A fireball erupts during Israeli bombardment in the northern Gaza Strip on October 14, 2023. Thousands of people, both Israeli and Palestinians have died since October 7, 2023, after Palestinian Hamas militants entered Israel in a surprise attack leading Israel to declare war on Hamas in the Gaza Strip enclave on October 8. (Photo by Aris MESSINIS / AFP)

A guerra é a continuação da política por outros meios. É um momento em que a política falha e a solução pacífica de conflitos termina.

O que assistimos na Faixa de Gaza é um exemplo desta falha da política, que nunca conseguiu levar a termo a solução dos Estados Israelense e Palestino com reconhecimento mútuo e paz.

Infelizmente, não existe guerra não cruel. Toda guerra é violenta, suja e trágica. E esta é resultado da ação de grupos radicais religiosos tanto de Israel quanto dos Palestinos (sim, há mais intolerantes envolvidos, mas vamos lançar luzes sobre estes dois e a omissão dos grupos não religiosos).

São grupos cuja fé cultiva não apenas o sonho, mas o objetivo declarado de extermínio do outro. E sempre que a religião fala mais alto do que o estado laico, o resultado é trágico.

Pelo lado de Israel, temos hoje o Sionismo Religioso, fusão de três legendas ultrarradicais que defendem a anexação de assentamentos judeus na Cisjordânia (totalmente ilegal perante a comunidade internacional), a deportação de árabes israelenses considerados “desleais” (qualquer um que eles nomeiem assim) e o controle político do sistema judicial (sonho de todo autocrata).

Infelizmente isto ocorre dentro da democracia israelense e vários desses objetivos já vinham sendo postos em prática por Israel na Cisjordânia há anos. É uma falha evidente da política, uma falha que ocorre dentro da única democracia da região. Uma falha que sem dúvida alimenta o moto perpétuo do ódio mútuo.

Alguns dos principais personagens da intolerância israelense são Ben-Gvir, líder do Força Judaica, que começou a carreira no Kach, movimento radicalmente antiárabe. O Kach acabou sendo qualificado como organização terrorista e banido, mas seus membros seguem ativos.

Temos também o Noam, homofóbico e misógino, que defende o “Israel puro” (religioso ortodoxo) contra o “mundo podre e agonizante fora dele” (toda a sociedade secular). Em essência, defende uma versão judaica da teocracia iraniana.

São dois grupos com forte influência na coligação política Sionismo Religioso, que defende explicitamente a supremacia judaica (se aqui você se lembrou da “supremacia ariana” e do nazismo, eu também).

Mas como tais ideias podem prosperar em uma democracia? Como tais ideias podem ganhar tanta força a ponto de fazer parte do governo atual?

Segundo Toby Greene, professor de política da Universidade Bar-Ilan, em Tel Aviv, “a população não é radical, mas se sente sem opções moderadas que representem seus interesses, como a preservação do território e a identidade judaica”.

Me parece uma explicação bastante insuficiente para quem não vive em Israel, mas certamente a ameaça constante representada pelo Hamas, Jihad Islâmica, Hezbollah e Irmandade Muçulmana alteram a percepção e  influenciam diretamente no apoio que recebem os radicais israelenses. Mas uma coisa é certa: se a influência desses grupos não for diluída e controlada, a própria democracia de Israel vai acabar.

Voltemos agora nossas luzes para a Faixa de Gaza. Ali, não existe democracia e o poder é exercido de forma autocrática pelo Hamas, com apoio estratégico da Jihad Islâmica.  São ambos grupos terroristas que se vêm investidos de uma missão divina: eliminar Israel, em primeiro lugar, e o resto dos “infiéis” depois que o primeiro objetivo for alcançado (se acha exagero, leia o Estatuto do Hamas).

Foi o Hamas quem deu início à presente guerra com Israel ao invadir seu território no dia 7 de outubro e perpetrar um atentado que matou mais de 1.400 civis (muitos velhos, mulheres e crianças), estuprou diversas mulheres, sequestrou mais de 200 pessoas e disparou milhares de foguetes contra Israel (e dispararam mais de 7.500 foguetes nos dias subsequentes).

Aliás, é importante observar que pouco mais de 7% destes foguetes apresentaram defeito, caíram e atingiram áreas aleatórias da Faixa de Gaza. Isto significa que ao menos 520 foguetes caíram sobre a população de Gaza, sem aviso prévio, sem controle, sem preocupação humanitária.

Assim, é justo perguntar: que percentual dos civis mortos na Faixa de Gaza foram vítimas dos foguetes aleatórios do Hamas e da Jihad islâmica?

Mas sigamos. Para dificultar qualquer ação de Israel contra eles, o Hamas instala suas bases de lançamento e quarteis ao lado ou dentro de escolas, hospitais, mesquitas e conjuntos habitacionais densamente ocupados (além dos famosos túneis), transformando estes pontos em alvos militares legítimos e prováveis.

A estratégia deste grupo terrorista é exatamente causar o maior número de vítimas possível entre a população civil para que possam usar seus corpos ensanguentados como bandeira política contra Israel.

Ismail Haniyeh, um dos líderes do líder do Hamas no exílio disse literalmente em vídeo:

“Eu já disse antes e repito agora: o sangue das mulheres, das crianças, dos idosos — eu não estou dizendo que esse sangue está pedindo pela ajuda de vocês. Somos nós que precisamos desse sangue, para que ele desperte o espírito revolucionário entre nós. Para que ele desperte em nós a determinação. Para que desperte em nós o espírito de desafio e nos empurre para seguir em frente”

Já o Oficial do Hamas Mousa Abu Marzouk foi além e declarou que os túneis em Gaza “foram construídos para proteger os combatentes do Hamas, não os civis; Proteger os civis de Gaza é responsabilidade da ONU e de Israel”.

E muito antes disso, em 2014, Mosab Hassan Yousef, o filho do fundador do Hamas, deu entrevista à rede americana CNN relatando que o grupo doutrinava ideologicamente as crianças desde os cinco anos de idade:

“O Hamas não se importa com as vidas dos palestinos, ou com as dos israelenses ou americanos. Eles não se importam nem mesmo com as suas próprias. Eles enxergam morrer pela sua ideologia como uma forma de devoção religiosa.”

Uma análise isenta da situação concluirá que não existe possibilidade de paz se os radicais de ambos os lados não forem controlados e desidratados.

Infelizmente isso implica na continuação da guerra na Faixa de Gaza até que o Hamas e seus túneis sejam destruídos.

Me parece que a única alternativa para acabar imediatamente com a Guerra já foi apresentada por Israel: o Hamas libertar todos os reféns e se entregar. Não vai acontecer. O Hamas quer levar ao paroxismo a morte de inocentes na Faixa de Gaza. A narrativa que eles constroem é escrita com este sangue.