos ditados pelas teses de referência de cada uma das categorias.
CINCO GAVETAS IDEOLÓGICAS
Embora também seja uma simplificação, a distribuição do antigo conteúdo em cinco gavetas (para mantermos a figura de linguagem) permite que esta divisão tenha melhores critérios. As novas gavetas seriam:
extrema esquerda – esquerda – centro – direita – extrema direita.
A divisão não é nova, muito pelo contrário, mas está em desuso. Em maior desuso ainda está a racionalidade nos critérios de classificação.
Para separarmos os conteúdos antes amontoados, um bom começo é a distinção feita com lógica, elegância e argumentos concretos por um nome hoje impensável frente a estes adjetivos: Olavo de Carvalho.
Sim, Olavo já foi uma pessoa ponderada. Em artigo para o Diário do Comércio em 10/11/2013 dizia, sem xingar ninguém: “a diferença de esquerda e extrema esquerda é de graus e de meios, a de direita e extrema direita é de natureza, de fins e de valores.
O esquerdista torna-se extremista quando quer realizar, por meios revolucionários e violentos, o mesmo que a esquerda moderada busca fazer devagar e pacificamente: a expansão do controle estatal na economia, visando à debilitação e, no fim, à extinção da propriedade privada dos meios de produção.
Totalmente diversa é a relação entre direita e extrema direita. Ser de direita, ou liberal, é ser a favor da economia de mercado, das liberdades civis e da democracia constitucional (a versão conservadora defende essas mesmíssimas políticas, mas o faz em nome da tradição judaico-cristã, que para o liberal não significa grande coisa). Se por extrema direita se entende aquilo que o vocabulário corrente e a esquerda em especial designam por esse nome, isto é, o fascismo e o nazismo, o fato que estou assinalando salta aos olhos da maneira mais clara e inequívoca: ser de extrema direita não é querer mais economia de mercado, mais liberdades civis, mais democracia constitucional — é querer acabar com essas três coisas em nome da ordem, da disciplina, da autoridade do Estado, às vezes em nome do anticomunismo, do combate à criminalidade ou de qualquer outro motivo. Não houve um só governo conhecido como de extrema direita que não fizesse exatamente isso. A conclusão é óbvia: passar da esquerda à extrema esquerda é somente uma intensificação de grau na busca de fins e valores que permanecem idênticos em essência. Passar da direita à “extrema direita” é mudar de fins e valores, é renegar o que se acreditava e, em nome de alguma urgência real ou fictícia, empunhar a bandeira do que se odiava, se desprezava e se temia.”
Eu poderia ter citado esse texto sem identificar o autor, como já vi outros articulistas fazerem. Seria pessoalmente menos custoso e não atrairia resistência gratuita, mas seria ceder à turma do politicamente correto e a seu índex. Preferi enfrentar os autoritários com sinal ideológico trocado.
Mas sigamos com a citação. É possível refutar tais argumentos de Olavo de Carvalho com a mesma lógica, elegância e clareza? Acho difícil e pouco provável. Já procurei e não encontrei qualquer contestação digna de nota.
O método preferido de refutação em casos assim é a acusação de ser um “direitista fascista”, o que é suficiente para quem presta mais atenção no mensageiro do que na mensagem.
Outra estratégia é fazer uso muito particular de um trecho de Althusser que se tornou praticamente uma cartilha de setores marxistas da USP: “O método precípuo da ideologia é a utilização do discurso lacunar. Nesse, uma série de proposições, nunca falsas, sugere uma série de outras, que o são. Desse modo, a essência do discurso lacunar é o não dito (porém sugerido).” Se tal argumento pode ser utilizado de maneira honesta, o mais comum é vê-lo utilizado dentro do famoso conceito de que “os fins justificam os meios”: abandona-se o que foi efetivamente dito, preenche-se lacunas imaginárias de forma arbitraria e assim chega-se a um novo discurso, que será finalmente combatido. É, basicamente, um truque de prestidigitação intelectual.
Para aprofundarmos um pouco mais esta questão, gostaria de lembrar que a democracia, esta democracia que vem se aperfeiçoando dentro do estado liberal, não é um valor fundamental para Marx, Lenin, Stalin e seus seguidores. Nesta categoria teórica, a democracia liberal aparece apenas como estratégia de luta, a ser superada no momento possível. Mais do que isto, vários autores marxistas, como o próprio Althusser, reafirmam o anti-humanismo na teoria marxista e a superação da ideologia burguesa de humanidade. Sendo assim, se formos minimamente rigorosos com o sentido das palavras, não há como dizer que uma ideia essencialmente marxista, leninista ou stalinista, ou ainda uma ideia comunista e/ou socialista, seja democrática e/ou humanista. Há uma contradição conceitual insanável, o que não impede alguns autores de tentarem demostrar o contrário, embora suas teses pareçam mais uma oração, um desejo, do que um fundamento teórico. Um dos nomes importantes no Marxismo brasileiro, Carlos Nelson Coutinho, é autor do ensaio “A democracia como valor universal”. Não duvido do coração puro do autor, mas observo que a contradição conceitual que apontei acima permanece em seu ensaio. Se para Marx a luta de classes é inerente ao capitalismo e o fim da propriedade privada dos meios de produção um objetivo a ser alcançado, tal só pode se realizar pela remoção da “burguesia” desta equação econômica, o que por sua vez só se realiza plenamente com a ruptura do estado democrático e de direito. Vale à pena lembrar que o “Dicionário de Política” de Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino, obra de referência inclusive da esquerda, no verbete DEMOCRACIA nos diz que o Estado Liberal é o único que reconhece e garante alguns direitos fundamentais, como são os direitos de liberdade de pensamento, de religião, de imprensa, de reunião, etc. (a social democracia está contida neste conceito). Diz também que a única Democracia compatível com o Estado liberal é a Democracia representativa ou parlamentar. Quando marxistas falam em democracia, estão falando da DEMOCRACIA DIRETA, que tem outra natureza e impõe a vontade da maioria sobre a minoria.
Assim, aquele que reconhece a democracia liberal como um valor fundamental; que reconhece o humanismo como um ideal a ser perseguido na forma de política de estado (política pública); reconhece e defende o direito de minorias e a liberdade de expressão, este indivíduo precisa saber que não é de esquerda. É, no máximo, de centro. Ok, centro não é direita, mas tão pouco é esquerda. A questão fundamental aqui é que, ao fim e ao cabo, considerando atentamente o que propõem marxistas, comunistas e socialistas, simplesmente não existe, do ponto de vista teórico, uma esquerda humanista e/ou democrática (no sentido de respeito aos direitos de minorias). A ideia subjacente de justiça social que emerge de suas teorias é a construção de uma sociedade igualitária pelo convencimento do “proletariado” e pela eliminação física de quem se oponha (proletário, correligionário, burguês, intelectual etc. – neste quesito eles têm preferências, mas não preconceito). No fim, é a persuasão que “só brota em ponta de cano e em brilho de punhal puro” cantada por Milton Nascimento na belíssima música Canto Latino, dele e Ruy Guerra (e que ecoa a convicção proclamada por Mao-Tsé Tung de que “o poder brota do cano de um fuzil”). Se alguém lhe disse o contrário, questione e recuse as respostas fáceis.
Chegamos assim ao momento de distribuirmos o conteúdo das duas primeiras gavetas, usando as definições dos próprios ideólogos de esquerda.
GAVETA DA EXTREMA ESQUERDA
Na gaveta da extrema esquerda temos: marxismo, socialismo, comunismo, revolução, luta de classes, assassinato ou prisão de opositores, fim da propriedade privada dos meios de produção, expropriação, distribuição da riqueza, ditadura do proletariado (que por ser numericamente superior é eufemisticamente chamada de “Democracia Direta”), abolição do estado burguês, abolição de valores burgueses como democracia representativa, meritocracia, humanismo, direitos humanos e direito de minorias.
GAVETA DA ESQUERDA
Na segunda gaveta, reservada à esquerda, temos: marxismo, socialismo, comunismo, luta de classes, fim da propriedade privada dos meios de produção, expropriação, distribuição da riqueza, conquista do poder pela via democrática, superação da democracia representativa por vias políticas, fim do estado burguês, ditadura do proletariado que por ser numericamente superior é eufemisticamente chamada de “Democracia Direta”), abolição de valores burgueses como democracia representativa, meritocracia, humanismo, direitos humanos e direito de minorias.
GAVETA DE CENTRO
Passemos então para a Gaveta do Centro. É para cá que convergem ideias e práticas que se provam globalmente eficientes no que diz respeito a prover bem-estar social e distribuição de renda (pela racionalidade na arrecadação e utilização de impostos e não pela expropriação). São exemplo destas práticas governos frequentemente acusados de serem “liberais” ou “neoliberais”, evidentemente como ofensa. Governos como os da Alemanha, Canadá, Noruega, Finlândia, Suíça e Suécia são bons exemplos (e não estamos falando aqui de políticos de turno, mas de práticas políticas continuadas). Desta maneira, na Gaveta de Centro temos: democracia liberal como valor fundamental, humanismo, meritocracia, distribuição de renda via racionalidade tributária, respeito à propriedade privada, valorização e defesa da livre iniciativa, liberdade de expressão, direito de minorias, direitos trabalhistas, politicas de bem-estar social como sistema público de saúde e educação eficientes.
Este conjunto de valores pode ser chamado, hoje, de social democracia, mas com alguns cuidados. Nos primórdios, a social democracia ficaria na gaveta da esquerda, porque era uma tentativa de aplicar os ideais socialistas ao capitalismo, mas sem ceder a este. Isto explica porque diversas pessoas que realmente têm a democracia como valor fundamental ainda se dizem de esquerda (são os ex-esquerdistas que temem ser chamados de “direitistas” no ambiente acadêmico). Vejam este esclarecedor texto de João Amazonas, publicado pela Fundação Maurício Grabois na Revista Princípios, edição 2, Jun, 1981, Pág. 5-12 (Transcrição: Diego Grossi). Os negritos são meus:
“A social-democracia nasceu como corrente revolucionária. Surgiu depois que o marxismo derrotou, no campo ideológico, o proudhonismo e o lassalismo, concepções anarquistas e pequeno-burguesas que predominavam no movimento operário dos meados do século XIX até a Comuna de Paris.
Passo a passo, nos países economicamente desenvolvidos, criaram-se novos partidos proletários, baseados na doutrina marxista, para lutar contra a burguesia, por uma democracia social. Veio daí a sua designação. Em 1889, agruparam-se na II Internacional. Marx e Engels acompanharam com atenção o surgimento de tais partidos, procurando imprimir-lhes um nítido caráter de classe, vigilantes contra os remanescentes de idéias adversas(…)
(…) Essas novas organizações de combate dos trabalhadores obtiveram, em curto prazo, importantes êxitos. Difundiram os ideais dos fundadores do socialismo científico, contribuíram para a elevação da consciência política do proletariado. Suas fileiras ampliaram-se. Em diversos pleitos eleitorais alcançaram sucessos consideráveis.(…)
(…) Contudo, aqueles partidos ainda não haviam chegado a assimilar completamente os métodos revolucionários da luta de classes, pois atuaram num período de evolução relativamente pacífica. Sua base ideológica, marxista, não estava consolidada. Além das concepções reformistas subsistentes, a maioria deles não se desprendera totalmente dos preconceitos nacionalistas burgueses (…).
(…) Dessa traição aos interesses cardeais do proletariado e da renúncia aos postulados revolucionários do marxismo nasceu a corrente social-democrata contemporânea. (…)
(…) Tudo que sirva para retirar a classe operária dessa perspectiva, ajuda à burguesia. Não há meio termo. Ou o proletariado segue o seu próprio caminho, da luta sem quartel contra a classe exploradora, ou o caminho da burguesia, da conciliação de classes, da harmonia impossível de interesses entre o capital e o trabalho; ou constrói um partido da revolução ou um partido das reformas sociais que, em si mesmas, não visam à substituição do capitalismo, mas simplesmente aperfeiçoar as leis trabalhistas e melhorar as condições de vida dos explorados.
Nesse contexto, a social-democracia contemporânea apresenta-se como um movimento de caráter burguês no seio do proletariado, tentando esquivar a solução revolucionária. Arma de engodo e divisão dos trabalhadores, tem por base social a aliança de uma parte dos operários (em geral da aristocracia semi-pequeno-burguesa da classe operária) com a burguesia, contra os interesses fundamentais do proletariado. (…)
(…) Em sua atividade, exalta a precária e limitada democracia burguesa, pregando o advento do socialismo através de eleições e do parlamentarismo.”
O texto de João Amazonas deixa claro que, para os verdadeiros marxistas, a social-democracia é hoje um projeto político burguês (e, portanto, à direita no espectro político, ou centro direita). Outros autores veem a social-democracia, até por sua origem, como “centro esquerda”. Mas em ambos os casos, concordam que está no centro e abandonou as principais postulações marxistas, socialistas e comunistas, substindo-as por humanismo, o bom e velho humanismo que as esquerdas combatem com sendo um ranço burguês.
Apesar de tudo que foi demonstrado até aqui, frequentemente a esquerda (não a extrema esquerda) sequestra alguns destes conceitos que definem a social-democracia contemporânea e os usa como iscas para atrair simpatizantes, mas não o fazem por convicção e sim como estratégia de luta. E o pior (para a clareza no debate político) é que muita gente morde a isca.
A GAVETA DA DIREITA
Para abordarmos este tema, é fundamental seguir peneirando o conteúdo ideológico das gavetas pelas teorias que as definem, pelas teses de referência. Aqui, comecemos por Adam Smith, que está para o liberalismo econômico como Marx está para o comunismo e o socialismo. Em sua obra, defende que o liberalismo econômico se caracteriza pela organização da economia com base no individualismo, compreendido aqui como o resultado da iniciativa econômica individual em ocorrência múltipla, como os galos tecendo a manhã no poema do comunista João Cabral de Melo Neto. Tais ações/iniciativas levam a uma total descentralização das decisões econômicas, que se atomizam no maior número possível de indivíduos com a menor interferência possível de instituições ou organizações coletivas. É nesta soma de capacidades individuais, de busca da prosperidade e desenvolvimento econômico ocorrendo simultaneamente em diversas áreas e direções que residiria a capacidade de gerar riquezas. Esta proposição já foi confundida com um elogio da ganância, mas certamente não é. Trata-se da valorização da liberdade econômica e da meritocracia que traria benefícios para toda a sociedade, regulando excessos através da soma de interesses particulares e da concorrência, em uma auto regulação que tenderia ao equilíbrio. No entanto, embora defenda a baixa interferência de governos na economia, defende também que o Estado tem um papel legítimo no fornecimento de bens públicos.
Outro nome de peso nesta gaveta ideológica é John Locke, que tem reflexões importantes sobre a origem e a natureza do conhecimento, sobre o Estado liberal e a propriedade privada. Também formulou um severo questionamento sobre o direito divino dos reis. Para Locke, todos os homens, ao nascer, tinham direitos naturais – direito à vida, à liberdade e à propriedade (no mínimo, a propriedade de sua própria força de trabalho, o que tornava – e continua tornando – a escravidão e a servidão inaceitáveis). Foi para garantir, da melhor maneira possível, que esses direitos naturais se realizassem que os governos foram criados. No caso de um governo que não respeitasse a vida, a liberdade e a propriedade, seria legítimo o povo revoltar-se contra ele e não aceitar decisões arbitrárias.
Estes conceitos evoluíram e deram origem ao moderno estado capitalista (liberal) que teve no governo de Margaret Thatcher uma aplicação radical. Já há alguma distância (temporal) do calor dos eventos, o que permite fazer uma avaliação melhor do que significou aquela experiência.
Em primeiro lugar, seu governo teve início em 1979 após um longo período (30 anos) de predominância das ideias socialistas de gestão que, após o fim da segunda guerra mundial, conseguiram implantar muitas de suas teses na Inglaterra. Ao assumir o governo, Thatcher encontrou uma economia em crise, fortemente estatizada, sindicalismo forte e frequentemente violento, governo inchado e ineficiente, gastos públicos elevados e inflação alta (quase 25% ao ano em 1978). Elaborou um programa rigoroso para inverter este cenário, com elevação dos juros (para reduzir consumo e ajudar a controlar a inflação), ajuste das contas públicas via redução dos gastos governamentais (contas públicas elevadas também pressionam a inflação) e redução da presença do estado na economia via privatização da maioria das empresas estatais. O resultado destas medidas, em um primeiro momento, foi negativo: a economia desacelerou, empresas e bancos quebraram, o desemprego triplicou, os conflitos com sindicalistas foram brutais (de ambos os lados e em todas as acepções do termo). Mas uma vez feitos os ajustes, a Inglaterra, que estava em rápido declínio econômico desde o pós-guerra, voltou a crescer, o emprego subiu, o investimento externo (não especulativo) triplicou. Não foi uma retomada livre de sobressaltos, mas alguns números são importantes: em 1981 o PIB já havia retornado a patamar superior ao de 1979 com a inflação reduzida a ¼ da registrada quando assumiu o governo, e continuou crescendo com inflação em queda até 1989 quando o mundo foi sacudido por uma sucessão de crises. Para quem tiver curiosidade, os números da economia britânica no período Thatcher podem ser vistos no site http://www.economicshelp.org/blog/274/uk-economy/economic-impact-of-margaret-thatcher/
Assim, na Gaveta da Direita vamos encontrar a defesa do estado democrático e de direito (democracia liberal), da livre iniciativa, de menor intervenção do estado na economia (afetando inclusive a qualidade de serviços públicos como saúde e educação, onde os EUA surgem como a maior vitrine negativa), a defesa do livre comércio, do empreendedorismo, da meritocracia, o reconhecimento de direitos e liberdades civis. Pode-se acrescentar algum conservadorismo religioso e uma certa ignorância arrogante, mas, para sermos justos, a ignorância arrogante está presente também nas demais gavetas (no fim, é uma característica humana estatisticamente bem distribuída).
Para alguém que não seja de esquerda, de extrema esquerda ou de extrema direita, a principal crítica que se pode fazer ao que está contido nesta gaveta é a defesa às vezes intransigente e exagerada do estado mínimo, mínimo ao ponto de não prover o que hoje se entende como uma obrigação: saúde e educação de qualidade de maneira universal para a população. Com o crescimento do humanismo, esta postura encontra cada vez menos espaço nos países chamados de “Primeiro Mundo”. Nos demais, sua ocorrência é bastante irregular.
GAVETA DA EXTREMA DIREITA.
A extrema direita, como o nome diz, está no extremo direito do espectro ideológico, mas, como Olavo de Carvalho aponta no artigo citado acima, guarda pouco parentesco com a direita. Podemos dizer mesmo que o principal ponto de contato seja a aversão às teses da esquerda e da extrema-esquerda, embora, para os adeptos da “teoria da ferradura” extrema direita e extrema esquerda tenham mais em comum entre si do que com seus vizinhos imediatos no espectro político.
A extrema direita pode chegar ao poder por meio de golpes (Espanha, Brasil, Argentina, Chile etc) ou via eleitoral (nazismo na Alemanha e fascismo na Itália). Uma vez no poder, rapidamente se transforma em ditadura (mesmo quando continuam ocorrendo eleições) através da desconstrução de valores que encontramos nas gavetas de centro e de direita, como o estado de direito, a democracia (que não se define apenas pela ocorrência regular de eleições), o direito de minorias, a liberdade de expressão e outros “conceitos burguêses” que “atrapalham” o exercício do poder.
Há diferenças importantes entre a ditadura militar brasileira, a chilena, o nazismo e o fascismo (para enumerarmos algumas das ocorrências mais conhecidas) mas, como todo totalitarismo, cometem as mais variadas atrocidades em nome do “bem”, através de expurgos, depurações, eliminação de oponentes políticos e outras mazelas. Fazem parte também (como de resto em qualquer totalitarismo) prisões arbitrárias, controle do judiciário e do legislativo.
Em outro grau e com diferentes características, podemos citar como partícipes destas experiências totalizantes as teocracias, que também podem ser mais ou menos esclarecidas, mas igualmente arbitrárias.
Assim, ao contrário da propaganda promovida por influentes membros das esquerdas e por outros que simplesmente ignoram os conceitos sobre os quais falam, na Gaveta da Extrema Direita vamos encontrar: repudio ao estado democrático e de direito, recusa do livre mercado (em nome de nacionalismos), eliminação de direitos civis, perseguição étnica, autoritarismo, fascismo, nazismo, teocracias e racismos, além de repúdio ao marxismo, ao socialismo e ao comunismo.
CONCLUSÃO
É óbvio que o assunto não se esgota aqui, mas acredito que esta reflexão colabore para que o debate político ocorra de forma mais racional, respeitando “os marcos regulatórios” pensados e construídos através da história. Chamar cada coisa pelo seu nome, sem prestidigitações intelectuais, é o mínimo que podemos fazer para termos um debate de ideias honesto.
POST SCRIPTUM
Dois ou três dias após ter escrito o artigo acima me deparei com um artigo do Professor Ruy Fausto na edição de número 6 da revista Fevereiro que é, este sim, um artigo denso, que vai às minúcias de algumas das questões de abordei levemente aqui (e com uma competência que não tenho). Além disso, exemplifica de forma veemente algumas das imposturas (não do professor Ruy Fausto) que apontei. A origem deste texto foram comentários do professor sobre o livro Uma esquerda que não teme dizer o seu nome de Vladimir Safatle que lhe fora enviado pelo autor. Seguem trechos do artigo e alguns comentários meus sobre eles. Recomendo a leitura inicial do que vai abaixo e depois a leitura do artigo integral.
Título do artigo:
“Na sequência do meu texto “Esquerda/Direita: em busca dos fundamentos e reflexões críticas”, e do seu post scriptum (Como uma resposta a Vladimir Safatle)” por Ruy Fausto, Revista Fevereiro Número 6.
(…) qualquer que seja a seriedade do debate, o principal não está no debate, mas nos textos e na teoria de base; (…) Começo pelos aspectos mais propriamente polêmicos, centrados sobretudo em Uma esquerda que não teme dizer o seu nome. (…) A resposta de Vladimir, embora erudita, na aparência pelo menos, é bastante agressiva. (…) Lá eu apareço (mesmo se não literalmente) como arcaico, também como infantil (isto literalmente), e alguns dos meus argumentos são postos em paralelo com os de gente de extrema-direita…
(comentário meu, não de Ruy Fausto: Vladimir Safatle fez exatamente o que afirmei ser a tática número 1 da esquerda: desqualificou o discurso acusando o oponente de práticas análogas a de críticos da extrema direita. Mas retomemos o artigo de Ruy Fausto).
(…) De que se trata? Ao falar da experiência do século XX, Safatle bate principalmente num tema e num argumento amplamente utilizado pela dupla Zizek/Badiou. A de que uma ideia “precis(a) inicialmente fracassar para posteriormente se realizar” (ETDN, p. 84, cf. p. 62). E de que portanto, é preciso tentar de novo. O tema, de fato, está muito presente em Alain Badiou e Slavoj Zizek. Eles invocam um texto famoso de Beckett, que Safatle utiliza como epígrafe em um dos seus livros. Zizek serve-se do texto para pensar o que seria a situação atual das lutas revolucionárias na sua relação com o passado, isto é, para com o comunismo dito real. Mas o que importa aqui é que, ao apelar ao “falhe de novo, erre melhor”, Zizek acaba estabelecendo com isso, queira ele ou não (na realidade, ele quer), uma espécie de continuidade de fato e de direito entre o totalitarismo maoista-stalinista e as tarefas do presente; o que tem o efeito de limpar, a barra, mesmo se parcial ou contraditoriamente, desse mesmo totalitarismo. De fato, quem diz tentemos “de novo” e “melhor”, mesmo se reconhecendo com isso que houve fracasso, estabelece uma linha de continuidade entre o passado comunista e o que deveria ser a esquerda no presente. Mas, o que escreve Safatle?: “(…) valeria a pena perguntar se aqueles que desqualificam o século XX como era da violência desmedida em nome do novo estariam dispostos a responder a uma questão fundamental, a saber: quantas vezes uma ideia precisa fracassar para poder se realizar? A efetivação de uma ideia nunca é um processo que se realiza em linha reta. Por exemplo, durante séculos, o republicanismo foi considerado um retumbante fracasso. Ser republicano no século XIII significava defender uma ideia que havia apenas produzido catástrofes e o enfraquecimento do Estado. Hoje, dificilmente encontraremos alguém para quem o republicanismo não seja um valor fundamental. Ou seja, o republicanismo precisou fracassar várias vezes para encontrar seu próprio tempo, para forçar o tempo a aproximar-se de sua realização ideal. Isso apenas demonstra como, graças à internalização de seus fracassos, ao fato de ela ter aparecido ‘cedo demais’, a ideia pôde efetivamente se realizar” (ETDN, p. 62, grifo de RF) .
Retomo aqui este post scriptum. Observemos que os textos de referência sobre o republicanismo, como nos demonstra Cícero Romão Resende de Araújo em “A Forma da República – Da constituição mista ao estado”, permanecem atuais e conceitualmente corretos ao refletir e pregar o poder sujeito a regulação que iniba ou controle impulsos autoritários. É certo que se trata de um equilíbrio relativamente frágil, uma “construção civilizadora” que muitas vezes já foi demolida pela barbárie totalizante (mas que renasce pela força de seus fundamentos). Repúblicas e democracias também não são as formas mais ágeis em tempos de guerra ou crises agudas. Estes “defeitos” são reais, mas a comparação de Safatle é mera ignorância (na hipótese benigna) ou picaretagem. Ao fazer esta comparação ele esquece (propositalmente?) o fundamental: as teses que sustentam o conceito de república vão na direção da administração permanente de conflitos e tensões inerentes à atividade humana através de um sistema de distribuição de poderes que atuam de forma independente e complementar ao mesmo tempo. Já as teses que Safatle tem como “missário” não só negam as ideias centrais no conceito de república (que ele muito sonsamente quer fazer crer respeitar) mas também professam o equilíbrio pela força do porrete. A força do porrete não requer muitas explicações, basta olhar para as experiências de totalitarismos do século XX, como Leninismo, Stalinismo, Maoismo, Nazismo e Fascismo, entre outras ainda mais radicais. No entanto, o conceito de República, ou republicanismo, é menos conhecido e exige alguma explicação. Mas antes de entrarmos no conceito de república, acho conveniente evidenciar o erro primário de Vladimir Safatle ao afirmar que “Ser republicano no século XIII significava defender uma ideia que havia apenas produzido catástrofes e o enfraquecimento do Estado”. Como alguém que se diz intelectual e atua nesta área pode “esquecer” as experiências de Esparta e de Roma, por exemplo. Foram fracassos? Em que termos? Comparados com o que? Mas vamos adiante. Para ficar mais claro o engano ou engodo de Safatle, vejamos o que nos diz logo a abertura de “A Forma da República – Da constituição mista ao estado” de Cícero Romão Resende de Araujo: “Este livro é um estudo sobre a forma política. Suas balizas fundamentais são os conceitos de constituição Mista e Estado, ambos associados à longa busca da inteligência política por um padrão adequado de convívio humano: a república. (…) Assim, entende-se a república não como um objeto empírico perfeitamente decantado, mas como um conjunto de práticas no qual seres humanos investidos de um determinado papel, o de “cidadãos”, orientam suas ações para promover certos valores comunitários, entre os quais a liberdade, a igualdade, o império da lei e a própria participação política. (…) Essas práticas nunca são exatamente o que deveriam ser, mas também nunca deixam de remeter a concepções a respeito do que o mundo social é capaz de gerar – ou seja, a visões do campo de possibilidades da ação humana, incluindo a capacidade de realizar os valores a que as práticas visam. No fundo, toda prática constitui uma tensão entre o que é, o que deve ser e o que é possível. Como a tensão ocorre numa certa estrutura de tempo e espaço, seu significado concreto varia de acordo com a concepção dessa estrutura implícita na respectiva forma política (…). De qualquer modo, segurar essa tensão, nunca deixando que ela relaxe e finalmente se reduza à mera acomodação ao que aí estiver, é o que empresta dignidade à forma política. E a república é o nome que se dá a essa dignidade.”
Para fechar a crítica desta comparação infeliz de Safatle, lembro, parafraseando a última frase do parágrafo anterior, que o nome que se dá ao que resulta das ideias do próprio Vladimir Safatle, de Zizek e Bideou é totalitarismo, sem qualquer dignidade. A proposta que defendem, contida no “falhe de novo, erre melhor” pode funcionar para alguém estudando para uma prova, ou se preparando para uma tarefa, em departamentos de pesquisa e desenvolvimento ou até como frase de incentivo em curso de autoajuda, mas aplicada às causas defendidas pelo trio, nada mais é que uma tara autoritária de funestos resultados a cada tentativa. Há uma variante deste conceito utilizada pelos rappers americanos para justificar ações criminosas de toda ordem: “fique rico ou morra tentando”. É boçal, mas não é covarde. Mas a turma de Vladimir Safatle, Alain Badiou, Slavoj Zizek e congêneres certamente não gosta deste tal “morrer tentando”, o negócio deles é “matar tentando” (o que lhes falta é a oportunidade, felizmente).
Artigo de Paulo Falcão
Segue o link para o fundamental artigo de Ruy Fausto http://www.revistafevereiro.com/pag.php?r=06&t=07
NOTA – Para quem deseja se aprofundar no tema, sugiro este artigo que analisa o verbete DEMOCRACIA do “Dicionário de Política” de Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquin
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Comentários contra e a favor são bem vindos, mesmo que ácidos, desde que não contenham agressões gratuitas, meros xingamentos, racismos e outras variantes que desqualificam qualquer debatedor. Fundamentem suas opiniões e sejam bem-vindos.
Great post thank yyou
Um gráfico educativo:
EVOLUÇÃO DO PIB DO REINO UNIDO DESDE 1960.
http://migre.me/wA05y
Uma boa avaliação do período Thatcher:
Olá. Gostaria de citar seu artigo em minha dissertação de mestrado. Por gentileza, seria de grande ajuda se você me passasse o nome do autor e outros dados. Assim, a citação ficaria bem completa.
Jean, os dados do autor são:
Formado em Comunicação pela FAAP – Fundação Armando Penteado e autodidata em Teoria Política.
Curso na USP, como ouvinte, de Análise Estrutural da Narrativa, com o professor Edward Lopes, em uma turma de doutorado.
Atua na área de criação e planejamento publicitário e gestão de empresas.
Mantém o blog http://www.questoesrelevantes.wordpress.com
Parabéns, uma verdadeira aula! Com humildade e para provocar o debate, discordo em alguns pequenos pontos. Resumidamente:
1 – As gavetas existentes são:
Extrema esquerda (Totalitária): comunismo-marxismo
Esquerda (Totalitária):petismo, socialismo, nacional-socialismo, facismo
Centro-esquerda (democrática): Social-democracia(PSDB,PartidoDemocrata
americano, Partido Trabalhista britânico)
Direita (democrática): liberais-conservadores (Partido Republicano americano, Partido Conservador britânico)
Extrema direita (Totalitária e anti-revolucionária): ditaduras de Pinochet, Franco.
Caro Cidadão, neste artigo, propositalmente, evitei citar partidos políticos. Procurei centrar na teoria de base. Mas obrigado pela contribuição.
Só pra dizer que li os artigos que você me recomendou, um especialmente me agradou acerca da meritocracia. Acho inteligente a tua argumentação, e já tinha pra mim que a idéia meritocrática não devia começar como tu disse “na chegada mas na partida”. Mas queria saber qual a tua postura diante de uma argumentação sociologica sobre isso, pois eu sei que eles tem uma teoria estruturalista sobre isso.( que a sociedade começa de tal forma e se não intervirmos sobre isso então…) acho que a ideia da esquerda se move muito mais dentro destas perspectivas, mas você talvez considere pseudociência. Se puder me dizer agradeço
Cassio, o que você chama de “argumentação sociológica”, na verdade é uma argumentação de viés marxista, prisioneira de dogmas do século XIX.
Vários países encontraram boas soluções para esta questão sem precisar abolir o capitalismo ou a democracia liberal, entre eles Noruega, Finlândia, Suécia, Austrália, Nova Zelândia, Canadá e até mesmo a Alemanha.
Espero ter ajuado.
O espectro político é um assunto para debate, mas o problema do seu espectro é que você restringiu a esquerda ao marxismo e esse ao totalitarismo.
Você simplesmente se esqueceu do anarquismo. Desde a primeira Internacional quando Bakunin e o seu socialismo libertário segundo as palavras do mesmo foram expulsos em favor de Marx e seus partidários do socialismo autoritário segundo as palavras de Bakunin que a divisão entre socialismo científico e anarquismo se fez clara no mundo socialista. Bakunin e Proudhon são grandes figuras do anarquismo. Orwell é um escritor dessa vertente do socialismo. E hoje em dia Noam Chomsky é um grande expoente da mesma.
Então a posição clássica anarquista não está em nenhum lugar para ser encontrado em seu espectro.
Depois é extremamente discutível se stalinismo ou mesmo lennismo é mesmo marxismo. Sim, Marx falou em ditadura do proletariado, mas é preciso ter em mente a época do escritor. Assim como não se pode ridicularizar Hobbes ou Maquiavel por defenderem o absolutismo como se faria hoje com uma pessoa fazendo o mesmo ponto, não dá para falar de Marx sem considerar que Marx nunca viu o Estado se tornar poroso a demandas populares como ele se tornou, nunca viu a democracia que temos hoje, e como Malthus ele é um dos teóricos do apocalipse que entendeu que a qualidade de vida do trabalhador pioraria porque Marx também não esteve no século em que o padrão e qualidade de vida das massas tiveram o aumento mais radical que foi o século XX.
Rosa Luxemburgo foi uma marxista que falou contra a revolução Russa desde Lênin.
O grande problema a meu ver com o seu espectro político, além de ignorar o anarquismo e ser falho em nuançar o marxismo, é não considerar a social democracia como esquerda. Porque daí a conclusão que temos que tirar é que há pouca, se alguma, esquerda na maior parte do mundo. Certamente não há esquerda nos EUA, o que é uma declaração que um republicano riria alto porque na mente dele há sim esquerda, que é composta pelas pessoas com quem ele discorda em quase tudo, mas mesmo na Europa e em países como o Brasil não haveria muito de uma esquerda restante se a social democracia é removida deste lado do espectro, seria tudo centro, o que é um tanto estranho. Remover a esquerda não mudaria o fato de que há sim ideologias em oposição nos países democráticos. Claro que a política se tornou mais uma batalha entre Centro-Esquerda e Centro-Direita, porque assim como não há mais o desejo ou poder da esquerda em suplantar o sistema econômico atual com uma revolução, também não há mais o desejo ou poder da direita de abandonar o Welfare State, mas mesmo assim é estranho não se aceitar o reformismo social democrata como sendo esquerdista, já que ele é basicamente o único tipo de esquerda que realmente ganhou eleições sistematicamente no mundo ocidental.
Ferraro, em primeiro lugar, obrigado por levantar estas questões.
Considero o anarquismo a mais bela das utopias, mas sua relevância política é praticamente nula a partir da segunda guerra mundial. Exige tal grau de conscientização política e humanista que o inviabiliza. Talvez, em um futuro que ainda não está no radar, venha a ser resgatado. Assim, o artigo se restringiu às principais “gavetas ideológicas”.
Quanto a eu ter restringido a esquerda ao marxismo e esse ao totalitarismo, lembro que não estou sozinho. Bakunin chegou à conclusão semelhante e previu que uma vez no poder os líderes marxistas iriam tomar o lugar da classe dominante. Foi o que aconteceu e é o que acontecerá a cada nova tentativa, pois os princípios são totalitários, embora falem em liberdade.
Quanto à Rosa Luxemburgo, gosto da autora e de alguns de seus conceitos mais famosos, mas penso que, embora se declare marxista, esteja mais ligada às ideias libertárias de Proudhon e Bakunin. O marxismo é essencialmente não libertário. Explico melhor este último ponto no artigo A ESQUERDA E OS CAMINHOS QUE SE BIFURCAM que pode ser lido aqui http://goo.gl/bQL5kY
Quanto à Social Democracia ser de esquerda ou e direita, penso com a seguinte lógica: se uma tendência política tem a democracia (liberal) como princípio, é de direita. Se tem a democracia como ferramenta de luta política e tomada do poder, é de esquerda. As duas só podem ocorrer em democracias liberais, mas enquanto a primeira trabalha para preservá-la, a segunda trabalha para superá-la. E uma vez superada a democracia, estamos no território da ditadura. Como o artigo lembra, a social democracia surgiu no território da esquerda, mas suas experiências bem sucedidas são todas no território da direita. Penso que isto responde também a afirmação final de seu comentário.
“Considero o anarquismo a mais bela das utopias, mas sua relevância política é praticamente nula a partir da segunda guerra mundial. Exige tal grau de conscientização política e humanista que o inviabiliza. Talvez, em um futuro que ainda não está no radar, venha a ser resgatado. Assim, o artigo se restringiu às principais “gavetas ideológicas”.”
Eu tendo a pensar o mesmo, mas essa opinião não é motivo para se desaparecer com o anarquismo. Por ser socialismo, só que de uma vertente diferente que o marxismo, é estranho que se mencione socialismo e não o anarquismo. Em relação a relevância, bolcheviques também não tem sido terrivelmente relevantes desde a Queda do Muro de Berlim ou mesmo depois da Segunda Guerra Mundial em países democráticos.
“Quanto a eu ter restringido a esquerda ao marxismo e esse ao totalitarismo, lembro que não estou sozinho. Bakunin chegou à conclusão semelhante e previu que uma vez no poder os líderes marxistas iriam tomar o lugar da classe dominante. Foi o que aconteceu e é o que acontecerá a cada nova tentativa, pois os princípios são totalitários, embora falem em liberdade.”
Sim, essa era a opinião de Bakunin e a razão do conflito entre ele e Marx que terminou com o Bakunin e seus partidários expulsos da Primeira Internacional. Eu concordo com Bakunin, mas mesmo assim quando alguém está definindo termos e desenhando um espectro político é importante que se deixe os outros definirem suas ideologias e não as definir por eles. Marxistas discordam da asserção de Bakunin e possuem em mente de que o que aconteceu no dito socialismo real não foi realmente socialismo, mas sim uma deturpação do mesmo. A menos que alguém me diga que favorece o stalinismo eu não assumo que a pessoa é favorável a um regime totalitário. Parece-me que pouquíssimos socialistas nos dias atuais o são.
“Quanto à Rosa Luxemburgo, gosto da autora e de alguns de seus conceitos mais famosos, mas penso que, embora se declare marxista, esteja mais ligada às ideias libertárias de Proudhon e Bakunin. O marxismo é essencialmente não libertário. Explico melhor este último ponto no artigo A ESQUERDA E OS CAMINHOS QUE SE BIFURCAM que pode ser lido aqui http://goo.gl/bQL5kY”
Eu li o seu texto e vi o vídeo de Chomsky e como sempre ele faz ótimos argumentos. Nele ele diz que Lênin representava uma ala direitista do movimento e que os marxistas heterodoxos como Rosa Luxemburgo foram críticos da revolução que estava acontecendo na Rússia. Faz sentido. Ele diz que a razão das críticas era que os marxistas logo perceberam que o poder na Rússia estava sendo concentrado por uma vanguarda e que os trabalhadores não estavam ganhando controle de nada. Socialismo é por definição o controle social dos meios de produção. Se os trabalhadores não controlam seus locais de trabalho e eles não controlavam na URSS e também não controlam o Estado e eles também não o controlavam na URSS então faz sentido que um marxista se levante para falar contra tal regime, daí Rosa Luxemburgo ser uma marxista e uma crítica da URSS desde a sua concepção.
Há várias críticas a se fazer ao Marx, lembrando que ele falou quase nada de socialismo e dedicou o seu tempo a estudar o capitalismo, mas daquilo que ele falou a noção da ditadura do proletariado é em si problemática e há algo contraditório em se afirmar a inevitabilidade histórica das mudanças no modo de produção e ao mesmo tempo ser um ativista político clamando por uma revolução e tomada de poder, entretanto, Marx não esteve liderando a Revolução de 17 e dado que marxistas na época entendiam o vanguardismo leninista como algo errado eu não vejo porque afirmar que marxistas atuais não podem entender o mesmo.
A teoria também pode evoluir e se modificar. Alguém pode se identificar como marxista por entender que Marx estava correto em sua análise do sistema capitalista e por acreditar em uma solução socialista para a civilização e ao mesmo tempo rejeitar a ideia de uma ditadura do proletariado em qualquer maneira que ela seja formulada.
“Quanto à Social Democracia ser de esquerda ou e direita, penso com a seguinte lógica: se uma tendência política tem a democracia (liberal) como princípio, é de direita. Se tem a democracia como ferramenta de luta política e tomada do poder, é de esquerda. As duas só podem ocorrer em democracias liberais, mas enquanto a primeira trabalha para preservá-la, a segunda trabalha para superá-la. E uma vez superada a democracia, estamos no território da ditadura. Como o artigo lembra, a social democracia surgiu no território da esquerda, mas suas experiências bem sucedidas são todas no território da direita. Penso que isto responde também a afirmação final de seu comentário.”
Se não me engano não houve um país democrático que se tornou uma ditadura do socialismo real. Cuba, Rússia, China, e os outros países eram todos países que vivenciam outros regimes autoritários antes do autoritarismo do partido comunista.
A lógica de alguns dos primeiros partidos socialistas, que então se chamavam de Sociais Democratas, era levar a sociedade ao socialismo através do voto, e para outros era sobre possuir um palco para angariar apoiadores para a revolução, mas desde o início do século XX que tais partidos abandonaram suas pretensões.
A sua divisão quanto ao regime político parece-me estranha. Eu sempre tive em mente e sempre foi o que percebi como sendo a divisão mais tradicional da ciência política que a divisão do espectro entre esquerda e direita era econômica, com uma exceção que seria o fascismo que se faria de direita por causa de uma série de caraterísticas como o conservadorismo e o horror a crença de que todos os Homens são iguais ou merecem os mesmos direitos. Na minha visão existe direita autoritária como Pinochet e há direita democrática como um Republicano na Casa Branca nos EUA. Há esquerda autoritária como um dos regimes socialistas reais e há esquerda democrática como vemos no Uruguai e como o governo do Partido Operário Social-Democrata da Suécia ou do Partido Socialista da França.
A defesa da democracia como forma de nos organizarmos politicamente parece ser um ponto que atravessa o espectro porque é simplesmente a única forma de haver confronto sem violência.
Eu não vejo o ponto de se afirmar que democracia é de direita. Houve um tempo em que a discussão era entre absolutismo e democracia, mas isso foi antes da esquerda e direita atual, e nos países democráticos houve e há intensos debates sobre como organizar a política, economia e cultura da sociedade, o fato de que estes debates ocorrem em uma forma democrática de política não me parece suficiente para classificar seus atores como sendo de direita. Democracia é o ringue em que os lutadores lutam, mas não um lutador em si. Ainda vão duas pessoas para a arena para espancarem um ao outro.
É extremamente bizarro e oposto ao que se fala na mídia e nos círculos de discussão política tradicionais, e até mesmo na academia, considerar toda a social democracia como direita e dar a esquerda como praticamente inexiste. Em geral a social democracia é pelo menos classificada como Centro-Esquerda, o que pode ser visto como parte da esquerda.
Veja os EUA, por exemplo, por sua definição não há esquerda nos EUA. Os republicanos discordariam de você, eles acham que o Obama é comunista sendo que o cara é um democrata corporativo e centrista, mas existe uma ala realmente progressista no partido democrata formada por gente como Bernie Sanders, Elizabeth Warren e Alan Grayson que são considerados esquerdistas, Sanders que está concorrendo a primária democrata contra Hilary Clinton para presidente se considera um socialista, mas um democrata socialista, que é basicamente o que entendemos por social democrata. Para o americano comum e para o típico republico essas pessoas são de esquerda. Será que o Partido Operário Socialista da Suécia não é de esquerda e nem nunca foi? O Partido Trabalhista da Inglaterra na época de Clement Attlee? O Partido Socialista da França? Ninguém? Então você acha que todo o debate e discussão são entre diferentes direitas, certo? Mas então porque não chamar a direita social democrata de esquerda e a direita não social democrata de direita mesmo e facilitar as coisas? Chame o socialismo, todo ele, de marxistas a anarquistas, de extrema-esquerda, não o defina como totalitarismo, permita os marxistas se definirem e pronto, você tem um espectro político muito mais exato.
Além do mais sempre me parece que esquerda e direita no vocabulário político ordinário é algo relativo que varia de país e época. E uma política em um lugar pode ser vista de esquerda e em outro como direita. Nos EUA a criação de um sistema universal público de saúde é algo da esquerda enquanto no Reino Unido o NHS (o SUS deles) é aceito por todos os partidos como fato dado. No Brasil reforma agrária é coisa de esquerda, e embora tal coisa seja uma reivindicação clássica da esquerda, tanto a Coréia do Sul quanto o Japão fizeram reformas agrárias sob governos conservadores como parte do processo de modernização deles.
Ferraro, penso que nossa maior divergência está no fato de que não reconheço no anarquismo relevância para a esquerda da segunda metade do século XX para cá. 90% ou mais do que a esquerda pensou ou escreveu tem origem no marxismo.
Ou seja, quando se fala em esquerda hoje em dia, fala-se basicamente em marxismo. Não conheço movimento político ou organização relevante de viés anarquista.
Quanto a não ter havido um país democrático que se tornou uma ditadura do socialismo real, lembro alguns casos em que a tentaviva se deu: a Nicarágua em sua primeira eleição pós-ditadura; a Venezuela de Chávez e seu socialismo do século XXI; e o Equador de Rafael Correa. Nestes a democracia liberal acabou. O que se tem hoje é uma pantomima.
A Bolívia não está muito longe deste caminho.
Mas repito: quem tem a democracia como valor fundamental, não é de esquerda. Como você andou lendo e comentando outros artigos do blog, penso que talvez goste deste outro, que esclarece melhor este último ponto: DEMOCRACIA SOCIALISTA:
http://goo.gl/k8X4C9
Eu li o seu outro artigo e o mesmo ponto sobre o qual discordamos é repetido. Nós discordamos na limitação da esquerda ao socialismo e da limitação do socialismo ao marxismo e do marxismo ao totalitarismo.
Eu já expliquei a minha posição, mas repito que as suas gavetas são muito tendenciosas e por isso não podem ser levadas a séria como indicação de como compartilhar o espectro político, tanto que muita gente que pensa ser de esquerda comentou aqui reclamando. Você precisa deixar os outros se definirem e definirem as suas ideologias, o que você pensa delas é para ser debatido depois.
No início do texto você começa usando uma comum diferenciação entre esquerda e direita para dizer que ela é extremamente tendenciosa para a esquerda e que a batalha já é definida no espectro político, mas depois você faz a mesma coisa com as suas gavetas, já que você define a batalha porque a exceção de alguns poucos indivíduos ninguém deseja mais viver sob um regime de inspiração stalinista.
Há socialistas de todas as formas e sim democratas também. Pode ser que se queira um mercado com empresas controladas por trabalhadores que surjam espontaneamente como a Mondragón na Espanha. Ou que a sociedade decida implantar algum tipo de socialismo ainda não visto de forma democrática através de seus representantes e participação direta.
E em relação ao anarquismo, não há partidos, mas há muitos aderentes ao mesmo. Pense em Chomsky e quantas pessoas compartilham de sua visão.
Enfim, eu já vi você se declarando social-democrata. Eu também sou um social-democrata e poder me dizer de Centro é extremamente confortável, já que posso acusar todo mundo que não partilha de minha ideologia de serem fanáticos perigosos e talvez eles sejam, mas dentro do mundo atual, onde o que se entende por esquerda e pode ganhar eleições aceita a economia de mercado, e o que se entende de direita e pode ganhar eleições aceita o Welfare State, parece-me que há mais é uma batalha entre uma social-democracia de esquerda e uma social-democracia de direita, apesar de que a direita parece menos disposta a aceitar o Welfare State do que a esquerda o mercado, sendo que a primeira coisa ocorre por simples razões pragmáticas.
E eu realmente quero enfatizar o ponto de que a divisão entre esquerda e direita na medida em que haja uma deve ser econômica e não política. A democracia é uma arena da qual há vários resultados diferentes que podem ser produzidos.
Ferraro, o artigo reconhece que é esquemático, que apenas tenta organizar melhor os vários discursos que ouvimos diariamente.
Penso que um bom critério para dirimir dúvidas é o seguinte: se a pessoa considera a democracia liberal como um valor fundamental, como uma conquista da civilização, ela terá maior afinidade com o que descrevi como conteúdo das gavetas de centro e de direita.
Quem já cansou de democracia e pede intervenção militar e outras loucuras, é de extrema direita.
Quem endossa as teses do Foro de São Paulo, considera a Venezuela uma democracia e Cuba um bom medelo, está nas gavetas de esquerda e extrema esquerda.
Abraço.
Desculpe, mas gostaria de entender o que te levou a classificar desta forma a “extrema Direita”, porque, como você mesmo disse, ela não se parece em nada com a direita, se aproximando mais da extrema esquerda.
O Nazismo e o Fascismo foram movimentos essencialmente socialistas (pelos valores praticados, como o controle estatal dos meios de produção, embora nem sempre com a expropriação deles, o controle cultural com a proibição e queima de livros, etc.) e totalitários (perdão pela redundância), e embora a esquerda tenha sido EXTREMAMENTE bem sucedida em rotulá-los com a direita, você ao mesmo tempo que reconhece que eles não guardam semelhança com a direita, mas os classifica como EXTREMA direita.
Outro ponto: você pensou em usar o Diagrama de Nolan para a classificação do espectro político-ideológico? Me pareceu que seu objetivo foi ampliar um pouco os conceitos para expôr que o espectro político é muito mais amplo, plural e complexo do que os propagandistas de esquerda querem fazer parecer, mas quando se usa um único eixo para o espectro político (esquerda X direita), me parece fazer muito mais sentido usar como dimensão do eixo o grau de participação ou controle do estado na vida das pessoas. Aí teríamos os comunistas na extrema esquerda e os anarcocapitalistas na extrema direita, e realmente a ocupação do eixo seria mais antagônica quanto mais distante tivermos dois lados que estamos comparando.
Gostaria que respondesse a essas minhas dúvidas. No mais, apesar da discordância com a “extrema direita”, ótimo artigo.
Jeferson, o artigo se propôs a trabalhar com os conceitos mais tradicionalmente utilizados para definir as “gavetas ideológicas”. O Nazismo e o Fascismo não são os únicos exemplos de “extrema direita”, que também comporta outras ditaduras. Quanto às semelhanças com a extrema esquerda, há inclusive a citação da “teoria da ferradura”.
Quanto ao Diagrama de Nolan, conheço mas o acho ainda mais esquemático que a divisão tradicional. Mas a ideia do artigo era, digamos assim, “organizar a bagunça” e permitir novas reflexões a partir daí.
Obrigado pelos comentários. Certamente acrescentaram informação a este painel.
Coitado do autor e do Riobaldo Antunes que dizem que isso não é possível de ser refutado logicamente. Quando analisamos algo, temos de lidar com a essência e não com a aparência, com o acidente. Desta forma, só há dois lados, esquerda e direita, ou se é contra a exploração do homem pelo homem ou se é a favor, não há outro lado, por isso não existe centro, é a regra do terceiro excluído.
Ricardo da Mata, seu comentário é particularmente interessante porque, ao negar o teor do artigo, na verdade o reafirma.
Veja que curioso:
1) Você fala que é fácil refutar logicamente o artigo, mas não o faz.
2) A frase “Quando analisamos algo, temos de lidar com a essência e não com a aparência, com o acidente” só faz algum sentido se estiver se referindo às tentativas fracassadas de implantar a agenda de esquerda. É uma versão delirante e de negação da realidade do conceito “falhe de novo, erre melhor” de Zizek.
3) Quando diz que só há dois lados, apenas deixa claro que pertence ao grupo intelectualmente simplório descrito no início do artigo.
4) Não explica como se dará o milagre da conversão do Homem plural, livre e reinvidicador em “Homem Cordato” ou como imaginem chamar este Homem Mítico que emergirá com a “consciência de classes”. O artigo fala deste tópico assim: “A ideia subjacente de justiça social que emerge de suas teorias é a construção de uma sociedade igualitária pelo convencimento do “proletariado” e pela eliminação física de quem se oponha (proletário, correligionário, burguês, intelectual etc. – neste quesito eles têm preferências, mas não preconceito). No fim, é a persuasão que “só brota em ponta de cano e em brilho de punhal puro” cantada por Milton Nascimento na belíssima música Canto Latino, dele e Ruy Guerra (e que ecoa a convicção proclamada por Mao-Tsé Tung de que “o poder brota do cano de um fuzil”).
Obrigado por colaborar com exemplos práticos, mesmo que a contra gosto, da tese em discussão.
Eu o refutei usando uma coisa que se chama categoria. Quem diz que há dois lados não sou eu, nem você, nem o Zezinho da esquina, mas sim a objetividade da lógica formal (procure conhecer…). Não foi ela que foi chamada pelo simploriozinho do face? Então… Mas continuem na luta linda de vocês para tornar o mundo o que ele exatamente é.
Ricardo, é muito curioso o caminho que percorre isto que você chama de lógica.
O artigo faz uma auto-ironia ao chamar a atenção para o fato de que a divisão em 5 gavetas é uma simplificação, por um motivo que a esquerda tem sérias dificuldades em compreender: o homem é plural, é livre e múltiplo. Mas você insiste: há apenas dois lados, que você certamente vê como o certo e o errado, como o justo e o injusto.
Esta é justamente a chave para compreender porque o sonho socialista está fadado a fracassar sempre: para que dê certo precisa eliminar a individualidade do desejo, precisa que todos concordem em abrir mão de liberdades pessoais em nome de um coletivo mitológico. É em nome da construção desta pasteurização dos desejos, desta homogeinização dos quereres que as experiências socialistas produzem mortos em escala industrial.
Rsrsrsrs pura retórica e relativismo… Não adianta perder meu tempo, mas vamos lá: Direita e esquerda nada têm que ver com homem ser plural e blá blá blá. Têm a ver com um sistema de um lado que usa a maioria para gerar lucro para uma minoria, o que é imoral, ou outro que nunca existiu, mas que obviamente pode ser implantado, no qual todos trabalharíamos para sociedade funcionar, assim como é hoje, porém não para 1% do mundo. Socialismo não tem nada que ver com supressão de liberdades nem transformar todos em iguais, isso aí é manipulação reacionária e desonestidade intelectual. Socialismo é antes de tudo liberdade e capitalismo é isso que vemos hoje, altas horas de trabalho para baixos salários, o que massacra tanto nosso corpo quanto nossa alma.
Ricardo, a vida não é justa, mas é menos injusta hoje do que já foi em qualquer outro tempo da história das sociadades humanas. O que você deseja é um mundo melhor, todos já entenderam, mas as tentativas de colocar seu sonho em prática terminaram sempre em pesadelos reais. Que tal aprender com os erros? Este caminho não tem futuro.
O que considero altamente equivocado aqui é considerar a Venezuela uma ditadura socialista. O próprio Chávez colocava que Castro para ele ateu, já ele crente e admirava John Kennedy, etc. Venezuela é governada por social-democrata, o bolivarianismo é social-democracia, é uma democracia liberal em que Capriles e seus seguidores controlam parte do estado (governos de província, etc). Nem sequer reforma agrária chegou a fazer, ainda, apenas começou, timidamente…
Lucemiro, o que já não é democracia, é ditadura, por definição. No caso venezuelano, uma ditadura de inspiração socialista, ou como dizia Chávez, a fundadora do socialismo do século XXI. Para entender melhor PORQUE A VENEZUELA NÃO É UMA DEMOCRACIA, leia:
http://goo.gl/E1hsjA
Um pouco mais sobre a política de Margaret Thatcher em debate com deputados de oposição. Vale à pena assistir: https://www.youtube.com/watch?v=YIkNJyIE0rA
Realmente excelente esse artigo. Existem pessoas que se dizem defensores da democracia e são entusiastas do Fidel Castro, Maduro, entre outros ditadores. Loucura total ou hipocrisia total? Isso sim, soa muita incoerência. São defensores da democracia até chegarem no poder, uma vez estando lá se tornam verdadeiros opressores. Como vem acontecendo no Brasil, aqueles que discordam da esquerda ou do governo são xingados de fascistas, reacionários, direitistas, nazistas, fundamentalistas e mais adjetivos absurdos. Não conseguem enxergar que eles são os anti-democráticos, querem calar, difamar, caluniar, desconstruir qualquer pessoa ou argumentos que discorde de suas opiniões.
Vejam a diferença entre a política de Esquerda e de Direita no meu Blog, expliquei a bipolaridade através de gráficos: http://esquerdaxdireita.blogspot.com.br/
Perdi meu tempo, um dos piores textos que li ultimamente… resumindo: pega Kant, Bobbio, um toque de pós modernidade, e uma porção generosa de fanatismo religioso, bate no liquidificador, defeca em cima e dá nisso!
São tantas as bizarrices, amalgamas de matrizes diferentes que nem mesmo parece ter sido refletida, que seria possível escrever um livro mostrando toda a inconsistência, mas seria uma perda de tempo. Não apresente isso em uma banca, a não ser que a banca esteja bêbada.
Roberto, seu sarapatéu crítico está beirando o delírio. “porção generosa de fanatismo religioso” onde? Em que parágrafo? Em que linha? O fato é que você não foi capaz de apresentar um único argumento concreto contra qualquer dos pontos abordados no artigo.
No debate de ideias, o caminho que você escolheu é o dos preguiçosos, que bradam ofensas afetando alguma erudição. É um mau caminho. Pior: é um beco sem saída.
Citou Olavo de Carvalho como “lógico e elegante”, perdeu meu respeito.
Caro Gilberto, da próxima vez que se propuser a fazer graça com sua crítica, convém prestar atenção na sintaxe. O sujeito da oração é “o texto” e não “Olavo de Carvalho”. Isto faz toda a diferença. O “texto” atende a todas as acepções das palavras “lógica” e “elegância”, as da academia e as do senso comum. Mas compreendo seu comentário, tanto que no blog há um post específico para as pessoas como você, que “não leram e não gostaram”: DÚVIDA EXISTENCIAL: SER DE ESQUERDA É SER NAZISTA? OU: A TURMA QUE NÃO LEU E NÃO GOSTOU.
Muito bom o seu texto, me ajudou muito a entender melhor as diferenças. Nunca fui apegado a política, mas nos últimos anos estou tentando entender porquê identifico com valores de esquerda e valores de direita, e ao mesmo tempo, acho algumas idéias em ambos os lados ridículas, e dessa forma não consigo tomar uma posição ideológica. Eu achava que equivocadamente que uma postura secularista seria de direita, por achar esse modelo mais progressista, e ao mesmo tempo não entendia como a direita, que se diz progressista, é tão conservadora e apegada a valores morais da idade média…
Republicou isso em questões relevantes.
Li seu artigo e ouso emitir a seguinte opinião, Paulo Falcão, Esquerda x Direita, mesmo sendo colocadas nas cinco gavetas que você propõe, ainda não toca na questão de fundo. E a questão de fundo, em um mundo dividido em classes sociais, é: o programa de governo reproduz as relações de produção ou transforma-revoluciona as relações de produção. Nós, socialistas livres, obviamente lutamos pela transformação das relações de produção, garantindo plena liberdade ao ser social, extinguindo-se, contudo, a liberdade de explorar e a liberdade de oprimir, própria do capitalismo-burguês e do “socialismo” stalinista.
Estas palavras plenas de boas intenções podem funcionar como uma oração, como desejo, mas como ciência política são inúteis. Vocês não apontam uma única inconsistência do texto e nem explicam como se dará esta mágica unificação de desejos da humanidade. Lembra um pouco o estereótipo da entrevista de Miss em concursos de beleza, que sempre dizem desejar a paz mundial. Os dois conceitos estão na mesma categoria de pensamento.
Você não contra-argumentou, Paulo Falcão. Claro que você tem o direito de não concordar com a transformação-revolução das relações de produção. E aí, tem gente na gaveta da extrema-esquerda e da esquerda que ajuda indiretamente a reproduzir as relações de produção capitalistas, vide os stalinistas, vide os ultra-esquerdistas, vide os Black Blocs (com seus métodos que afugentam as massas trabalhadoras do movimento de transformação da sociedade). Tem gente na gaveta do centro, o PT, que ajuda a reproduzir as relações de produção capitalistas, já que não se dispõe a enfrentar o capitalismo. Tem gente na gaveta da direita, PSDB-DEM, cujo projeto de vida é reproduzir as relações de produção. E tem gente nazi-fascista na gaveta da extrema-direita, cujo objetivo máximo de seus sonhos doentios, é reproduzir as relações de produção exploradoras-opressoras capitalistas. Obviamente que tocar na questão de fundo incomoda à ciência política idealista. Claro, para a ciência política idealista, cujo objetivo é servir à ideologia burguesa, reproduzindo as relações de produção, não importa em que gaveta esteja sua POLÍTICA, nossa fala incomoda mesmo muito. De que lado você samba, Paulo Falcão? Do lado da reprodução das relações de produção capitalistas? Ou do lado da transformação-revolução das relações de produção capitalistas? Se eu e você vivêssemos na época do feudalismo, eu dirigia-lhes a seguintes perguntas: De que lado você samba, Paulo Falcão? Do lado da reprodução das relações de produção feudais? Ou do lado da transformação-revolução das relações de produção feudais?
Gílber, vamos por partes.
Primeiro você diz que eu não contra argumentei, sendo que estamos falando de um longo artigo pleno de argumentos. Seu comentário anterior não continha nenhuma substância técnica ou teórica, nem apresentava questionamentos. Era, como disse, no máximo uma forma de oração por um mundo melhor.
Agora você enumera alguns fatos que também não contradizem o artigo e termina com uma “desafiadora” questão: “Obviamente que tocar na questão de fundo incomoda à ciência política idealista. Claro, para a ciência política idealista, cujo objetivo é servir à ideologia burguesa, reproduzindo as relações de produção, não importa em que gaveta esteja sua POLÍTICA, nossa fala incomoda mesmo muito. De que lado você samba, Paulo Falcão? Do lado da reprodução das relações de produção capitalistas? Ou do lado da transformação-revolução das relações de produção capitalistas? “
A resposta é simples: sambo no bloco da democracia, também conhecida como democracia liberal. Ao contrário de você que criou uma tese metafísica e utópica para chamar de sua (que não consegue explicar em termos práticos), abraço a experiência acumulada de mais de um século que produziu os maiores avanços em termos de geração de riqueza e bem-estar social. Como você refuta a produção de conhecimento alheia em prol de sua própria tese do socialismo livre, é provável que despreze também o aclamado (inclusive pela esquerda) “Dicionário de Política” de Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino, que citei no artigo, e diz ser a Democracia Liberal a única que reconhece e garante alguns direitos fundamentais, como são os direitos de liberdade de pensamento, de religião, de imprensa, de reunião, etc.
Em outro artigo, analiso detidamente o verbete DEMOCRACIA deste dicionário. Acredito que possa ser útil para você entender melhor o pântano em que está afundando:
O usuário socialistas livres foi simplesmente perfeito. Abra um pouco mão do ego, caro Autor do texto “Esquerda x Direita” e perceberá que, olhando imparcialmente, lhe foi dada uma bela oportunidade de crescimento e reflexão. Você não esteva aberto a responder honestamente às perguntas formuladas. às vezes o ego cega a gente, camarada. Acontece comigo, acontece contigo, acontece conosco. Temos uma vida para evoluir nesse aspecto. Agora, falando em ego, vc foi literalmente distruido na argumentação com o usuário Socilalistas livres. tu chegou a ser até meio infantil com tua resposta e ainda fala que os outros estão a fazer orações hsuahsua patético, bro…
Elizio Ferreira, é curiosa esta coisa de ver com os olhos do coração e não da razão. Você está vendo argumentos onde há apenas manifestação de desejos. Para simplificar: não dá para querer que todos possam comer chocolate e ser contra a plantação de cacau. É o caso dos socialistas livres e suas teses descoladas da realidade. Não dá para ser contra direitos individuais e a favor da liberdade. É uma questão de lógica bem evidente. Como os socialistas não entendem esta lógica simples e objetiva, todas as experiências práticas que tiveram terminaram em totalitarismo. Sem exceção.
porra cara eu li e concordei com os seus argumentos, mas é a coisa mais louca, você acha que não temos mias opção de mudança? não quero ouvir como você é culto quero saber sua opinião pessoal. como é que voce dorme a noite por que na verdade mesmo vendo todos os erros do socialismo ainda procuro algum resposta. talvez tudo acabe um dia e vivamos e um unica metrópole super evoluída e ai não vai ter classe por que não vai ter nem humanidade pra se matar. Eu não acredito que não sinta uma fisgada no peito quando olha essa sociedade se estraçalhando. Desculpe minha pouca erudição, mas acho que alguém precisa dizer isso francamente, senão ficam falando Olavo e perdendo o rumo.
Cássio, eu não digo e nem disse que não temos opção de mudança. Ao contrário, digo literalmente que “é da natureza liberal a incorporação do novo, é da essência da democracia a luta e a conquista de direitos” (em OS PROGRESSISTAS, O PARADOXO E OS TEMPOS DE PAZ. http://wp.me/p4alqY-iM ).
O tipo de mudança que considero justa e desejável pode ser lido neste outro artigo: A MERITOCRACIA E SEU OPOSTO http://wp.me/p4alqY-eo.
O que o Gílber não entende é que o marxismo é uma religião. Quando Marx manifesta-se contra as demais religiões, é porque na realidade, ele quer impor a dele, não quer ter concorrência.
Marx é um homem doente, o problema é que essa doença (extremamente contagiosa) passa-se facilmente pelo simples contatos com pessoas ou livros infectados, como os que você lê diariamente em seus rituais sagrados.
Quanto à propriedade privada, é completamente ridículo ser contra. Gílber, já que você se acha tão esperto, pegue seu livrinhos de História e me cite UMA civilização que se desenvolveu sem pensar da forma capitalista. TODAS as civilizações que obtiveram um mínimo desempenho desenvolveram o conceito de propriedade privada e lucro. Os próprios gregos, criadores da democracia, permaneceram SÉCULOS sem avanços durante o período em que se organizaram em grupos onde tudo era coletivo e não havia nada privado. Só quando a propriedade privada voltou os gregos retomaram o desenvolvimento e formaram uma das civilizações mais sábias da antiguidade.
Além disso, já que a Terra é de todos os seres vivos, então é melhor liberar a varíola de novo e cancelar qualquer movimento contra AIDS, dengue, cólera, etc, já que os causadores dessas enfermidades também tem direitos sobre a Terra, e combate-los nada mais é que a opressão cruel gerada pelo dominante (homem) sobre o dominado.
Gílber seus comentários denota grave macroscopismo, ou seja, o preconceito contra os organimos microscópicos! Se os insetos têm direitos, por que não os teriam as bactérias, os protozoários e os vírus?
E nossos companheiros príons, quem os defenderá?
Por incrível que parece, isso existe mesmo.Mas o nome é especista.
É o preconceito de uma espécie se achar melhor que as outras.
Eu já sou chamado de machista, racista, porco capitalista…mais um ista pra minha coleção 🙂
De qualquer maneira, estou certo que estes seus deslize não foi intencional, e sim um lapso, somente.
Mais atenção da próxima vez, camarada!
Professor Paulo Ricardo, sobre o Marxismo ser uma religião, acho particularmente interessante a parte final desta crônica de Eça de Queiroz, de 1880, em que ele já falava sobre este ponto:
Esta outra abordagem é minha e enfoca a questão a partir da música FORA DA ORDEM de Caetano Veloso:
É uma ótima leitura nestes tempos em que gente à esquerda e à direita está “desencantada” com a democracia e flertando com ditaduras. Quem gosta de ditadura é idiota, mal intencionado ou mal informado.OS PETISTAS, POR EXEMPLO, PREENCHEM OS TRÊS REQUISITOS. Criticam a ditadura militar brasileira (no que estão certos) mas APLAUDEM A DITADURA IMPLANTADA NA VENEZUELA pelo “comandante” Chávez e tocada agora por seu sucessor Maduro. ALÉM DISSO O PT APOIA A MAIOR PARTE DAS DITADURAS MUNDO AFORA, como Cuba, Irã, Sudão etc. Ou seja: PETISTA SONHA COM UMA DITADURA NO BRASIL, se eles estiverem segurando os fuzis. Se estiverem na mira dos fuzis, ai fazem beicinho. APRENDAM, IDIOTAS: DITADURAS SÃO NEFASTAS, SEJAM DE DIREITA, SEJAM DE ESQUERDA.
O seu artigo desconsidera o que Zizek está discutindo, ao dizer “falhe de novo, erre melhor”. Zizek está combatendo-polemizando com a psicnálise como teoria ideológica burguesa que coloca que toda luta por um mundo novo está sujeito a “falhar” e se está sujeita a “falhar” seria inútil lutar por mudanças, logo o capitalismo seria o fim da história.
A psicnálise, nesse sentido, serve como aparelho teórico ideológico da burguesia, no sentido de desencorajar a luta pelo Socialismo Livre, justamente com o argumento eternalista de que o socialismo sempre falhará, haja vista os fracassos das experiências russas, coreanas, etc.
Interessante que apenas o socialismo “falha” nessa visão psicanalítica da política, o capitalismo nunca falha é o sistema dos sistemas. Leiam a tese de DOUTORADO DO COMPANHEIRO Luís Fernando Bulhões, com o título “O ALTHUSSERIANISMO EM LINGUÍSTICA” e verão como ele desmonta essa tese neoliberal burguesa da psicanálise. O que Zizek também faz.
A ordem na soma de estereótipos não altera o resultado final. O Marxismo resulta em desastre porque ele é conceitualmente falho no que diz respeito a reconhecer o direito individual como valor fundamental.
E quem diz que o marxismo falha em reconhecer o direito individual, Paulo? Quem não reconhece o direito individual são os stalinistas, quanto a esses você está correto.
Porém, nós, os socialistas livres, sabemos que a liberdade de expressão, a liberdade de crítica e a liberdade de imprensa são fundamentais no Socialismo Livre. Agora, usar da liberdade individual para oprimir e para explorar, como o indivíduo burguês faz, aí é canalhice e cachorrice. É essa liberdade individual de explorar e de oprimir que combatemos. Ass: Gílber – CSL
Quem corrobora minha afirmação é o aclamado “Dicionário de Política” de Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino. No link abaixo você encontra um artigo que disseca o verbete DEMOCRACIA e onde fica claro que os valores que vocês declaram defender pertencem à democracia liberal:
muito bom artigo
Belíssimo artigo Paulo Falcão, mais um texto muito bom, o que é uma constante no blog.
Os que criticam o respeito a propriedade privada e a economia de mercado deveriam ler com mais atenção os textos do seu blog Paulo.
Em vez de estudarem mais e com mais atenção o assunto “Mercado versus estado” eles ficam vomitando impropérios que são frases feitas e chavões marxistas.
Os males do estado são atribuídos ao Mercado e as características positivas do Mercado são consideradas como virtudes do estatismo.
Os defensores do estatismo precisam é de amparo psicológico.
A crítica dos conservadores serem anti-liberdade deve-se muito ao desconhecimento que as pessoas têm do conservadorismo, especialmente vista nos próprios “conservadores” (entre aspas bem grandes).
Atualmente, são inúmeras as idéias dos conservadores modernos que há poucas décadas eram de esquerda radical ou seja marxistas envergonhados.
Libertários e conservadores são fundamentalmente diferentes, mas conseguem concordar (ou ao menos get along) entre si em uma grande quantidade de pontos.
A anti-liberdade fica mesmo com os socialistas. Enorme taxação, regulamentação do mercado, legislação atropelando direitos de propriedade privada, policiamento de pensamento e expressão, proibição de tudo o que o progressista não gosta, programas gigantes e centralizados de governos para resolver tudo o que acham um problema, etc.
Até nos Estados Unidos, existem diversas nuances e correntes políticas, por que então no Brasil todos devem pensar de forma igual? No meio entendimento, a tentativa de distorcer o sentido de ideias de esquerda, jogando o termo numa caixa totalmente preconceituosa, é uma tentativa calhorda de justificar golpismos e interrupções no sistema democrático. É jogar em agentes externo a culpa da corrupção e ineficiência interna. Por isso que costumo dizer que a mídia e os acadêmicos brasileiros de direita são até mais conservadores que os próprios megaempresários.
Ricardo, você é meio bipolar. Ora tenta argumentar, ora enumera insultos como se isto fosse algum tipo de construção lógica.
Em nenhum momento falo em agentes externos, corrupção ou ineficiência. Todo o artigo trata apenas de marcos teóricos, explicitando o núcleo central de cada um deles. Até agora, nada do que você disse indica qualquer erro conceitual do artigo. A sua tese de que a esquerda não é essencialmente marxista (o que inclui seus filhotes) não encontra correspondência com a realidade declarada em sites de todos os partidos “de esquerda” como PSTU, PSOL, PT, PC do B e PCB, além de sites de movimentos como o Passe Livre, por exemplo. Veja o que está escrito lá:
“O MPL não tem fim em si mesmo, deve ser um meio para a construção de uma outra sociedade. Da mesma forma, a luta pelo passe-livre estudantil não tem um fim em si mesma. Ela é o instrumento inicial de debate sobre a transformação da atual concepção de transporte coletivo urbano, rechaçando a concepção mercadológica de transporte e abrindo a luta por um transporte público, gratuito e de qualidade, como direito para o conjunto da sociedade; por um transporte coletivo fora da iniciativa privada, sob controle público (dos trabalhadores e usuários).
O MPL deve ter como perspectiva a mobilização dos jovens e trabalhadores pela expropriação do transporte coletivo, retirando-o da iniciativa privada, sem indenização, colocando-o sob o controle dos trabalhadores e da população. Assim, deve-se construir o MPL com reivindicações que ultrapassem os limites do capitalismo, vindo a se somar a movimentos revolucionários que contestam a ordem vigente. Portanto, deve-se participar de espaços que possibilitem a articulação com outros movimentos, sempre analisando o que é possível fazer de acordo com a conjuntura local.”
http://www.mpl.org.br/?q=node/2
Me desculpe novamente, mas em nenhum momento disparei insultos. Se este for o caso, me aponte ao invés de fazer acusações vazias, porque está perdendo a discussão. Quanto a partidos políticos, em todos os países há siglas marxistas fundamentalistas, mas isso não significa todo cidadão de esquerda acha que o caminho correto de promover igualdade é por via de ditadura de proletariado. Esse conceito é ultrapassado até mesmo para os fundamentalistas. Minha argumentação remonta o sentido histórico do que significa um posicionamento de esquerda, mesmo porque discordância sempre haverá em qualquer democracia. A questão é que uns vão tentar igualdade, enquanto outros vão derrubar legislações que interrompem uma trajetória de inclusão, igualdade e fraternidade. Logo, quem discorda dos rumos sempre estará mais a esquerda. Ser marxista-stalinista já é outra coisa. A França, por exemplo, é uma economia mista, já há alguma décadas e nem por isso tem relações amigáveis com stalinismo, castrismo, etc. Ao contrário, tem indicadores de liberdade econômica melhores que os brasileiros. É difícil entender isso?
Ricardo, vamos por partes.
Antes de mais nada, um aviso: repetir exaustivamente uma ideia sem fundamentá-la não é argumentar e muito menos ganhar a discussão. Posto isso, deixo aqui avisado que novas respostas suas só serão publicadas se trouxerem junto textos teóricos de autores conhecidos que fundamentem suas afirmações, exatamente como fiz no artigo.
Agora vamos comentar esta sua “resposta”.
Você abre dizendo “em nenhum momento disparei insultos. Se este for o caso, me aponte ao invés de fazer acusações vazias, porque está perdendo a discussão.” Muito bem, talvez não perceba ou não entenda, mas estas palavras são um insulto: “No meio (sic) entendimento, a tentativa de distorcer o sentido de ideias de esquerda, jogando o termo numa caixa totalmente preconceituosa, é uma tentativa calhorda de justificar golpismos e interrupções no sistema democrático.” Esta grosseria desnecessária não traz argumentos, apenas a afirmação de algo em que você acredita, mas que não encontra amparo na literatura ou prática política. Como já expliquei, é preciso argumentar segundo os “marcos regulatórios” do setor. Trocando em miúdos: sua definição de esquerda é um desejo seu, mas não uma realidade abraçada pela academia. É como se você chamasse coca-cola de guaraná e saísse por ai batendo no peito, orgulhoso, dizendo que está certo.
Depois você diz “Minha argumentação remonta o sentido histórico do que significa um posicionamento de esquerda, mesmo porque discordância sempre haverá em qualquer democracia. A questão é que uns vão tentar igualdade, enquanto outros vão derrubar legislações que interrompem uma trajetória de inclusão, igualdade e fraternidade. Logo, quem discorda dos rumos sempre estará mais a esquerda.” Esta insistência na nomenclatura da revolução francesa é boba por dois motivos: o artigo em discussão a reconhece logo no início, mas afirma e demonstra que foi superada pelas práticas políticas e acadêmicas. Não há autores relevantes que corroborem seu ponto-de-vista.
Quanto ao que afirma sobre a França, novamente demonstra que não leu direito o artigo e que não conhece muito de política. François Hollande é marxista, foi primeiro secretário do Partido Socialista de 1997 a 2008 e prefeito da comuna francesa de Tulle entre 2001 e 2008. Ele atua dentro do que está descrito na “gaveta da esquerda”. Sua atuação acaba o aproximando da “gaveta de centro” menos por convicção do que por imposição da realidade política e econômica. Basta ver a grande mudança de rumos que seu governo já teve, ao perceber que as ideias “de esquerda” que defendeu na campanha apenas estavam aprofundando a crise na França.
Concordo plenamente quando se ressalta a importância das filosofias politicas que tendem a propor o socialismo através do reformismo ao invés das lutas de classes. Como já foi citado existem vários exemplos de sucesso da implantação de sistemas socialistas democráticos, que não sucumbiram ao populismo do fundamentalismo ditatorial Castrista ou Stalinista. Tenho acompanhado o alto nível desse debate muito satisfeito. Agradeço ao aprendizado.
Daniel, você pode dar algum exemplo de sistemas socialistas democráticos? É possível que um país democrático tenha um governo socialista, como a França. Mas quando o “sistema socialista” consegue uma implantação plena, a democracia acaba. Acredito que você está confundindo socialismo com social democracia.
Fato, levei-me pela similaridade dos termos. Refiro-me sim à social democracia.
Em relação ao comentário:
“As ‘lesivas privatizações ao erário’ são apenas mentiras ideológicas que se repetem com insistência, mas que a realidade desmente, seja pelos valores alcançados, seja pela redução de custo para o governo (a maior parte dava prejuízo), seja pela universalização dos serviços que propiciaram, como no caso da telefonia, um dos mais atacados. Na mesma categoria de “mentira ideológica” está o restante de sua crítica ao governo do FHC. Tenho evitado entrar em questões partidárias exatamente para não perder o foco dos conceitos “macro”. Entendendo os conceitos, ficará mais fácil desvendar as falácias contidas nos discursos políticos de todos os partidos, inclusive o PSDB.”
Não concordo que qualificar as privatizações ao erário será um mentira ideológica, visto que os serviços público continuam mal geridos e a maior parte das empresas públicas não eram deficitárias. Mantiveram seus balanços alterados para serem mais palpáveis ao mercado Basta conferir os números. Os leilões envolveram baixas compensações financeiras ao erário, com moedas podres, financiamentos do restante do bônus com juros subsidiados com prazos a perder de vista, dívidas foram totalmente absorvidas pelo Estado, regras que tornam o reajuste de tarifas totalmente desregulado, baixas metas de eficiência, taxas de retorno incompatíveis com a realidade mundial, sem falar em casos de corrupção para formação dos consórcios, em que claramente empresários, como Antonio Ermínio de Moraes, se queixaram publicamente da cobrança de propina para entrar na disputa. No fim das contas, a dívida pública só cresceu.
A Vale do Rio Doce, por exemplo, foi vendida a R$ 3 bilhões, mas meses depois teve seu valor de mercado reajustado em 100 bilhões. Isso comprada com 2/3 de moedas podres. Hoje em dia, a iniciativa privada paga R$20 bilhões por um simples aeroporto e ainda comemora ter feito um grande negócio. Na área de rodovias, o custo do pedágio na Presidente Dutra é tão caro que se uma carreta passar pela estrada todos os dias, ao final de um ano, o valor acumulado dá para comprar outra carreta, como mostrou recente reportagem do SPTV, da Globo. Nos EUA, paga-se pedágio com uma nota de um dólar, sem falar que a comparação da qualidade asfalto e sinalização é gritante. Na Europa, idem. Não essa ineficiência seja apenas coisas do chamado Custo Brasil. Isso é desculpa que os reaças usam para cobrar o dobro.
Na área de telefonia, o Brasil tem o custo de ligação mais cara do mundo, apesar da grande estrutura tecnológica absorvida da Telebrás e cia. telefônicas estaduais. Na área de transporte público, quase 20 anos após a privatização da sistema de trens urbanos no Rio de Janeiro para a Supervia, os passageiros continuam sendo transportados feito gado, em trens velhos, mal conservados, sujos, lotados e numa situação de calor infernal. Parece que o país estava em liquidação. Meu questionamento não é em relação a privatização ou concessão a iniciativa privada, mas a forma com que foi feita, sem consulta popular, sem transparência e com uma tão rapidez impressionante que assustaria até Margaret Thatcher. Talvez se os contratos assinados não fossem tão ruins, não haveria tanto questionamento.
Ricardo, na era da internet não é difícil pesquisar. Então faça isto. Pegue os números de balanço de todas as empresas que foram privatizadas e veja qual era o desempenho e qual era a capacidade que tinham de universalizar os serviços. Você está repetindo mantras que lhe foram ditados por fontes que não sabem nem o que é fluxo de caixa. Quanto ao custo dos serviços, concordo que são realmente elevados, mas em vários casos, como eletricidade e telefonia, por exemplo, o maior custo são os impostos. Quanto às estradas, concordo que pagamos preços muito elevados e realmente vale a pressão da sociedade para abrir estas planilhas de custo e detalhar os números. Mas uma coisa é certa: as privatizações permitiram que o Brasil desse um salto econômico. É só conferir os números, que são públicos.
Meu questionamento não é contra privatizações ou concessões, é por ter este processo ter colocado o Estado em liquidação. Não é possível que um simples aeroporto capenga receba R$20 bilhões de bônus, enquanto que a Vale foi vendida por R$ 3 bi Por este preço, houve bastante interesse dos empresários, mas a propina falou mais alto, como declarou Antonio Ermínio de Moraes publicamente. Não entro no mérito de partidarismo, mas na qualidade dos serviços, que, na minha modesta opinião, ainda não vale quanto custa.
Não acho “desenvolvimento” pagar R$ 2,00 por minuto em uma ligação local, quando na Europa o mesmo serviço custa poucos centavos ou saem de graça mesmo. Quando aos impostos, a carga tributária representa 36% do PIB, mas 80% da arrecadação está à serviço da dívida pública. Ainda sim é alta, precisa ser reduzida para um patamar civilizado, mas países europeus já chegaram a impostos de cerca de 50% com grande liberdade econômica e com baixo custo de vida. Basta verificar o caso de Noruega, Canadá ou França, países com regimes democráticos consolidados, sem golpismos, e serviços públicos de excelente qualidade.
Agora quanto, colocar na sua caixinha ideológica que esquerda como sinônimo de totalitarismo, discordo profundamente. E a democracia representativa está aí para colocar em embate através de eleições livre quem administra melhor o interesse público e a economia. Golpismo é que causa retrocesso, vide exemplo brasileiro. O país avançou mais em duas décadas de democracia do que em 21 anos de ditadura. Se não fosse o apoio da direita liberal e dos “centristas conservadores”, o Regime Militar não teria tido sustentação para formular a conspiração e impetrar inúmeras violações aos diretos humanos.
Ricardo, no caso da Vale, o Antonio Ermínio de Moraes ficou bravinho porque queria ter ganho pagando menos. Se ele estivesse disposto a pagar mais, levava. Era um leilão. O preço foi definido pelo confronto de ativo e passivo da empresa, que na época tinha alto endividamento e custos elevados de gestão.
O preço da telefonia é alto, como quase tudo em nosso país por conta de uma coisa chamada “Custo Brasil” que é a combinação de impostos altos e em cascata, logística cara e ineficiente e leis trabalhistas que dobram o custo dos trabalhadores para as empresas (para cada real pago como salário, outro real é pago em direitos e encargos). Monte uma pequena empresa e você vai descobrir isto de forma bem didática. De qualquer maneira, a única forma eficiente de se reduzir preços de serviços é incentivando a concorrência.
Quanto a você discordar que as teses que balizam a esquerda (Marxismo e seus derivados) tem viés totalitário é um problema de entendimento. Você diz que estas teses não representam a esquerda, mas não é capaz de apontar quais teses a representam.
A única solução, neste caso, é você estudar um pouco mais o assunto.
Como está ficando meio desorganizado, por isso vou puxar seu comentário inteiro:
“Ricardo, vamos por partes.
Antes de mais nada, um aviso: repetir exaustivamente uma ideia sem fundamentá-la não é argumentar e muito menos ganhar a discussão. Posto isso, deixo aqui avisado que novas respostas suas só serão publicadas se trouxerem junto textos teóricos de autores conhecidos que fundamentem suas afirmações, exatamente como fiz no artigo.
Agora vamos comentar esta sua “resposta”.
Você abre dizendo “em nenhum momento disparei insultos. Se este for o caso, me aponte ao invés de fazer acusações vazias, porque está perdendo a discussão.” Muito bem, talvez não perceba ou não entenda, mas estas palavras são um insulto: “No meio (sic) entendimento, a tentativa de distorcer o sentido de ideias de esquerda, jogando o termo numa caixa totalmente preconceituosa, é uma tentativa calhorda de justificar golpismos e interrupções no sistema democrático.” Esta grosseria desnecessária não traz argumentos, apenas a afirmação de algo em que você acredita, mas que não encontra amparo na literatura ou prática política. Como já expliquei, é preciso argumentar segundo os “marcos regulatórios” do setor. Trocando em miúdos: sua definição de esquerda é um desejo seu, mas não uma realidade abraçada pela academia. É como se você chamasse coca-cola de guaraná e saísse por ai batendo no peito, orgulhoso, dizendo que está certo.
Depois você diz “Minha argumentação remonta o sentido histórico do que significa um posicionamento de esquerda, mesmo porque discordância sempre haverá em qualquer democracia. A questão é que uns vão tentar igualdade, enquanto outros vão derrubar legislações que interrompem uma trajetória de inclusão, igualdade e fraternidade. Logo, quem discorda dos rumos sempre estará mais a esquerda.” Esta insistência na nomenclatura da revolução francesa é boba por dois motivos: o artigo em discussão a reconhece logo no início, mas afirma e demonstra que foi superada pelas práticas políticas e acadêmicas. Não há autores relevantes que corroborem seu ponto-de-vista.
Quanto ao que afirma sobre a França, novamente demonstra que não leu direito o artigo e que não conhece muito de política. François Hollande é marxista, foi primeiro secretário do Partido Socialista de 1997 a 2008 e prefeito da comuna francesa de Tulle entre 2001 e 2008. Ele atua dentro do que está descrito na “gaveta da esquerda”. Sua atuação acaba o aproximando da “gaveta de centro” menos por convicção do que por imposição da realidade política e econômica. Basta ver a grande mudança de rumos que seu governo já teve, ao perceber que as ideias “de esquerda” que defendeu na campanha apenas estavam aprofundando a crise na França.”
Vamos lá:
Em primeiro lugar, gostaria de esclarecer que a oposição entre esquerda e direita não é teórica. É nada mais que uma expressão informal adotada pela imprensa e pensadores em geral para designar opostos no campo da política, de acordo com seus assentos no parlamento, no momento da Revolução Francesa. É só uma forma rasa de diferenciar posicionamentos opostos, nada mais.
Quanto a apresentar “textos teóricos de autores (acadêmicos) conhecidos que fundamentem suas afirmações” ou “marcos regulatórios”, infelizmente nem eu nem você podemos fazer isso. Diferentemente do seu artigo, omo alertei, da mesma forma que não podemos reduzir a esquerda a marxismo fundamentalista, não existe um só autor ou literatura que defina a direta como “igual” a liberalismo ou iluminismo francês. Em relação ao liberalismo econômico, há diversos autores que defendem a tese de auto-gestão dos mercados em oposição ao Estado patrimonialista do mercantilismo, os quais não vale a pena citar, mas nenhum deles se autoproclamou ser de “direita”.
O máximo que dá para fazer é revisitamos a teoria conservadora, datada do final do século XVIII, a qual remetia a posições políticas tradicionalistas e a transformação gradual pela manutenção da ordem e hierarquia vigente, logicamente se contrapondo a mudanças abruptas de determinado sistema marco econômico e institucional, sendo totalmente contrária ao conceito de revolução ou reformas profundas. Pregava a manutenção do sistema de crenças, usos e costumes de uma sociedade, baseadas na adesão a princípios e valores atemporais ingleses. Um dos principais pensadores dessa corrente de pensamento era o político Whig Edmund Burke, que pregava a uma “reação” as ideias “utópicas” sobre igualdade da Revolução Francesa, cujo desdobramento supostamente em resultariam em uma eterna instabilidade política e crise social na França. Como você pode ver, a definição de esquerda e direita não é essencialmente teórico-acadêmica, mas vem do sendo comum e das convenções sociais. Nos Estados Unidos, por exemplo, nem existe essa classificação. Lá, diferentemente de qualquer outro lugar do mundo, o posicionamento político liberal, que inclui pensadores que procuram uma sociedade mais justa, igualitária e solidária através de reformas, os conservadores se opõem ao pregar a manutenção da ordem vigente e frear qualquer reforma ao sistema. E comunistas são comunistas e só. Embora posicionamentos liberais estejam mais próximos do Partido Democrata e o conservadorismo ligado ao Republicano, um presidente democrata pode governar ainda mais à direita que a própria oposição reacionária. Da mesma forma que os democratas também mantém em seus quadros políticos que buscam reduzir as desigualdades latentes, como o então prefeito de Nova Yorque, Bill de Blasio. A questão é o posicionamento, não o partido.
Quanto a França, coloquei o país como exemplo moderno de democracia que superou barreiras que outras economias desenvolvidas ainda estão atrasadas, em relação a busca por igualdade, justiça e liberdade econômica. Nunca me referi a François Hollande especificamente, que sem dúvidas, tem sua história ligada ao socialismo, mas a história democrática do país, berço do iluminismo e detentora de uma economia mista. Lembro a você que o antecessor, o Nicolas Sarkozy era auto-declarado conservador e nem por isso desmontou uma série de garantias sociais, em favor de estado mínimo neoliberal. Talvez a diferença é que o povo francês, diferentemente do americano, não tem medo do governo. Lógico que ninguém pode se auto-proclamar dono da verdade, mas a busca por equilíbrio de forças me entusiasma mais do que um país como o nosso, onde os conservadores influentes, como os jornalistas José Nêumanne Pinto e Reinaldo Azevedo, frequentemente convocam militares para restabelecer a suposta “ordem”. Posso ter me enganado como você, mas a maioria das pessoas ditas da “direita liberal” tem hoje discursos muito mais semelhantes com os generais militares do que os próprios conservadores ingleses, por isso meu medo por um novo golpismo, com a justificativa de restabelecer a “hierarquia perdida”, como outro dia declarou o líder do DEM na Câmara, Ronaldo Caiado.
Ah, não gosto muito do Rodrigo Constantino, por conta de suas posições extremistas, no estilo “Heil Hitler” (já chegou a escrever que certos indivíduos deveriam reconhecer sua “inferioridade”), mas neste artigo ele explica um pouco sobre a teoria conservadora e como esta permeia o espectro político moderno.
http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/filosofia-politica/o-conservadorismo-pela-lente-de-um-liberal/
Não há muita diferença entre meu artigo e o Rodrigo Constantino. O meu é mais esquemático por tentar dar um panorama básico de todo o espectro político. O dele é mais detalhado ao abordar um aspecto específico. Mas não há contradições essenciais entre eles.
Ricardo, você criou uma teoria toda particular e faz uma confusão danada com idas e vindas tentando “ganhar” a discussão. Cada um é livre para pensar o que quiser, mas qualquer pessoa que estude um pouco este assunto vai compreender que você faz um “samba do crioulo doido” político-sociológico. E para finalizarmos nosso debate, ninguém que tenha a democracia e o estado de direito como valor fundamental apoia golpismos, sejam de direita, sejam de esquerda.
Questões Relevantes (bem, não sei qual seu nome correto), releia minhas argumentações e me diga onde coloquei em cheque a democracia, livre iniciativa ou a propriedade privada. Quem trabalha mais, é justo que acumule mais. Como disse em um comentário acima, o problema não é a desigualdade social, mas sim como ele é historicamente construída. Mas sabia que de alguma forma iria lançar Venezuela ou Cuba no meio da história, que para mim não me afeta em nada, pois não sou entusiasta dos respectivos regimes.
Agora me permita lançar outra provocação: Se um cara de esquerda defende ditaduras e um de direita é entusiasta de Estado Democrático de Direito, ideias iluminista, etc (nossa que fofo, a luta do bem contra o mal), o que defende então um centrista ou moderado? No seu texto, você faz uma confusão enorme: Diz que a social democracia está associado ao centro. Nada mais incorreto. Social-democracia nasceu de uma adaptação das ideias marxista para levar ao poder o socialismo através de vias democráticas, mantendo as instituições e demais formas de representação. Esta corrente política é e sempre será esquerda ou, no máximo, centro-esquerda na prática, apesar de ter rompido com o marxismo. A confusão que normalmente ocorre no mundo é que partidos com ideologia social-liberal, puxando para um projeto econômico mais neoliberal, se autoproclamaram “sociais democratas”, vide o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) ou o Partido Social Democrata Alemão, que faz parte da coalizão da chanceler conservadora Angela Merkel.
Isso explica por que o governo do sociólogo Fernando Henrique Cardoso lançou sobre uma política de estado mínimo, lesivas privatizações ao erário, desemprego em taxas altas, redução do poder de compra do salário mínimo e redução de diretos sociais, mas, no final do seu segundo mandato, marcado por profunda desaprovação popular, lançou um programa chamado “Bolsa Escola”, que visava dar uma pequena compensação às famílias que mantivesse as crianças na escola. São políticas sociais-liberais, pois não visam promover igualdade, mas apenas dar um mínimo de condições a população para tornar viável o neoliberalismo. Por exemplo, visava-se em universalizar saúde, previdência e educação, mas não tinha muita preocupação com a qualidade desses serviços ou com a inclusão social de massas ao consumo. Em resumo, um político ou pensador de centro rejeita tanto a versão pura do liberalismo quanto os elementos revolucionários da social-democracia, mantendo, por exemplo, a livre iniciativa econômica e laissez-faire, embora combinando esta com um Estado garantidor de diretos sociais. Como os governos FHC e Geraldo Alckimin pouco avançaram na questão de diretos sociais, a proposta do partido é pode ser classificada, no máximo, como centro-direita ou direita moderada, apesar do nome contraditório socialista.
Como direita no Brasil, podemos citar o Partido Progressista (PP) e o Democratas (DEM), em que ambos defendem que não haja nenhum ou quase nenhum controle ao poder econômico. Significa privatizar todos os serviços públicos, extinguir uma série de direitos trabalhistas e sociais, pois estes supostamente impedem a “livre iniciativa”. Acrescento também intolerância a quaisquer tipos de bolsas ou subsídios estatais para o desenvolvimento. Qual a diferença grande entre um PSDB, supostamente social democrata, e o DEM, autodeclarado conservador? Apenas de grau, nunca de meio. Um experiência de extrema-direita presente no Brasil seria a ARENA, pois mesclou elementos da livre iniciativa para poucos escolhidos, na maioria empresários nacionais presenteados com subsídios, militarismo, redução de direitos sociais, nacionalismo extremado, anticomunismo e extermínio de opositores. Neste sentido há elementos que o aproximam com o marxismo stalinista ou maoísta. Enfim, espero que esclarecido as diferenças e explicado porque acho incorreto radicalizar em qualquer um dos pólos o monopólio da virtude, sem paixões, como a declarada no texto acima.
Ricardo, agora estamos quase de acordo. Releia meu artigo e você verá que até brinco com esta questão do “centro” quando afirmo: “Assim, aquele que reconhece a democracia como um valor fundamental; que reconhece o humanismo como um ideal a ser perseguido na forma de política de estado (política pública); reconhece e defende o direito de minorias e a liberdade de expressão, este indivíduo precisa saber que não é de esquerda. É, no máximo, de centro. Ok, centro não é direita, mas tão pouco é esquerda.” Mais adiante, no artigo, cito um texto do João Amazonas que explica bem que a social-democracia, que nasceu “de esquerda” foi cooptada pelas próprias conquistas e abandonou a causa revolucionária, migrou para o centro e tornou-se um entrave para que as ideias da “verdadeira” esquerda prosperem.
Ao longo de todo o artigo, procurei trabalhar com “marcos regulatórios”, ou seja, em definir o conteúdo de cada gaveta ideológica a partir dos principais pensadores que as definem, para que paremos de chamar urubu de meu “loro”, que vem a ser chamar de “esquerda” aquilo que é “de centro”, chamar de “extrema direita” aquilo que é “direita” e outras bagunças.
É mais produtivo e honesto sermos rigorosos com o sentido das palavras do que atribuir-lhes novos sentidos, o que costuma acontecer por equívoco quanto ao conceito abordado ou por uma intenção deliberada de manipulação (tenho certeza que seu caso não é o da manipulação).
Este seu último texto está certamente convergindo para o centro e você não precisa se envergonhar disso. Pode ser mais chic e descolado se dizer “de esquerda”, mas suas ideias nesta última resposta o aproximam do centro.
Posto isto, comento alguns pontos de seu texto.
Você diz “me diga onde coloquei em cheque a democracia, livre iniciativa ou a propriedade privada. Quem trabalha mais, é justo que acumule mais. Como disse em um comentário acima, o problema não é a desigualdade social, mas sim como ele é historicamente construída.” Vejo aqui um ponto central neste nosso debate. Em suas respostas anteriores, os liberais são tratados com uma sequencia de injúrias, como sendo “do mal”, talvez gente que não faça falta. Este é um posicionamento “de esquerda”, totalmente antagônico com o estado democrático e de direito. É a essência do pensamento totalitário a justificar o fim da propriedade privada dos meios de produção (acabando também, literalmente, com a burguesia que resista). Agora você inverte a argumentação. Seu reconhecimento dos benefícios da meritocracia, da livre iniciativa e da democracia são antagônicos com os fundamentos da esquerda e com boa parte do que escreveu nos comentários anteriores.
Mas resta o final da frase, quando se refere à forma como a desigualdade foi construída. Aqui voltamos ao terreno das falácias, ao pântano das frases de efeito. Ao olharmos a história do capitalismo (e da democracia) nos países, desde o final do século IXX até nossos dias, vemos vários problemas, mas vemos, PRINCIPALMENTE, QUE AS DESIGUALDADES DIMINUÍRAM. Há muito mais pontos positivos do que negativos. Neste período houve a emergência de uma forte e numerosa classe média; a conquista de direitos trabalhistas e sociais; o fortíssimo aumento na expectativa de vida e a redução da mortalidade infantil; a universalização da educação etc. Resumindo, nos países democráticos (sempre capitalistas, sem exceção) a luta por direitos é lícita e efetiva, embora muitas vezes dolorida, fruto de muito suor, lágrimas e algum sangue.
Quanto à sua nova provocação, não é uma provocação, é apenas um sinal de que não leu direito o artigo. Basta ler novamente o conteúdo que atribuo às gavetas de “centro” e da “direita”. A diferença entre elas está enumerada e explicada.
Há outros equívocos históricos que comentarei brevemente.
Para sermos justos, os programas “Bolsa Escola, Bolsa Gás e outras bolsas foram criados e implementados não no final, mas ao longo do segundo mandato do FHC e fortemente atacados pelo PT e demais partidos da esquerda. O PT ainda atacou estes programas no primeiro ano de Lula na presidência, enquanto tentavam implantar o natimorto “Fome Zero”. Após falhar com o “Fome Zero”, jogaram a toalha, unificaram os programas de distribuição de renda e o rebatizaram de “Bolsa Família”.
As “lesivas privatizações ao erário” são apenas mentiras ideológicas que se repetem com insistência, mas que a realidade desmente, seja pelos valores alcançados, seja pela redução de custo para o governo (a maior parte dava prejuízo), seja pela universalização dos serviços que propiciaram, como no caso da telefonia, um dos mais atacados. Na mesma categoria de “mentira ideológica” está o restante de sua crítica ao governo do FHC. Tenho evitado entrar em questões partidárias exatamente para não perder o foco dos conceitos “macro”. Entendendo os conceitos, ficará mais fácil desvendar as falácias contidas nos discursos políticos de todos os partidos, inclusive o PSDB.
Para finalizarmos, volto à última frase quando conclui ser “incorreto radicalizar em qualquer um dos polos o monopólio da virtude”. Concordo com você, mas acredito ser igualmente fundamental saber o que cada uma das principais categorias destas “gavetas ideológicas” nomeia como virtude. Esta é a proposta original do artigo que estamos debatendo.
Desculpe-me novamente, mas continuo a discordar. Os valores do iluminismo e da Revolução Francesa, para mim, são louváveis, mas não fora aplicados de fato até hoje. O poder econômico, que é confundido de forma maldosa com direito a propriedade, é o único que pesa na democracias modernas, mesmo em ditas repúblicas supostamente avançadas, como Estados Unidos, Japão ou Itália. E a fraternidade pode existe dentro de povo, mas nunca foi universalizada.
Na verdade, o mercado financeiro, as multinacionais e as máfias, escondidas em negócios aparentemente honestos, como futebol ou transporte público, são quem ditam as regras nas legislações e governos locais atualmente, de forma que seu poder econômico se perpetue ao longo de gerações. Não digo que seja contra grandes organizações, mas essas não podem manipular o debate político e impedir avanços positivos para promover mais igualdade, pelo menos, de condições de partida. Fora que os grandes burocratas sempre tentarão perpetuar vantagens injustas, sempre destruindo o princípio da isonomia.
Agora não posso ser considerado centrista, pois não acredito que o Estado neoliberal, desregulamentando tudo, precarizando o modo de vida e apenas promovendo uma educação de base medíocre ou saúde pública insalubre irá promover igualdade. Isso só perpetua a injustiça, no sentido de que isso nunca emancipará o homem. Neste sentido, a direita acaba não só defendendo o “status quo”, como procura também aprofundar a injustiça. Ou um cidadão com câncer pode ser curar sozinho? Queiram ou não, todos dependem uns dos outros para vivermos em sociedade, portanto não é justo que haja liberdade só na letra fria da lei.
Um pensador mais próximo da esquerda, independentemente do sistema econômico, sempre estará preocupado em promover igualdade, contra o “status quo”. Claro que nem tudo que é novo pode ser considerado bom para a humanidade, mas um reacionário de carteirinha vai lutar sempre pela perpetuação dos vícios de qualquer sistema econômico ou político criado pela humanidade. É a lógica monárquica que se esconde no discurso conservador, para justificar a concentração do poder para si. E isso não é exclusividade brasileira.
Portanto, extremos são sempre condenáveis, nunca justificáveis, pois o único objetivo real é a perpetuação no poder. Vide a União Soviética, China e Coreia do Norte. A elite capitalista apenas é substituída por burocratas de estado. Até porque guerras, ditaduras e crises econômicas dão enormes lucros para agentes externos, qualquer que seja a justificativa para a incidência delas. Mas alegar que a esquerda sempre puxa em graus para o totalitarismo é afirmação falaciosa, visto que as mais cruéis ditaduras do mundo, inclusive a brasileira e a nazi-fascista, tiveram financiamento e apoio político da suposta direta liberal, mesmo não havendo ameaças externas iminentes. Na verdade, o apoio é comprado por determinadas elites para tirar benefícios econômicos do aparelhamento do Estado e da supressão das liberdades democráticas. Um democrata de fato, de qualquer um dos lados, nunca vai concordar com qualquer ditadura, portanto o desvio nunca é de grau, mas de valores morais, caráter ou puramente fanatismo. Esquerda é somente uma corrente política, não uma teoria ou doutrina fechada. Talvez, nunca será coesa. Por isso, acho incorreto tentar direcionar para este ou aquele lado o monopólio da virtude.
Ricardo, você é um caso de pessoa cheia de boas intenções, com muita raiva das injustiças do mundo e que está em um labirinto de conceitos confusos, batendo a cabeça na parede para ver se encontra uma porta. É óbvio que as cinco gavetas ideológicas que descrevo não são o fim da discussão, mas são um bom começo e podem ajudá-lo a dar nome aos bois (ou a não chamar urubu de “meu loro”).
Em seu comentário anterior você diz: “releia minhas argumentações e me diga onde coloquei em cheque a democracia, livre iniciativa ou a propriedade privada. Quem trabalha mais, é justo que acumule mais.” Você pode não compreender, mas este pequeno trecho contradiz quase tudo que disse agora e nos comentários anteriores. Sabe por que? Porque só existe democracia em estados liberais, que sigam os fundamentos descritos nas gavetas do centro e da direita. Não há exceção prática e nem teórica. O mundo não é perfeito. O Homem não é perfeito. Mas é apenas e exclusivamente em estados liberais (centro ou direita) que pode haver luta e conquista de direitos sem ruptura institucional; apenas em estados liberais (mais uma vez: democracia só existe neles) pode haver alternância de grupos políticos e ideológicos no poder sem ruptura institucional. Caso não tenha intendido ainda, ruptura institucional é quando o estado de direito é atacado e tem início uma ditadura.
Talvez seja interessante você dar uma lida neste outro artigo, que pode ajudar no aprofundamento de alguns conceitos:
O texto “em sim”? Bem, o texto em si não é desonesto e minha opinião, talvez seja realista demais para os sonhadores ocupantes das extremidades de posição política. A história da “origem” dos posicionamentos de esquerda e de direita é recheada de “estórias”, principalmente quando se trata dessas influências ocorridas nas américas (em particular as central e do sul). Por aqui tanto a direita quanto a esquerda já a muito tempo deixaram de lado suas convicções políticas e sociais e partiram para uma disputa de poder sem nenhum escrúpulo, associando-se ao narcotráfico, ao escravagismo, à grandes redes de prostituição e tráfico de pessoas e por fim, aos grandes oligopólios capitalistas. Não nos iludamos, o que sobrou da esquerda e da direita é apenas história, hoje o que há é apenas a busca pelo poder, o restante, é propaganda.
Daniel, obrigado pelo apoio. Veja a resposta ao Ricardo. Me parece que ficou bem didático.
Daniel, acredito que você descreveu, principalmente, este nosso Brasil patrimonialista. Para os herdeiros das capitanias hereditárias, vale o que você disse: a única ideologia é o poder. Mas dentro do PT (e de sua ala mais radical) e de partidos ainda mais à esquerda, há sim muita ideologia e empenho, como podemos observar nas pregações de seus sites, blogs e práticas políticas. Não viramos ainda uma Venezuela porque nossas instituições eram mais fortes e resistiram. Mas se não houver uma inflexão, chegaremos lá.
Daniel, obrigado por ter acompanhado minha comentário acima, mas gostaria de esclarecer algumas coisas: Em primeiro lugar, minha conceituação de “esquerda” no espectro político não está baseada em experiências populistas ocorridas na América Latina durante o século XX, mas no contexto histórico do nascimento das ideias iluministas e liberais: A Revolução Francesa. Queiram ou não, passou a ser designada “direita” aqueles que defendiam a continuidade da monarquia e o domínio da Igreja. Em resumo, direita defende o “status quo”. Não é meramente ficar conta uma medida ou outra, é não querer reforma alguma. A direita só se apoderou das ideias liberais quando o Estado passou a realizar o financiamento nada isonômico dos primeiros capitalistas, que resultaram na rapidamente na formação dos grandes monopólios, e este senhores de negócios precisavam de pessoas no parlamento para defender seus interesses. Ou seja, os ideias iluministas nunca de fato forma aplicados para emancipar o homem. Mas para trocar o poder de mãos. Em segundo lugar, desculpe a franqueza, mas você está muito mal informado: narcotráfico, escravagismo, grandes redes de prostituição e tráfico de pessoas não são exclusividade de nações da América Latina ou outros países periféricos. Existem também na América do Norte, Europa e centro financeiros ao redor do mundo, controladas por senhores que aparentam ser verdadeiros paladinos da ética e dos valores tradicionais, mas que se escondem por diversas teias de lavagem de dinheiro, com respaldo dos respectivos governos locais. Não se engane: essa é uma rede mundial controlada por grandes magnatas, onde circulam enormes quantias que, por sua vez, desaguam em paraísos fiscais, sob sigilo de contas numeradas e negócios aparentemente lucrativos. Mas esse roda só sem mantém girando pela inesgotável safra de miseráveis gerados pelo sistema que aceitam se submeter ao abuso por absoluta falta de alternativas de subsistência e pela ganância de outros que visam não só enriquecer, mas deter o poder econômico para ditar as regras da forma que bem entenderem. Claro que existem conservadores honestos e dignos, da mesma forma, que a esquerda também pode ser demagógica e corrupta, mas a direita nasceu para defender o “status quo” e “interesses individualistas”, mas nunca promover mudanças em benefício da humanidade.
Ricardo, como moderador repito aqui o que disse no seu comentário anterior. Exceto pelo trecho em que diz que “narcotráfico, escravagismo, grandes redes de prostituição e tráfico de pessoas não são exclusividade de nações da América Latina ou outros países periféricos”, em que você tem razão em sua resposta ao Daniel, o restante são injúrias enumeradas, sem argumentação que sustente sua opinião. No mais, repito: “meu ponto é simples: democracia é o único sistema político que permite a conquista de direitos civis e a alternância de poder de maneira institucional. Não há outro. Além disso, historicamente democracia só existe onde prospera o liberalismo (capitalismo). Não existe país que não seja capitalista e seja democrático (não me venha falar de Venezuela e Bolívia porque ai já é piada).Mas o mais interessante é que sua argumentação constrói o seguinte raciocínio: esquerda é tudo que quer mudança; direita é tudo que resiste a mudança. Você acaba de criar uma nova categoria de pensamento. Resta saber o que fazer com os velhos manuais da esquerda que marcam os movimentos sociais desde o século IXX”.
Me desculpe, mas o texto em sim está marcado por uma profunda desonestidade intelectual. O nascimento político da luta entre a esquerda x direita se remete ao período da Revolução Francesa, em 1789. Na ocasião, os membros da Assembleia Nacional Francesa dividiam-se em partidários do rei Napoleão Bonaparte à direita do presidente e simpatizantes da revolução republicana à sua esquerda. No decorrer do século XIX, a coisa de reconfigurou. Com o fim da monarquia, a direita de convergiu seu discurso para manutenção de um Estado de Direito, de ideias iluminista, as quais supostamente proporcionam “igualdade”. No entanto, com a ascensão de grandes monopólios, muitos construídos através benesses estatais e corrupção, frente a uma maioria em situação de grandes grande miséria e doenças, o modelo liberal claramente se mostrou ineficaz, para promover liberdades, visto que as condições de produção e ascensão social não desiguais. Vários grupos passaram a propor mudanças e reformas neste sistema de produção, que então passaram a ser defendidas pela esquerda. Daí começaram a surgir pensadores com ideias socialistas, sendo mais famoso Marx, ao lado anarquistas e teorias moderadas. O alemão é somente um desses pensadores, talvez o mais controverso e centralizador. Diferentemente do exposto no texto, ser de esquerda não significa compactuar com ideias totalitárias, centralizadoras ou de desrespeito às instituições. Significa propor mudanças que tornem os ideias iluministas e da Revolução Francesa realmente efetivos. Liberdade, igualdade e fraternidade nunca foram postos em práticas pelo sistema capitalista. Em um mundo permeado de desigualdades, qualquer reforma desperta logo a oposição de certo grupo que defensor do “status quo”, ou comumente designado “conservador” ou de “direita”. Desta reação a qualquer mudança surgiu o termo “reacionário”. Portando, um sujeito que defende a propriedade privada, conquistas advindas do mérito e da livre iniciativa, mas condena dogmas tradicionalistas ou da supremacia dos mercados sem controles, dentro do espectro político, está mais para um “centrista” ou “liberal” do um conservador. Em resumo, quem defende o status quo, está mais à direita , enquanto que os reformistas estariam mais a esquerda e os moderados no centro. Ao contrário do que diz Olavo de Carvalho, a diferença entre a direita e a extrema-direita não é de valores, mas sim também de graus e de meios para se alcançar o aprofundamento das desigualdades. Parte do mesmo princípio de que quem é mais supostamente mais forte, dentro de preceitos historicamente construídos pelas aristocracias e valores tradicionais, deve concentrar toda a riqueza unicamente para si e controlar o restante da massa a seu favor. Dessa forma, a exploração de mão de obra estaria mais que justificada, através de um “meio” mais eficiente, seja na forma da clássica tirania dos mercados, abusos de poder econômico ou coação física, em campos de concentração. Diante desse quadro, se conclui que um legítimo representante de direita não considera que a igualdade é um valor essencial, pois essa é fundamental para a aprofundamento do abismo entre classes sociais, enquanto que um representante da esquerda esta seria uma busca constante.
Ricardo, em primeiro lugar, obrigado pela leitura e pela resposta. Evidentemente discordo de seus argumentos e quero deixar alguns comentários pontuando as principais divergências.
Em primeiro lugar, você me acusa de desonestidade intelectual, o que é estranho na medida em que tudo que digo é fundamentado nas principais teorias que definem os campos enfocados. Se deixei de fora alguém que você considera essencial, por gentileza nomeie-os.
Na sequencia, você diz, como em oposição ao que afirmei:
“Com o fim da monarquia, a direita convergiu seu discurso para manutenção de um Estado de Direito, de ideias iluminista, as quais supostamente proporcionam “igualdade”. No entanto, com a ascensão de grandes monopólios, muitos construídos através benesses estatais e corrupção, frente a uma maioria em situação de grandes grande miséria e doenças, o modelo liberal claramente se mostrou ineficaz, para promover liberdades, visto que as condições de produção e ascensão social não desiguais. Vários grupos passaram a propor mudanças e reformas neste sistema de produção, que então passaram a ser defendidas pela esquerda. Daí começaram a surgir pensadores com ideias socialistas, sendo mais famoso Marx, ao lado anarquistas e teorias moderadas. O alemão é somente um desses pensadores, talvez o mais controverso e centralizador.”
Veja que neste trecho não há nada em desacordo com o que afirmo no artigo, muito pelo contrário: você reafirma que a direita é a favor do estado de direito e das ideias iluministas (que investiam na razão e combatiam os abusos do estado e da igreja). Quando diz que “vários grupos passaram a propor mudanças” está descrevendo a natureza de sistemas liberais (o do liberalismo) em que se luta e se conquistam direitos, que viram lei e se incorporam ao estado de direito. Quanto ao fato das condições serem desiguais, sempre são. Nem o Khmer Vermelho conseguiu criar uma situação de igualdade.
Mas voltemos a seu texto. Você afirma:
“Diferentemente do exposto no texto, ser de esquerda não significa compactuar com ideias totalitárias, centralizadoras ou de desrespeito às instituições. Significa propor mudanças que tornem os ideias iluministas e da Revolução Francesa realmente efetivos. Liberdade, igualdade e fraternidade nunca foram postos em práticas pelo sistema capitalista. Em um mundo permeado de desigualdades, qualquer reforma desperta logo a oposição de certo grupo que defensor do “status quo”, ou comumente designado “conservador” ou de “direita”. Desta reação a qualquer mudança surgiu o termo “reacionário”. Portando, um sujeito que defende a propriedade privada, conquistas advindas do mérito e da livre iniciativa, mas condena dogmas tradicionalistas ou da supremacia dos mercados sem controles, dentro do espectro político, está mais para um “centrista” ou “liberal” do um conservador. Em resumo, quem defende o status quo, está mais à direita , enquanto que os reformistas estariam mais a esquerda e os moderados no centro.”
Neste trecho você faz alguma confusão mas não contesta nada do que escrevi. Descreve os conteúdos das gavetas em consonância com o que fiz. Mas há um ponto que foi muito oportuno: quando explica o conceito de “reacionário”, embora de maneira incompleta. O correto é dizer que todo aquele que vê seu “status quo” ameaçado, reage à mudança, seja de direita, de centro ou de esquerda (e os exemplos “à esquerda” são muitos e brutais).
Quando comenta sobre as afirmações do Olavo de Carvalho, me desculpe, mas demonstra que não compreendeu bem o sentido dos conceitos empregados. Tanto é verdade que vários pensadores importantes, como Hannah Arendt, por exemplo, ressaltam as semelhanças entre o nazismo e o socialismo (soviético e chinês) em oposição ao estado democrático e de direito (liberal).
Por último, há outra afirmação sua que ao tentar contradizer as ideias em meu artigo, as reforça. É quando diz: “Diante desse quadro, se conclui que um legítimo representante de direita não considera que a igualdade é um valor essencial, pois essa é fundamental para a aprofundamento do abismo entre classes sociais, enquanto que um representante da esquerda esta seria uma busca constante.”
Esta sua afirmação é uma crítica à meritocracia e uma reafirmação da necessidade de se buscar a igualdade sem mérito. É exatamente o que afirmo ser o pensamento dominante nas “gavetas de esquerda”. Já aqueles que defendem ao mesmo tempo a redução das desigualdades e a meritocracia, acreditam que a desigualdade faz parte da natureza humana e que é correto e necessário lutar para reduzi-la, mas é preciso fazer uma distinção: como afirma Eduardo Giannetti da Fonseca, um estado que luta pela redução das desigualdades nem sempre é justo. Se a luta é pela igualdade na partida (saneamento, educação, saúde, etc), o resultado é libertador; já a imposição de igualdade na chegada, é opressora, na medida em que impede que cada indivíduo realize o seu melhor.
É típico dos neoconservadores distorcerem o sentido das frases para se adequar a uma caixinha ideológica que os convém. Nunca falei em expropriação, falei em igualdade de condições e garantia de direitos inatos ao ser humano. Esquerda é muito maior que marxismo, como expliquei acima. Esquerda é tudo que se opõe ao “status quo”, seja em qualquer regime econômico vivido durante toda a humanidade. A classificação surgiu muito antes do nascimento do capitalismo moderno. Com o advento do liberalismo, membros de partidos de direita passaram não só reagir contra mudanças em áreas que a injustiça, mas que pudessem minimamente promover mais igualdade, como também passaram a forçar legislações e regras injustas que aprofundem a concentração de renda e abuso do poder econômico. Nunca vi um movimento em direção a igualdade partindo de um líder convicto de direita, a não ser que tenha vindo de muita pressão popular ou constrangimento civil. Em resumo, o interesse de poucos capitalistas, através de redes de suborno a agente públicos e financiamentos escusos de campanhas políticas, acabaram, muitas vezes, se sobrepondo ao interesse público. A questão não é a desigualdade em si, mas como nos chegamos a ela no mundo moderno. Basta revisitar a história para se concluir o sistema liberal em teoria parecia ser perfeito, mas nunca foi e talvez nunca será posto em prática na frieza de seus fundamentos. Lógico que há entusiastas e líderes de direta honestos e íntegros, mas o sistema é corrompido em sua origem, daí a necessidade de reformas. A esquerda não possui nem nunca possuirá discurso único. Por isso, reafirmo que acho uma profunda desonestidade intelectual associar o esquerda com a opressão e a direita como libertadora. Apesar de não querer admitir, você acaba incorrendo no seu texto no mesmo erro dos ditos “esquerdistas”, pois acaba querendo concentrar na direita o monopólio da virtude e do progresso. E nem adianta enfiar China e União Soviética no meio, pois estes regimes são tão repressivos e violentos quanto ditaduras de extrema-direita nazi-fascistas ou militares por toda a América Latina, ambas controladas por interesses do capital internacional.
Ricardo, enumerar injurias não é argumentar. Meu ponto é simples: democracia é o único sistema político que permite a conquista de direitos civis e a alternância de poder de maneira institucional. Não há outro. Além disso, historicamente democracia só existe onde prospera o liberalismo (capitalismo). Não existe país que não seja capitalista e seja democrático (não me venha falar de Venezuela e Bolívia porque ai já é piada).Mas o mais interessante é que sua argumentação constrói o seguinte raciocínio: esquerda é tudo que quer mudança; direita é tudo que resiste a mudança. Você acaba de criar uma nova categoria de pensamento. Resta saber o que fazer com os velhos manuais da esquerda que marcam os movimentos sociais desde o século IXX.
Achei excelente seu artigo. Gostaria de publicar e ilustrar (com os devidos créditos) em meu blog. Se me autorizar ficarei muito grato.
Está autorizado. A ideia é esta mesma, fazer circular as reflexões.