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Quem utilizar a palavra MATEMÁTICA no campo de busca deste blog vai encontrar uma série de artigos em que se tenta explicar para os fãs da irresponsabilidade fiscal que no debate entre a matemática e a ideologia a primeira sempre prova ter razão. São vários os exemplos que demonstram esta tese didaticamente, enquanto não há nenhum que a contrarie.

Há pessoas que adoram frases e expressões “espantalho” utilizadas quase como denúncia de uma conspiração. Preste atenção e repare que por trás de expressões como “auditoria da dívida”, “equilíbrio fiscal para pagar juros para banqueiros”, “privatização dos lucros e socialização dos prejuízos” há sempre um discurso de justificativa dos desastres gerenciais da esquerda. A mais recente é o já famoso “ninguém come PIB”, da falastrona e raivosa economista Maria da Conceição Tavares, uma influente ativista, que não pode ser acusada de ignorância mas que errou 100% das suas previsões na área econômica desde o início do Plano Real.

Aliás, Maria da Conceição Tavares e muitos outros economistas famosos são extremamente ativos na difícil (mas bem remunerada) tarefa de justificar os erros em série cometidos pelos governos de esquerda na condução das políticas econômicas de seus países. Estão todos quebrados ou quebrando. Todos mergulhados em inflação e desemprego, mas a culpa, claro, não é deles, não é de suas escolhas irresponsáveis e desastradas, não é do endividamento descontrolado, não é das ações equivocadas de governos. Na curiosa psicose em que vivem, a culpa é sempre do burguês explorador, do capitalista malvadão e da “classe média reacionária” que adora odiar e ser odiada.

A tarefa de explicar para estas pessoas a inescapável relação de causa e efeito entre irresponsabilidade fiscal e o desastre é incrivelmente difícil e infrutífera. O artigo abaixo, de Felippe Hermes para o Spotniks é mais um esforço para deixar claro que o demônio da economia não aceita desaforos por muito tempo.

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SIM, VOCÊ COME PIB.

Por Felippe Hermes para o Spotniks.

 

Mais uma vez o governo anunciou aquilo que é de praxe nesse período do ano: o resultado do PIB trimestral. E, como esperado, a queda de 1,9% da economia nos coloca de volta à tal recessão pela segunda vez em 2 anos (o que significa dizer que nosso PIB caiu por 2 trimestres seguidos 2 vezes). Como em outras ocasiões, você provavelmente já se deparou, especialmente por parte daqueles que defendem o governo, com um discurso que visa minimizar o ocorrido utilizando-se de expressões como “não como PIB” ou ainda que “isso diz respeito apenas à economia”, não à vida dos milhões de brasileiros que desembocam nas esquinas em busca do pão de cada dia. Trata-se de mais uma arma da política dos bordões, que pauta e desconstrói as discussões através de apelos emocionais e muita desinformação.

Assim, como se vivêssemos num programa de humor, pautamos o debate por meio de slogans rasos que buscam ridicularizar os problemas reais do país e, de quebra, desafortunar ideias contrárias. “Apesar da crise, produção de batatas cresce em Minas Gerais”, diz uma chamada. “Dólar alto só impedirá a classe média de viajar pra Disney”, diz outra. “Menos carros vendidos, melhor pro trânsito”, branda uma terceira.

Mas, pra nossa infelicidade, trata-se de algo mais complexo. A ignorância econômica é um problema que afeta os brasileiros. Mesmo juízes altamente graduados parecem possuir dificuldade, por exemplo, em ligar eventuais medidas que obrigam seguradoras de saúde a bancar hospedagem, passagem e tratamento de um paciente do norte-nordeste para um hospital em São Paulo, a um futuro aumento de custos nos planos de saúde de toda população. Toda ação possui um custo, seja ele material ou apenas uma questão de tempo despendido. Nós lidamos com um mundo de recursos escassos, e isso inclui nossa própria limitação temporal. Ocorre que o estudo da economia também está sujeito a estes mesmos problemas. Afinal de contas, por que raios eu deveria estudar economia se posso ler um romance, ver um filme ou assistir uma série de televisão? Por que eu deveria me importar com essas informações todas?

Some todos estes aspectos em uma ciência cujo impacto é também político e você terá uma receita explosiva. Não é difícil perceber que muitos economistas querem apenas manipular sua opinião. Quando tratam de engrandecer certos atos ou minimizar a importância deles na sua vida, eles agem exatamente com este propósito. E isso acontece o tempo todo. Não interessa qual governo ou partido em questão.

E a ideia de que a soma da economia em nada impacta seu dia a dia possivelmente seja o melhor exemplo disso. O PIB, o tal do Produto Interno Bruto, é o resultado da soma de riquezas produzidas na economia, medidas através do consumo. No cálculo do PIB se encontram os investimentos, o consumo das famílias, o consumo do governo e o resultado das transações comerciais de um país. É, portanto, mais do que óbvio que ele impacta diretamente na sua vida. Você não precisa ter mais que um conhecimento superficial a respeito do tema – acessível a uma busca do seu navegador – para entender isso.

Os investimentos que sustentam o nível de emprego na economia, por exemplo, definem não apenas a capacidade desta economia de gerar novos empregos, mas o aumento da produtividade, que impactará diretamente no seu salário. Imagine que uma empresa passe uma década sem investir em novas máquinas e equipamentos. Ao final deste período você possivelmente será menos produtivo do que funcionários de outras empresas com melhores condições, não é mesmo? Isso inevitavelmente refletirá no seu salário.

Consumo das famílias em queda significa exatamente menos alimentos, menos roupas, menos gastos com lazer, menos finais de semana no shopping assistindo aquele filme que você contou os dias para assistir. E aqui, você provavelmente já deve ter entendido o quão equivocada uma pessoa precisa ser para dizer que um indicador que inclui a fonte valorização do seu salário (que, para a surpresa de alguns, não é definido pelas leis do governo, mas por uma lógica que envolve a produtividade) e o seu próprio consumo não impactam – veja só – no seu consumo.

O resultado de políticas macroeconômicas – aquelas que afetam variáveis da economia como juros, desemprego, consumo e investimento – são portanto cruciais para o seu dia a dia. A decisão do governo em reduzir artificialmente os juros, por exemplo, financiando negócios não lucrativos, pode significar para você um emprego que hoje, com a alta dos juros e a queda no consumo, não existe mais. Uma medida feita para elevar o consumo de veículos pode ter feito você, tempos atrás, acreditar que era possível financiar aquele carro zero quilômetro em 60 meses, novinho na garagem – que hoje, infelizmente, se torna um tormento difícil de pagar.

Ao longo dos últimos 120 anos, a República brasileira se divide entre 2 grupos de governantes. O primeiro, em maior parte, composto por aqueles que acreditam serem capazes de gerar crescimento decidindo quais setores devem receber investimentos, impedindo a concorrência, criando monopólios e uma legislação que eleve os custos dos bens e serviços que você consome. O segundo, e esse é composto por não muitos, que acreditam que o importante, no final das contas, é garantir que você possa ter uma moeda forte, uma inflação controlada, impostos previsíveis e custos burocráticos baixos para garantir o fruto do seu trabalho. Optar por um governante, portanto, pode definir o quão cheio estará o seu prato no futuro. Por isso, ao escolhê-lo nas próximas eleições, não se esqueça de saber sua visão econômica e como ela impactará a sua vida. Acredite, você pode comprar um pacote que inclua muito mais do que aquilo que esperava.

O reflexo de políticas equivocadas que levaram a uma diminuição no crescimento da economia nos últimos anos está diretamente relacionado, por exemplo, ao crescimento de 8% da extrema pobreza em 2014, após 10 anos consecutivos de queda. E não apenas isso. Coloque também na conta o aumento do desemprego no ano passado (o maior em 13 anos), a volta da inflação (que encontra-se hoje 50% acima do teto da meta), entre outras inúmeras ações que impactam diretamente a sua vida. A realidade é implacável. E na hora de crise, não resta dúvida de que a conta maior ficará para o cidadão comum – eu e você – que arcaremos com mais impostos e um aumento dos nossos gastos pessoais.

Para alguns economistas, no entanto, a ideia de que o indivíduo não é uma variável relevante no jogo da economia é de fato algo levado a sério. Para eles, é possível que um planejamento centralizado determine a melhor alocação possível de recursos (máquinas, terras e trabalho). O que estes economistas não compreendem, entretanto, é quão positivo o crescimento econômico se tornou para a humanidade – foi ele quem nos libertou do campo, dos trabalhos de sol a sol, nos deu uma extensão noturna para viver, nos permitiu pensar em lazer, entre outras coisas que hoje compreendemos como indissociáveis da vida humana. O que estas políticas equivocadas fazem ao determinar o que é relevante para a economia como um todo, no fim, é justamente suprimir o que de fato é importante para cada indivíduo.

Por isso, na próxima vez, pense duas vezes antes de sair por aí dizendo que você não come PIB. Ou então, arrisque ser devorado pela ignorância econômica. Acredite: ela é implacável.