Crédito da Ilustração: Kleber Sales/CB/D.A Press.

Revelei há algum tempo que foi a partir de um debate com Fernando Nogueira da Costa, do departamento de Economia da UNICAMP e que serviu o governo Lula até 2007, que decidi produzir ou compilar análises que tivessem um caráter didático e de alerta sobre as consequências não intencionais de certas escolhas econômicas, já que na ocasião o professor não reconheceu os erros que levaram à crise de 2014/2015 e, exatamente por isso, demonstrava não ter aprendido nada com os erros em série que cometeram os economistas da Nova Matriz Econômica.

A presente compilação é, hoje, mais um esforço de alerta que tenta contribuir com o debate econômico atual para evitar a repetição de crises desnecessárias. Mas se os rumos do governo Lula III forem mantidos, a compilação será, no futuro não muito distante, mais um esforço da série “eu avisei”.

Temos abaixo o link para o programa Painel WW de 03 de setembro de 2023 que contou com as presenças de Marcos Lisboa, economista que presidiu o Insper e foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda do governo Lula de e 2003 a 2005; Tatiana Pinheiro economista chefe da Galápagos Capital; e Gabriel Barros, economista-chefe e sócio da Ryo Asset. O programa dialoga de forma bem articulada tanto com o que publicou nos últimos dias outro economista, Amilton Aquino, quanto com artigo que publiquei em Julho de 2018 e que analisava o que acontecia em Portugal naquele período.

O material reunido dá uma certa visão panorâmica dos fatos. Se você se interessa pelo tema, dedique algum tempo às análises. Segue abaixo o que publicou Amilton Aquino. Os demais materiais estão nos links.

“Os jornais noticiaram o mega déficit nas contas públicas do mês de julho como o segundo maior déficit da série histórica. Acontece que o pior déficit foi justamente na pandemia. Ou seja, este não pode nem deveria ser parâmetro para qualquer tipo de comparação. Logo, o déficit de julho é, sem dúvida, o pior resultado da nossa história: R$ 35 bi em um só mês, o que torna o déficit de R$ 45 bi do primeiro semestre quase um bom resultado.

Não por acaso, já rola um balão de ensaio nos bastidores para revisar as metas também para 2024 assim como a flexibilização (ainda maior) do já frouxo “arcabouço fiscal” já remendado antes mesmo de entrar em vigor.

Como já pontuei, Lula recebeu o primeiro superávit desde 2013 com o bônus de uma safra recorde no primeiro trimestre que puxou o nosso PIB muito acima do esperado, o que fez melhorar alguns indicadores (queda do dólar, da inflação, aumento de investimentos estrangeiros, etc.). No entanto, tudo isso está sendo revertido muito rapidamente pela incapacidade do governo em fazer qualquer aceno para o corte de gastos. Pelo contrário, os acenos são sempre na direção contrária: aumentos salariais de servidores, novos concursos, novo PAC, novos subsídios e, pasmem, novos empréstimos e financiamentos de ditaduras amigas.

Ou seja, Lula já desperdiçou a grande chance que tivemos na década de 2000 cometendo os mesmos erros de agora. Também na época herdou superávit e um país pronto pra crescer com as reformas estruturais feitas pelo governo anterior que ele fez questão de demonizar, iniciando também o odioso “nós contra eles” que pariu Bolsonaro. Não por acaso, um ano antes de assumir, em 2002, o Brasil era apontado pelos grandes investidores como uma das quatro grandes nações prontas para emergirem a potências globais, ao lado da China, Índia e Rússia, o tal BRIC (ainda sem o “s” da África do Sul).

Pois bem. O superávit primário de 3% herdado de FHC foi transformado em -3% no final do governo do PT. China, Índia e Rússia acenderam no cenário global e o Brasil, ah, o Brasil… ficamos com mais uma década perdida. E pra piorar o Lula 3 está especialmente empenhado em transformar os BRICS na liga dos regimes totalitários.

Por enquanto o saldo da entrada de dólares no país ainda é positivo, apesar da tendência de queda ainda mais consistente em agosto. O mesmo acontece com a criação de empregos que ainda é positiva, mas muito abaixo do que vinha sendo registrado no ano anterior.

Ainda dá tempo de corrigir, mas a julgar pelas ações do governo, restritas a aumentar impostos e gastos, o mais provável é que a arrecadação caia ainda mais no médio prazo, criando a tempestade perfeita com o aumento dos juros e da dívida já em pleno vapor.

Ou seja, temos um novo desastre à vista. E dessa vez não vou querer impeachment. Quero ver o PT colher tudo que está plantando para depois não colocar a culpa da crise no impeachment como faz no caso da Dilma.”

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P.S. ainda necessário:

Isso não é uma defesa do Governo Bolsonaro, que foi uma tragédia em áreas fundamentais como Saúde, Meio Ambiente, Educação, Pesquisa, Cultura etc. Foi uma tragédia também porque deu voz e potência a uma parcela da população brasileira que, como o próprio Bolsonaro e sua prole, se ressente da cultura & civilização, conceitos que constituem a espinha dorsal das maiores conquistas da humanidade em termos de liberdade, direitos sociais e qualidade de vida. São pessoas que nem entendem o que escrevo aqui. Logo, o que faço nos artigos que publico e nos debates de que participo é apenas a defesa da racionalidade econômica, da democracia, da liberdade de expressão e de imprensa. Não é porque Bolsonaro é um desastre que vou fechar os olhos para os desastres, os erros e os sonhos autocráticos do PT.

Mas na área econômica, com 2 anos de pandemia e o vale-tudo para tentar ganhar a eleição, a gestão foi bastante adequada, embora a tenha criticado em vários aspectos.