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Do pós guerra até os anos 1960 o estereótipo do mundo árabe-persa era de sultões e Sherazardes, seja no cinema americano, seja nos blocos de carnaval no Brasil. Quem lembrou deste fato sobre o carnaval brasileiro foi Gustavo Chacra em seu blog no Estadão. O encanto foi sendo quebrado em diversas frentes que incluem a Guerra Civil no Líbano de 1975 a 1990, a revolução Xiita no Irã em 1979, a intensificação dos conflitos de Israel com palestinos e os libaneses do Hezbollah, homens bomba e tudo mais que você já deve ter lembrado. Assim chegamos ao novo estereótipo do terrorista islâmico.

Há fatos impactantes e recentes para justificar esta imagem na Nigéria, França, EUA, Sudão, Afeganistão, Paquistão, Iraque, Irã, Palestina e Síria. Mas concluir que todo islâmico seja um terrorista é apenas preconceito, e um preconceito perigoso.

Não tenho dúvidas de que há um conflito de diferentes estágios civilizatórios. Como disse em outro artigo, “Os árabes já foram superiores aos Europeus em tolerância, educação, matemática, engenharia, astronomia etc. Por conta da dominação Otomana, pararam no tempo. Já os países reconhecidos hoje como de Primeiro Mundo avançaram e construíram um código de valores civilizatórios que os faz críticos de suas próprias histórias.”

Esta consciência, longe de excluir, é o que permite aproximar e incluir.

Fiquei satisfeito ao ver que André Lajst,  um jovem brasileiro e israelense que escreve mensalmente para o The Jerusalem Post e para o The Times of Israel chegou à mesma conclusão. Não o conhecia e cheguei a seu texto novamente através do blog do Gustavo Chacra, onde também fiquei sabendo que André Lajst serviu a força aérea de Israel e é especialista em Terrorismo, segurança nacional e história israelense.

Vejam o artigo, que é claramente contra a islamofobia.

O SEQUESTRO DO ISLÃ

Lassana Bathily é muçulmano, proveniente de Mali, morava na França e trabalhava no Hyper Kasher, o mercado alvo de um ataque terrorista na última sexta feira, matando 4 reféns.

Bathily trabalhava para judeus, e na última sexta feira, arriscou a vida para salvar 15 judeus que estavam no supermercado. Sim, um muçulmano salvando judeus do terrorismo islâmico radical. Não seria tão trágico se não fosse tão complexo.

Jeannette Bougrab tem origens muçulmanas e perdeu o marido, um dos cartunistas mortos na quarta-feira em Charlie Hebdo.

Bougrab trabalhou no passado no governo do então presidente Nicolas Sarkozy como uma ponte entre o governo e os imigrantes para ajudá-los a se integrar na sociedade.

Ahmed Merabet era muçulmano e trabalhava como policial em Paris. No atentado na quarta feira, Ahmed foi assassinado pelos terroristas a queima roupa enquanto tentava combatê-los.

Com olhos clínicos podemos afirmar que a minoria da Alemanha nazista durante a Segunda Guerra mundial acreditava nas ideologias do partido, que a minoria dos japoneses era radical como os kamikazes suicidas, que a minoria dos russos era de comunistas radicais que matavam em nome da ideologia.

Sim, a maioria dos ataques terroristas hoje em dia é feita por muçulmanos radicais e extremistas, e a gigantesca maioria das vítimas desses ataques são muçulmanos também.

Paremos um segundo, e olhemos para a situação de maneira mais lógica e veremos facilmente que o terrorismo e o radicalismo islâmico aos poucos estão claramente tentando roubar algo que não pertence a eles: A religião islâmica em si.

Sejamos claros e verdadeiros, uma pequena porcentagem de muçulmanos no mundo são radicais e extremistas comparados com a quantidade de fiéis desta religião. Sabemos que não são um número pequeno de pessoas, porém ainda são a pequena minoria.

Esta semana vi um vídeo surpreendente no qual o Presidente do Egito Abdel El­Sisi discursava a um grupo de clérigos religiosos muçulmanos na Jordânia e disse claramente que estes radicais estão “roubando a religião” e que somente uma reforma rigorosa que venha de dentro do islã poderá combater de forma efetiva estes radicais. Ele tem razão. A solução duradoura para este problema virá de dentro do islã e não de fora.

Como judeu, israelense e sionista, servi ao exército do meu país onde vi muçulmanos e cristãos árabes também servindo ao Exército de Israel. Tenho amigos muçulmanos em Israel e conheço bem a opinião deles em relação ao terrorismo. E, claro, são radicalmente contra. Tento por um instante me colocar no lugar deles nestes momentos e tenho certeza que me sentiria tão triste e enlutado como estou na minha real identidade. Os muçulmanos de bem precisam ser fortes e ter motivação para criar as reformas e as devidas revoluções contra estes radicais terroristas que deturpam o islã e o interpretam da maneira que bem entendem.

Temos nosso papel neste progresso e um deles é não generalizar. É abrir uma porta a estas pessoas moderadas e não fechá-las. E caso tenham dúvidas, bom, Bathily, o funcionário muçulmano no supermercado Kasher, não pensou duas vezes ao arriscar sua vida para salvar 15 judeus.

Não acredito em utopias e em contos de fadas. Entendo o significado do terrorismo radical e a necessidade de combatê-lo. O que está acontecendo no mundo muçulmano e em especial na Europa é importante, é sério e merece toda nossa atenção e preocupação e principalmente e acima de tudo, da nossa razão.

CONCLUÍNDO

Quando André Lajst conclui que a solução virá de dentro do islã e não de fora, entendo que isto exija das lideranças moderadas não só condenar os atos terroristas como deixar claro que nenhum desenho de mau gosto, nenhum verso satânico, nenhuma opinião contra Maomé, Alá ou o Islã justifica agressões, assassinatos, chibatadas ou explosões. Sem este necessário primeiro passo a ideia de que secretamente concordam com a “vingança” persistirá, e com ela a islamofobia.

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