Você já reparou que as pessoas que enxergam democracia na Venezuela de Maduro são as mesmas que chamavam Fidel de “comandante” e se recusam a chamar Cuba de ditadura?
Não é coincidência. A razão é simples e antiga, cultivada desde o século XIX: Marx considerava a democracia e o estado de direito uma construção burguesa (as tais superestruturas) que precisavam ser destruídas para a implantação da primeira etapa do socialismo, a famigerada “ditadura do proletariado”.
Existem duas formas de chegar-se a este resultado.
A primeira é através de uma revolução sangrenta, seguida por uma ditadura que precisa de guardas armados nas fronteiras para impedir a própria população de fugir do inferno socialista.
A segunda é usando a “democracia burguesa” para chegar ao poder e, uma vez lá, aparelhar o estado e enfraquecer as instituições para uma eliminação gradual do Estado de Direito, além da expansão do controle estatal na economia, enfraquecendo a iniciativa privada para, no fim, extinguir a propriedade privada dos meios de produção.
Foi o caminho trilhado por Hugo Chávez na Venezuela e que Maduro encampou.
O PT e a esquerda em geral olham para todo aquele sofrimento como “dores do parto”. Acreditam que de lá emergirá um futuro grandioso.
Trata-se, evidentemente, de uma cegueira ideológica sádica, já que não existe um único caso conhecido em que tenha dado certo. A história da esquerda é a história do sofrimento que impingiu a sua própria gente em nome do bem.
Observando com atenção, vemos que existe uma loucura quase religiosa por trás destas escolhas. Repetem seguidamente receitas que resultam inexoravelmente em fracasso econômico e social; desprezam a experiência, a realidade e as leis básicas da economia; por fim, se agarram a uma teimosia vingativa que imaginam redentora.
Exagero? Não: apenas observação nua e crua.
A matéria de Mayela Armas para o The Wall Street Journal que reproduzo abaixo, de agosto de 2016, é mais um exemplo gritante do que venho afirmando: a esquerda tem enorme dificuldade em aprender com os erros, próprios ou alheios. E quando aprende alguma coisa, é preterida pelos velhos vícios. Prevalece o sadismo.
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Para Maduro, milagre econômico da Venezuela virá de marxista espanhol
Por Mayela Armas para o The WALL STREET JOURNAL
Na esperança de um milagre econômico que possa salvar seu país, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, depositou toda sua confiança num professor marxista espanhol com tanto poder que Maduro o chama de “Jesus Cristo da economia”.
Alfredo Serrano, desconhecido economista de 40 anos cuja barba e o cabelo comprido também contribuíram para a comparação com Jesus feita por Maduro, tornou-se o principal conselheiro econômico do presidente, segundo várias autoridades do Partido Socialista Unido e assessores do governo.
Sua ascensão se deu à custa de outros conselheiros que, embora também de esquerda, encorajaram o presidente a tomar medidas mais convencionais para lidar com os problemas econômicos da Venezuela, como relaxar os rígidos controles cambiais do país, dizem essas pessoas.
Em vez disso, os conselhos de Serrano defendendo um controle estatal ainda maior sobre a indústria e a oferta de alimentos têm, em grande parte, moldado a resposta do presidente à crise econômica, dizem autoridades do partido. Tais medidas, argumentam eles, ameaçam prolongar a mais profunda recessão da história do país — assim como a hiperinflação e a severa escassez de alimentos que a acompanham.
“Todas as tentativas para reformar, coordenar com o setor privado, foram bloqueadas por ele”, diz um legislador veterano do partido governante.
O Ministério da Informação e o gabinete de Maduro não responderam a pedidos de comentários sobre a atuação de Serrano como consultor. O próprio Serrano não quis responder a perguntas específicas sobre seu poder de influenciar o presidente ou sobre as críticas de autoridades do partido. Numa entrevista dada ao The Wall Street Journal em maio, ele minimizou a importância de seu papel no governo de Maduro.
“Maduro lê muito e ele tem meus artigos e livros”, disse ele.
O professor espanhol, contudo, acompanha o presidente em viagens ao exterior, escreve discursos presidenciais e indica ministros, segundo membros do partido do governo. Um executivo europeu do setor de petróleo, por exemplo, descreveu como a petrolífera estatal da Venezuela informou a ele que seu pedido para comprar uma concessão de petróleo este ano precisaria ser aprovado por Serrano. Nem a Petróleos de Venezuela SA nem Serrano responderam às perguntas sobre a concessão.
Serrano “é um homem muito inteligente e muito qualificado, que está construindo novos conceitos da nova economia do Século XXI”, disse Maduro numa feira de livros em 2015, ao admirar um exemplar de “O Pensamento Econômico de Hugo Chávez”, um livro de Serrano lançado em 2014 (sem edição em português). “Ele é um homem corajoso.”
Um exemplo da influência de Serrano foi a decisão de Maduro de ignorar um plano recente de reforma econômica que havia solicitado à União de Nações Sul-Americanas (Unasul), bloco de esquerda que tem a Venezuela como um dos países fundadores.
O então vice-presidente da área econômica, Miguel Pérez Abad, aprovou o plano, que previa subsídios diretos para famílias mais pobres, o fim de controles sobre o câmbio e a redução de controles de preços, dizem dois membros da missão da Unasul que trabalharam no plano.
“Era uma boa proposta, muito razoável”, diz José Antonio Ocampo, economista da Universidade Columbia, nos Estados Unidos, e ex-ministro das Finanças da Colômbia. Ele participou de duas reuniões preliminares da missão da Unasul neste ano.
Em maio, Maduro pediu que a missão apresentasse o plano diretamente a seu conselheiro espanhol, que se opôs a ele, diz um membro da Unasul presente na reunião. Serrano disse que o plano não tinha uma reforma fiscal e tirava muito poder do Estado, diz a fonte.
Em entrevista ao WSJ uma semana após a reunião, Serrano disse que desconhecia qualquer proposta da Unasul. Pérez Abad, que liderou o plano de reforma, não quis comentar sobre as propostas. Maduro o demitiu em 2 de agosto numa de suas frequentes reformas de gabinete, sem dar explicações. Numa série de posts no Twitter, Pérez Abad agradeceu ao presidente pelo posto que havia acabado de ocupar.
Depois de estudar economia em Barcelona e Quebec, Serrano veio para a América Latina em meados dos anos 2000 com um grupo de intelectuais espanhóis anticapitalistas que, mais tarde, formariam o partido de esquerda espanhol Podemos, que vem abalando o sistema bipartidário da Espanha. Os intelectuais logo começaram a aconselhar líderes de esquerda na Bolívia e Equador sobre economia, a criação de programas sociais e a elaboração de novas constituições.
Em 2014, Serrano criou um centro de estudos no Equador chamado Centro Estratégico Latino-Americano de Geopolítica (Celag). A biografia dele no site do centro diz que ele foi professor em oito universidades da Espanha e América Latina. Quando contatadas pelo WSJ, porém, nenhuma dessas instituições confirmou que ele ocupou um cargo permanente. Cinco delas informaram que ele havia dado cursos como professor visitante. As outras três informaram não possuir registros de que Serrano tenha lecionado nelas. Serrano não respondeu a perguntas sobre sua carreira acadêmica ou sobre as informações dadas pelo site.
Seu livro de 2014 sobre Chávez, em que ele chama o falecido mentor de Maduro de planejador virtuoso, foi o que chamou a atenção do atual presidente da Venezuela para o economista e o catapultou para o círculo de poder do país, diz uma autoridade do partido do governo.
Uma de suas ideias mais incomuns é que a inflação é causada pela luta de classes e que a burocracia estatal deveria ser substituída por comunas revolucionárias responsáveis por desde a assistência médica à produção de alimentos. Maduro seguiu essa recomendação ao ordenar que conselhos comunitários e soldados distribuíssem alimentos básicos diretamente para as famílias, segundo dois legisladores do partido do governo.
Enquanto isso, a crise se aprofunda. A inflação do país deve ultrapassar 700% até o fim do ano e o PIB deve encolher 10% em 2016, segundo o FMI.
A maioria dos economistas atribui a enorme escassez de alimentos da Venezuela aos controles de preços e expropriações. Serrano, porém, culpa um “sistema de distribuição ineficiente, nas mãos do capitalismo especulativo”, que permite às empresas acumularem produtos, diz ele. Ele também diz que forças reacionárias locais e estrangeiras estão travando uma guerra econômica contra a Venezuela.
“Serrano é um exemplo típico da esquerda europeia que vem para a América Latina experimentar coisas que ninguém quer em casa: domínio do Estado, controle de preços e câmbio fixo”, diz José Guerra, legislador venezuelano de oposição e ex-economista-chefe do Banco Central.
(Colaboraram Mariana Martínez e Juan Forero.)
RETOMO PARA CONCLUIR.
Seria cômico se não fosse trágico.
O que emerge desta matéria é a ignorância arrogante de um presidente caricato e de um professor marxista especialista em se autopromover, que tem como efeito mais visível de suas ideias a capacidade de espalhar dor e sofrimento.
Se a aparência de Alfredo Serrano lembra Jesus Cristo para alguns, sua práxis me lembrou o personagem “O Untor” do romance Polígono das Secas, de Diego Mainardi. Ele caminha pelo sertão nordestino untando diferentes pessoas, como se fosse um santo, mas de sua obra o que brota é tumor e morte.
Observe que a matéria já tem um ano e suas ideias apenas aprofundaram a crise.
Definitivamente o governo da Venezuela não é modelo para nada, a não ser do que não se deve fazer em política e economia, mas é fundamental compreender que da mesma maneira que a atual crise econômica brasileira é quase 100% responsabilidade de Lula e Dilma, a crise da Venezuela foi construída tijolo a tijolo pelas escolhas gerenciais de Hugo Chávez. Maduro colheu os resultados e foi ainda mais fundo nos erros, mas a tragédia estava anunciada desde quando Chávez começou a sabotar a iniciativa privada e o estado de direito.
A única forma do Brasil escapar de crise semelhante é os eleitores e os formadores de opinião compreenderem que os modelos cultivados pela esquerda prometem o paraíso mas entregam o inferno.
Também ajudaria que esta direita burra e autoritária que anda tão assanhada fosse estudar um pouquinho.
A solução está na democracia e no estado de direito, como provam os países de primeiro mundo. Se vamos copiar alguém, que tal o Canadá, a Finlândia ou a Noruega?
Artigo de Paulo Falcão.
Sugestão de leitura complementar, que enumera os principais erros de Hugo Chávez:
O PT, A VENEZUELA DE HOJE E O BRASIL DE AMANHÃ.
Como disse Roberto Ellery “A única coisa boa na nota emitida pelo PSOL a respeito do que está acontecendo na Venezuela é que fica bem claro qual o tipo de liberdade que eles defendem. O PSOL só não é mais perigoso que o PT porque não tem nada nem de longe parecido com a rede do PT envolvendo sindicatos, redações, universidades, igrejas e demais braços da sociedade civil organizada. Se tivesse seria um horror absoluto.”
Observem que não há qualquer crítica a Maduro e ao processo de destruição do Estado de Direito na Venezuela:
Em defesa da soberania da Venezuela
23/02/2019
A autoproclamação do direitista Juan Guaidó como presidente da Venezuela, num golpe liderado por Trump, para abrir caminho a uma intervenção direta no país vizinho, colocou a América Latina como centro de tensão da situação global. Ao operar diretamente essa política, o imperialismo ianque mais uma vez age fortemente em “seu quintal”. Essa mudança na política dos EUA foi possível devido ao sucesso de Bolsonaro no Brasil e Duque na Colômbia. Sem esses suportes fundamentais, a situação seria diferente.
Depois de inúmeras tentativas fracassadas de intervenções do imperialismo na Venezuela no ano passado, o governo Trump articula e fortalece um boicote econômico criminoso que apenas penaliza ainda mais o povo venezuelano que vive uma crise econômica, política e social já alguns anos. O crescimento do movimento de migração, as violentas manifestações de rua (“guarimbas”) como as que ocorreram em 2016-2017 e a eleição dos governos de extrema direita na América do Sul colocaram os EUA numa nova ofensiva contra o país.
A posse de Nicolás Maduro, no dia 10 de Janeiro de 2019, logo dias depois da posse de Bolsonaro fortaleceu o plano estadunidense de apoio aos grupos da direita venezuelana, como a Mesa de Unidade Democrática (MUD), a não reconhecer o presidente eleito. Neste contexto o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, no dia 23 de janeiro, Juan Guaidó (Vontade Popular), se autoproclamou presidente da Venezuela, sendo reconhecido imediatamente pelos governos de Donald Trump (EUA), Iván Duque (Colômbia) e Jair Bolsonaro (Brasil), bem como pelos governos de Paraguai, Peru, Canadá, Equador, Chile e Argentina.
A ameaça de intervenção militar deixa evidente que o que está em curso não é uma operação em “defesa da democracia” ou uma ação militar “humanitária”, tal como quer nos fazer crer o governo dos EUA e o “Grupo de Lima”. A “defesa da democracia” é contraditória com a imposição de um presidente não eleito e o chamado à “rebelião militar”, da mesma forma que as sanções econômicas impostas à Venezuela são contraditórias com a “ajuda humanitária”. Como um fantoche do governo dos Estados Unidos, tropas colombianas e brasileiras vão para as fronteiras com a Venezuela neste sábado, 23 de fevereiro, levar suposta “ajuda humanitária”, porém, com um nítido objetivo de provocar um conflito. O que realmente está em curso é a tentativa de uma intervenção militar externa combinada com uma ação golpista desde dentro, visando retomar o controle do país.
O verdadeiro interesse dos EUA em consonância a oposição de direita é se apropriar das riquezas da Venezuela e restaurar o neoliberalismo no país, impondo uma dura derrota, sangrenta se necessária, à luta do povo venezuelano que insiste em decidir seu próprio destino. Nunca é demais recordar que a Venezuela detém as maiores jazidas petrolíferas do planeta, superando inclusive a Arábia Saudita. Enquanto Arábia Saudita detém reservas com a cifra de 267 bilhões de barris de petróleo e uma participação mundial de 15,7%, a Venezuela já conta com 298,3 bilhões de barris, com uma participação mundial de 17,5%. Sem dúvida, uma intervenção vitoriosa na Venezuela abrirá caminho para novos retrocessos em toda a América Latina, subordinando direta e definitivamente nosso continente aos interesses dos EUA. Ao mesmo tempo, significará o fortalecimento de governos reacionários a autoritários afeitos a atacar os movimentos sociais e os setores mais explorados e oprimidos da sociedade.
Frente a isso, o PSOL vem publicamente se opor a qualquer ingerência externa nos assuntos da Venezuela. Somos absolutamente contrários à interferência do governo Bolsonaro nos assuntos venezuelanos e qualquer agressão política ou militar contra a soberania da Venezuela. Ao mesmo tempo, repudiamos as sanções econômicas impostas pelos EUA e seus sócios ao país, bem como uma possível intervenção militar externa ou mesmo um golpe militar. Frente a gravíssima situação da Venezuela é urgente que os povos latino-americanos nos unamos em solidariedade ao povo venezuelano e exijamos que os governos da região rejeitem qualquer acordo com Donald Trump, seja apoiando a farsa da campanha de “ajuda humanitária”, a retórica de “defesa da democracia”, ou qualquer cessão de territórios, bases ou operações militares que signifiquem medidas de guerra contra a Venezuela. Rejeitamos qualquer saída ou superação da crise que signifique uma ameaça à paz ou fora dos marcos democráticos e constitucionais da Venezuela e apoiamos o povo venezuelano que luta e resiste ao golpe imperialista.
Neste sentido repudiamos de maneira contundente as provocações do governo brasileiro nas fronteiras da Venezuela, inclusive incitando conflito e violência, simplesmente sendo transmissor automático do imperialismo de Trump. Por fim, conclamamos todas as organizações de esquerda e movimentos sociais a formarem comitês em defesa da soberania da Venezuela e de solidariedade ao povo de Simon Bolívar, o “Libertador”.
A realidade vai se impondo.
https://globoesporte.globo.com/rs/futebol/times/gremio/noticia/gremio-se-compadece-com-crise-tira-licao-de-vida-e-faz-doacoes-na-venezuela.ghtml
Ainda existe quem negue o óbvio, mas ficam mais ridículos a cada dia. Veja esta notícia do El País:
Linguagem stalinista na Venezuela
Constituinte criminaliza os membros da Assembleia Nacional e os julga como “inimigos do povo”
https://goo.gl/Bwfmk4
A situação social da população por lá é trágica. De acordo com informe do secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, Luis Almagro, os índices de mortalidade infantil e de fome na Venezuela superam até mesmo os da Síria, país que vive uma guerra civil desde 2011.
O mais inacreditável é que a esquerda continua achando que este desastre é o caminho.
Obrigado pela contribuição.
A longa luta da Venezuela contra o imperialismo.
https://goo.gl/k2D5GG
Fábio, vejo que você é o autor que cometeu este artigo. Eu o li em dezembro de 2015 e deixei o seguinte comentário na ocasião, como pode ser visto lá:
Ao questionar uma comparação impertinente entre Maduro e Obama e seus respectivos países, publicada por Fábio Melo no Facebook, sugeri a leitura de dois artigos relacionados à questão da democracia na Venezuela, a saber:
A VENEZUELA E A VERDADEIRA NATUREZA DO LOBO. http://wp.me/p4alqY-eS
e
PORQUE A VENEZUELA NÃO É UMA DEMOCRACIA:http://wp.me/p4alqY-2b
Recebi como resposta o link para o presente artigo “A longa luta da Venezuela contra o imperialismo”.
Li o artigo e conclui que era absolutamente necessário fazer algumas ponderações.
Não vou retomar a questão ideológica, quero tratar apenas da total e absoluta ignorância do autor sobre o funcionamento da economia e a ausência de raciocínio lógico quando tece considerações sobre a relação EUA-Venezuela no que diz respeito ao petróleo.
Vamos ao primeiro ponto. O autor diz:
“Em primeiro lugar, a Venezuela é um país capitalista. No capitalismo os meios de produção estão nas mãos da iniciativa privada. Portanto, se falta alimentos básicos é porque há um óbvio boicote dos capitalistas que detêm os meios de produzir estes alimentos básicos. O negócio funciona da seguinte maneira: os empresários donos de certos setores da indústria alimentícia estocam seus produtos e as estantes dos supermercados ficam vazias. É uma tática muito utilizada pelos capitalistas: nos anos 1970 o governo socialista de Allende sofreu do mesmo mal. O povo, se fosse um protesto contra a falta de alimentos, deveria protestar nas fabricas ou com os donos dos mercados.
Mas ai meu caro leitor, você pode até perguntar: “mas o responsável por manter os alimentos nos mercados é o governo; o governo deve pressionar os capitalistas”. Acontece que a Venezuela não é uma ditadura. O governo não pode obrigar, não pode impor as coisas como numa ditadura. Isto os jornais não dizem, não é?”
Apenas alguém que não sabe o que significam termos como insumos, custos fixos, custos variáveis e folha de pagamento pode dizer que um empresário produz e não vende. Só há uma hipótese disso acontecer: quando o preço de mercado do produto está tão baixo que não remunera o custo de transportar o produto para os pontos de venda (como ocorre eventualmente com produtores de tomate, por exemplo). Para uma indústria é mais complicado ainda. Fazer isto em um momento de equilíbrio, tentando pressionar preços, já é temerário e não é sustentável por mais de uma ou duas semanas. Fazer isto em momentos de desequilíbrio, como o que vive a Venezuela, é suicídio. O mesmo vale para o dono do supermercado. Não há sentido nenhum em ter o produto e não vendê-lo. É como você pegar um taxi para entregar uma encomenda urgente, que vai lhe render dinheiro, mas ao invés de andar, manda o motorista ficar estacionado na porta de sua casa, como o taxímetro ligado. Depois de oito horas, paga o motorista e entra em casa, ainda com a encomenda, dizendo orgulhoso que prejudicou o sistema de transporte da cidade e que vai fazer isto amanhã também. Nesta comparação, você é o empresário, o taxista e o carro são seus custos fixos, que você terá que pagar mesmo sem fazer a entrega. Não precisa ser nenhum gênio para ver que é uma estupidez.
Afirmações deste tipo brotam da cabeça de quem acha que “ser proprietário dos meios de produção” é sinônimo de posse de uma fonte inesgotável de recursos, capaz de financiar grandes prejuízos auto infringidos.
Pois bem: vou contar algo que deveria ser óbvio: empresário odeia perder dinheiro, entre outras coisas porque sabe que isto pode leva-lo à falência.
O que aconteceu na Venezuela foi uma crescente intervenção estatal na economia, desregulando totalmente o mercado. Não falta apenas papel higiênico, faltam os insumos para produzir o papel higiênico. Isto se repete com todos os produtos. Toda a cadeia produtiva está com dificuldades de funcionar.
Entendo que você ainda pode ter suas dúvidas, afinal sou um liberal malvadão e o autor um socialista bonzinho, mas reconheça: a lógica está do meu lado.
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Hoje, 10 de agosto de 2017, para ressaltar ainda mais o despreparo do autor no que tange ao funcionamento da economia e de empresas privadas, acrescento esta sugestão de leitura:
O PT, A VENEZUELA DE HOJE E O BRASIL DE AMANHÃ.
Se for ou cheirar à esquerda é “Ditadura”, mas se for de direita “nossa democracia é imperfeita”… Hipocrisia pura.
Não é hipocrisia, é bom senso. É chamar as coisas pelo nome que elas têm.
Não, é chamar as coisas pelo nome que te for mais conveniente.
Você está confundindo as coisas. Este é um hábito cultivado pela esquerda.
Não. Tu é que finge não entender.
Pra ti só é ditadura se tu não concorda com quem está no comando.
Você está enganado, Rod Rodrigues. Democracia se define pela ocorrência de eleições regulares, existência dos poderes executivo, legislativo e judiciários independentes, atuando em um sistema de pesos e contrapesos e observância do Estado de Direito. Sem isto, não é democracia, seja governo de direita ou de esquerda.