Venho repetindo uma pergunta que encontra no aumento para juízes federais uma resposta clara.

A pergunta é:que destino teria qualquer dinheiro extra no caixa do governo (seja por aumento de arrecadação ou por licença para destelhar o Teto de Gastos)?

Alternativa A) Seria gradualmente transformado em aumento de salários e mordomias para servidores dos três poderes (e seus fundos deficitários de aposentadoria), bem como convertido em emendas parlamentares paroquiais e subsídios para empresas e setores com poder de influência sobre o governo;

 

Alternativa B) Seria aplicado com foco na população mais pobre em políticas de renda mínima no curto prazo e de forma continuada em educação de qualidade, saneamento, segurança alimentar, saúde e moradia, fatores com real poder de reduzir a desigualdade de oportunidades e viabilizar uma geração com melhor formação e maiores chances de multiplicar sua própria renda.

Os penduricalhos aprovados para engordar o salário dos Juízes Federais dão uma resposta clara à pergunta e contribuem diretamente para a perpetuação da desigualdade.

Como já disse em outros artigos, é fundamentalmente a forma como o Estado gasta o dinheiro dos impostos que tem real poder de reduzir (ou não) a desigualdade.

Diante do que pudemos ver até agora do próximo governo Lula, a licença para gastar não contempla qualquer racionalidade dos gastos públicos, mas sim sua expansão descontrolada, que vai acelerar ainda mais a dívida pública e, por consequência, a transferência de renda do Governo para o sistema financeiro que compra os títulos que lastreiam a gastança.

As consequências podem demorar algum tempo para gerarem uma grande crise, como a que explodiu de vez em 2015, mas não falha.

Sem Equilíbrio Fiscal, nem os atuais benefícios sociais estão garantidos. E com as ideias desse pessoal da Nova Matriz Econômica nos assombrando novamente, certamente a redução da desigualdade continuará apenas como discurso de campanha, boicotada por aqueles que já estão bem abrigados sob as asas do Estado (e sobre os ombros da população).

Fiquem com a reportagem do Estadão.

JUÍZES FEDERAIS GANHAM PENDURICALHO POR TEMPO DE SERVIÇO E PODEM EMBOLSAR ATÉ R$ 2 MILHÕES

 

Por Luiz Vassallo

28/11/2022 | 05h00

ÓRGÃO DE CONTROLE ATENDE A PEDIDO DE ENTIDADE E BENEFICIA QUEM INGRESSOU NA CARREIRA ANTES DE 2006; AJUFE DESTACA RESPEITO AO TETO

Órgão administrativo e de fiscalização, o Conselho da Justiça Federal (CJF) restabeleceu para magistrados desse ramo do Poder Judiciário um benefício salarial extinto há 16 anos. Conhecido como quinquênio, o aumento automático de 5% nos vencimentos a cada cinco anos voltará a cair nos contracheques de quem ingressou na carreira federal até 2006. A medida prevê ainda o pagamento retroativo do penduricalho com correção pela inflação.

O conselho afirma não ter a estimativa do impacto financeiro da decisão tomada no dia 16 deste mês. São contemplados apenas integrantes da Justiça Federal – Ministério Público, Justiça do Trabalho e Justiças Estaduais não respondem ao órgão. Segundo projeção do consultor legislativo do Senado Luiz Alberto dos Santos, feita a pedido do Estadão, um juiz empossado em 1995, por exemplo, poderá receber R$ 2 milhões em atrasados.

adicional por tempo de serviço (ATS) e uma série de vantagens que ficavam de fora do teto foram eliminados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) – órgão de controle de todo o Judiciário. Na época, o vencimento da magistratura fora limitado a R$ 21 mil, equivalentes ao que recebiam os ministros do Supremo Tribunal Federal(STF). Hoje, o teto é de R$ 39,3 mil, e, se aprovado no Congresso o reajuste de 18% pedido pela Corte, chegará a R$ 46,3 mil.

Em maio deste ano, o Senado retomou o debate para ressuscitar o ATS acima do teto nas folhas de pagamento de juízes e também procuradores. Foi uma nota técnica de Santos que alertou os impactos da proposta de emenda à Constituição (PEC) que recria o benefício de forma mais abrangente – R$ 7,5 bilhões anuais. Deixado de lado na via legislativa, o adicional agora volta para parte da magistratura federal pela via administrativa.

O CJF atendeu a um pedido da Associação dos Juízes Federais (Ajufe). A entidade argumenta que o adicional não podia ter sido cancelado para juízes que tivessem o alegado direito adquirido antes da decisão do CNJ. A entidade usou como base precedente do STF que beneficiou servidores e considerou que o bônus deveria continuar a valer para aqueles que já o recebiam.

Julgamento

Responsável por julgar a demanda, o CJF é um colegiado formado em parte por integrantes da própria Justiça Federal. Compõem o órgão ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e desembargadores federais.

Relatora do caso e presidente do STJ e do CJF, Maria Thereza de Assis Moura votou contra o pedido. Segundo a ministra, no processo citado como precedente “o autor era um servidor estadual aposentado que não recebia seu benefício pelo regime de subsídio”, que, adotado na magistratura, prevê pagamento em parcela única, sem gratificações e adicionais.

A presidente do Tribunal Regional Federal da 6.ª Região (TRF-6), Mônica Sifuentes, por sua vez, abriu divergência. A desembargadora afirmou que a implementação do regime de subsídio não devia eliminar o adicional, apontado por ela como um dos “direitos adquiridos e atos jurídicos formal e materialmente” vigentes desde o modelo anterior.

A tese de Sifuentes venceu por sete a quatro. Conforme a decisão, ficou estabelecida a “reintrodução” do adicional à “folha de pagamento, em parcela separada, sujeita à correção pelos mesmos índices de reajuste do subsídio, e o pagamento, respeitando o teto remuneratório do serviço público”. Em uma nota distribuída aos magistrados logo após o fim da sessão no conselho, a entidade autora do pedido afirma que o caso é uma “vitória histórica da Ajufe e da magistratura federal”.