
O artigo de Guido Mantega na folha de 4 de janeiro de 2022 não é um acaso ou uma opinião isolada. Tem o aval de Lula e do PT, além do apoio de muita gente. Resta saber se o artigo é fruto de mera esperteza política, sabedores que promessas milagrosas são mais sedutoras do que falar da necessidade de ajustes, ou se reflete convicções, o que seria mais grave, porque indicaria que o PT e seus economistas avessos à matemática não aprenderam nada com os erros do passado.
A julgar pela experiência dos Governos Dilma, a segunda hipótese ganha relevo.
Há um ótimo artigo de Alexandre Schwartzman reproduzido no blog em 2015 que traduz em forma de fábula a tragédia de erros que foi aquele período. É bastante didático e tragicômico. Recomendo revisitá-lo, já que aparentemente a memória coletiva anda fraca.
Diante das mentiras e dados errados apresentados no em seu artigo, seria de se esperar que o próprio jornal publicasse um destaque apresentando tais pontos, mas não o fez. Mas felizmente o mesmo Alexandre Schwartzman nos socorre com alguns lembretes em seu Twitter sobre a ameaça expressa por Guido Mantega de repetição da tragédia como farsa.
GUIDO MANTEGA: “A inflação estará recuando dos 10% de 2021, para algo em torno de 6%, às custas de uma feroz política monetária contracionista, que vai paralisar a economia brasileira.”
SCHWARTZMAN: O que o ex-ministro omite é que entre 2014 e 2015 a inflação subiu de 6,4% para 10,7% e só caiu em para 6,3% às custas de uma política monetária ainda mais contracionista que a atual, que levou a Selic para 14,25%% ao ano.
O juro real (já descontada a inflação esperada) para um ano, que era de 4,5% ao final de 2014, bateu 7,5% já em maio de 2015.
GUIDO MANTEGA: “No final de 2014 o Brasil era um país pouco endividado, com uma dívida pública líquida igual a 32,5% do PIB.”
SCHWARTZMAN: A dívida bruta, que é o que interessa, já havia pulado de 51,5% do PIB em 2013 para 56,3% do PIB em 2014, marcando a reversão da tendência de queda. Em 2015 ainda atingiria 65,5% do PIB, avançando ainda para 69,8% em 2016 (67,5% em maio de 2016, quando Dilma foi afastada).
GUIDO MANTEGA: “As gestões fiscais dos governos Temer e Bolsonaro foram um desastre que, desde 2016, só acumulou déficits primários.”
SCHWARTZMAN: Esquece que o superávit primário que existia até 2013 (1,7% do PIB, ou 1,4% do PIB no caso do governo federal) se tornou déficit já em 2014 (0,6% do PIB, federal 0,4% do PIB). Em 2015 subiu para 1,9% do PIB (governo federal 1,9% do PIB) e 2,5% até maio de 2016 (federal 2,4% PIB).
Temer entregou déficit primário de 1,5% do PIB (federal 1,7% do PIB), ou seja, reduziu o déficit herdado, sem eliminá-lo, contudo.
GUIDO MANTEGA: “Não à toa, a partir de 2008 o Brasil passou a receber avaliações positivas de grau de investimento, pelas principais empresas de classificação de risco.”
SCHWARTZMAN: O Brasil perdeu o grau de investimento em 2015, antes de Temer e Bolsonaro…
GUIDO MANTEGA: “Pela primeira vez, em 500 anos, a renda dos mais pobres cresceu mais do que a dos mais ricos e a desigualdade diminuiu no país.”
SCHWARTZMAN: A razão entre a renda dos 10% mais ricos e 40% mais pobres (não achei dos 50% mais pobres) vem em queda desde 1993. Caiu 2,2 pontos percentuais no governo FHC, 6,6 pontos percentuais no governo Lula e 1,4 ponto percentual no governo Dilma (dados só vão até 2014).
GUIDO MANTEGA: “É uma herança maldita que fará com que o PIB de 2022 retroceda para os valores de 2013.”
SCHWARTZMAN: Omite que em 2015 o PIB já era inferior ao observado em 2012. Nos 12 meses encerrados em junho de 2016, ainda sob o governo Dilma, o PIB era menor que o de 2011…
Segue abaixo a íntegra do artigo de Mantega. No final há indicação de três outros artigos que a meu ver podem ajudar a compreender melhor a dimensão trágica das teses abaixo.
BOLSONARISMO LEVOU BRASIL À CRISE, E RETOMADA VIRÁ COM O SEU FIM.
Série detalha pensamento econômico de pré-candidatos; grupo de Lula propõe programa democrático de desenvolvimento socioeconômico
4.jan.2022
Guido Mantega
Foi ministro do Planejamento (2003-2004), presidente do BNDES em 2005 e ministro da Fazenda (2006 a 2014).
No final de 2022 poderemos comemorar o enterro de um dos piores governos da história republicana brasileira. Se for feita uma autópsia no cadáver do bolsonarismo, serão descobertos fortes indícios de um neoliberalismo anacrônico, que não é mais praticado em nenhum país importante do mundo.
A economia brasileira terminou 2021 estagnada e vai continuar assim por todo o ano de 2022. De acordo com a pesquisa Focus do Banco Central (03/01/22), o crescimento do PIB de 2022 não deve passar de 0,36%.
Com esse crescimento pífio, o desemprego permanecerá alto e deverá repetir, em 2022, os 12% de 2021, enquanto a inflação estará recuando dos 10% de 2021, para algo em torno de 6%, às custas de uma feroz política monetária contracionista, que vai paralisar a economia brasileira.
A fome e a pobreza continuarão aumentando ao sabor do descaso do governo. O auxílio de R$ 400 no Bolsa Família vai beneficiar apenas uma pequena parcela dos necessitados.
Para agravar essa situação, há um avanço da pandemia da Covid-19 e de novas gripes, que podem reduzir o crescimento dos países ricos, afetando diretamente as exportações brasileiras. O banco central americano (Fed) anunciou um endurecimento da política monetária em 2022, com elevação dos juros, o que deverá causar a saída de capitais estrangeiros do país.
Entre 2019 e 2022 o PIB brasileiro terá um crescimento médio de 0,5% ao ano. Um pouco melhor do que o decréscimo médio de -0,13% ao ano do governo Temer, entre 2016 e 2018.
Em vez de colocar o Estado em campo para socorrer as vítimas da crise e estimular a retomada do investimento, como fizeram os países do G20, o governo Bolsonaro reduziu o auxílio emergencial de 2020 para 2021, e vem diminuindo o investimento público desde o início do seu governo.
Essa situação dramática, produzida pela política econômica do ministro Guedes, contrasta com o desempenho da política econômica social desenvolvimentista dos governos Lula e Dilma.
Entre 2003 e 2014 o PIB brasileiro teve um crescimento médio de 3,5% ao ano, enquanto o desemprego caiu para abaixo de 6% da população economicamente ativa. No final de 2014 o Brasil era um país pouco endividado, com uma dívida pública líquida igual a 32,5% do PIB, enquanto o Banco Central acumulava reservas de US$ 374 bilhões. Não à toa, a partir de 2008 o Brasil passou a receber avaliações positivas de grau de investimento, pelas principais empresas de classificação de risco.
Os governos Lula foram marcados pela elevação dos investimentos e por uma política fiscal responsável, que compatibilizou aumento de verbas sociais com os maiores superávits primários da economia brasileira.
A pobreza caiu de 26,7%, em 2002, para 8,4%, em 2014. Pela primeira vez, em 500 anos, a renda dos mais pobres cresceu mais do que a dos mais ricos e a desigualdade diminuiu no país. Foi assim que o Brasil saiu do mapa da fome e tornou-se o sexto maior PIB (Produto Interno Bruto) do mundo, em 2011.
Mas os governos neoliberais reverteram parte desses avanços sociais e econômicos. O governo Temer fez a reforma trabalhista que reduziu direitos e salários, e ainda aprovou a lei do teto de gastos, que produziu inúmeras distorções na gestão orçamentária. As gestões fiscais dos governos Temer e Bolsonaro foram um desastre que, desde 2016, só acumulou déficits primários.
Está claro que não existem saídas fáceis para consertar a situação dramática que será deixada pelos governos Temer e Bolsonaro. É uma herança maldita que fará com que o PIB de 2022 retroceda para os valores de 2013.
Para enfrentar essa situação desafiadora, as forças democráticas deverão elaborar um programa de desenvolvimento econômico e social para a reconstrução do país.
Certamente esse programa deverá conter medidas emergenciais de combate à fome e à miséria, que propiciem condições de sobrevivência da população mais pobre.
O governo deve coordenar um ambicioso plano de investimentos públicos e privados, de modo a ampliar a infraestrutura e aumentar a produtividade, gerando muitos empregos.
É necessário desenhar um programa de investimentos de longo prazo que dê sustentação ao crescimento e ao aumento da produtividade.
RETOMO PARA CONCLUIR.
Para ter uma visão mais panorâmica sobre a economia brasileira, há uma boa síntese no artigo O PAÍS DO JEITINHO JÁ ESTEVE NO CAMINHO CERTO.
Estudar o que ocorreu em Portugal é outra forma menos sujeita a paixões de abordar o tema. Nesse caso há um artigo bem completo, de 2018, chamado QUERO QUE O BRASIL “ABANDONE A AUSTERIDADE” IGUAL PORTUGAL.
Por último, o artigo abaixo permite observar as muitas e felizes semelhanças entre o Plano Real e os ajustes feitos pelas admiradas socialdemocracias nórdicas. Trata-se de um substancial estudo de Lars Mjøset, que foi Pesquisador e diretor de pesquisa do The Institute for Social Research de Oslo (1987-1995), é diretor da Escola de Estudos de Ciências Sociais da Universidade de Oslo, desde 1995 e professor do Departamento de Sociologia e Geografia Humana da Universidade de Oslo desde 1996 chamado A VIRADA NEOLIBERAL NAS POLÍTICAS ECONÔMICAS NÓRDICAS DAS DÉCADAS DE 1980 E 1990, com tradução de Marcelo Aleixo e revisão de Fernando Moreno.
Recomendo muito a leitura de todos.
Contribuição para avivar memórias e desconstruir narrativas:
Amilton Aquino publicou hoje em seu Facebook o texto abaixo que corrobora integralmente o que temos defendido e acrescenta alguns alertas:
“Hoje a Gleise Hoffman deixou mais claras as intenções do PT ao escolher Guido Mantega para traçar as linhas gerais de um eventual novo governo Lula. “O partido tem que dizer claramente o seu ponto de vista sobre a economia, mesmo que isso assuste potenciais aliados (…) Não tem necessidade de carta ao povo brasileiro, as pessoas já conhecem o Lula. Não precisamos mais de um Palocci”. Ou seja, o PT está tão confiante na vitória que já se dá ao luxo de falar claramente o que vai fazer, um verdadeiro banho de água fria nos otimistas que acreditavam numa reedição do Lula responsável fiscalmente do primeiro mandato. Mantega não foi escolhido à toa. Ele é o maior símbolo do desastre petista. Foi ele quem conduziu a guinada na economia que levou a crise mais aguda da nossa história, maior até que a da pandemia.
Ou seja, o PT não aprendeu nada e vai continuar tentando reescrever a história. A narrativa já está no artigo. A culpa é do tal “neoliberalismo” (e do lavajatismo, claro!). Até 2014, o último ano do Mantega como ministro, estava tudo lindo. Aí veio o segundo mandato de Dilma, que ele faz questão de esconder, e tudo muda. Aliás, a Gleisi praticamente isenta Dilma de qualquer culpa. “O Joaquim Levy, que é liberal, é o culpado pelo que aconteceu. Ele induziu Dilma a fazer coisas que não deveria ter feito”. Sim, ela disse isso!
Mantega poderia explicar, por exemplo, o porquê de ter sido substituído por um “neoliberal”. Por que ele, ou alguém progressista, não foi escolhido para tapar o buraco de R$ 170 bi de déficit de 2015?
O fato é que Mantega tentou de tudo para não ter que recorrer à austeridade “neoliberal”. Pedalou as contas públicas, deu subsídios generosos aos maiores grupos do país (subsídios estes que hoje ninguém mais consegue tirar), tentou segurar a inflação interferindo nos preços da Petrobrás e do setor elétrico, deu ainda mais crédito a quem já estava endividado até o pescoço… Até que a bomba estourou. E como sempre, no colo de um “neoliberal”.
Mas como são maus esses neoliberais! Ainda esta semana vi um gráfico do economista Paulo Gala onde ele tenta atribuir todo nosso fracasso a duas décadas onde o “neoliberalismo” teria quebrado nossa tradição desenvolvimentista. A primeira década, claro, teria sido a de 90, com Collor e FHC, que não teriam mérito algum em corrigir a bagunça herdada dos anos 80, com inflação de mais de 1000% ao ano. Aí Lula assume em 2003, e mesmo mantendo toda a política econômica “neoliberal” de FHC, já entra na conta do Paulo Gala como a volta do “desenvolvimentismo”, não por acaso a época em que passamos a lucrar em dobro com o boom de commodities. Com o segundo governo Dilma, o boom de commodities dá uma arrefecida e os problemas ressurgem para repetir mais uma década perdida. E, de repente, o segundo governo do PT, magicamente, torna-se “neoliberal”. Ou seja, todo o bônus do crescimento anabolizado artificialmente entra na conta do “desenvolvimentismo”, enquanto todo esforço para colocar as contas em dia, a recessão decorrente, é culpa do tal “neolibealismo”.
Se não fosse a porralouquice do Bolsonaro, 2022 poderia ser o ano do déficit zero. Sim, o teto de gastos funcionou. Reduziu gradativamente a curva explosiva da dívida. Levando em conta que o governo Temer foi abreviado pelo Joesley Day e pela famigerada greve dos caminhoneiros e o governo Bolsonaro pegou uma pandemia que aumentou a dívida pública em um trilhão em apenas um ano, terminar 2022 com um déficit fiscal de R$ 49 bi, com 10% a mais de endividamento não será de todo ruim, apesar do Bolsonaro. A Dilma, em dois anos, conseguiu aumentar nossa dívida bruta em 20 pontos percentuais.
Enfim, o PT volta no cenário perfeito. Tendo o sarrafo baixíssimo do Bolsonaro como contraponto e, claro, depois da redução do déficit. Hora de acelerar novamente na gastança. E assim seguimos nossa tradição “desenvolvimentista”, entremeada por uma nova década perdida “neoliberal”. Por que não somos ainda uma nação desenvolvida com tanto histórico de “desenvolvimentismo”?
Claro, por causa dos “neoliberais”!”
Erros que levaram o Brasil à sexta maior economia mundial.
Que volte e erre novamente!
Sua opinião indica que ainda não entendeu a relação entre o sexo e o parto, ou entre o desequilíbrio fiscal e a crise que lhe sobreveio.
O Brasil conquistou a Nota de Grau de Investimento em 2008, depois de 12 anos de Plano Real. Quando, em 2008, abandona-se os fundamentos do Real e tem início a Nova Matriz Econômica, a crise começa a ser gestada. Os incentivos do governo a setores específicos da economia geraram um crescimento artificialmente acelerado no início, mas aos poucos as distorções foram surgindo, como tão bem descreve a teoria dos ciclos econômicos da Escola Austríaca.
Assim a alavancagem artificial da economia transforma os ganhos de curto prazo em graves consequências de longo prazo, que roubam o potencial de crescimento do futuro e jogam os países que mergulham em tais experiências na combinação fatídica de estagflação – recessão com inflação, dois fenômenos que deveriam ser contraditórios, mas foram bem visíveis a partir de 2014.
Não sei por que se acha que aumentar a Selic é medida contracionista no Brasil. Quer dizer, eu sei, é por que é assim nos EUA e não conseguem fazer economia como ciência, ou seja, olhando a realidade empírica. No Brasil baixar a Selic não diminui juros de mercado mas deprecia a moeda, reduz consumo geral e provoca diminuição do produto. É só consultar séries históricas
Há um equívoco empírico claro em sua afirmação: baixar a Selic não reduz o consumo. Ocorre que o efeito exige uma curva de tempo para ser percebido.
Então, Bolsonaro é avanço? Se não, quem o seria? Doria? Moro? Ocê tá de brincadeira. E que chamada mais ardilosa para o seu comentário…eu li esse artigo do Guido Mantega, viu? E muita gente aqui também leu. Não jogue no lixo a sua honestidade política.
Honestidade política é um termo que traz alguma ironia involuntária nesse Brasil do compadrio, mas ok, vamos adotá-lo. Isso pressupõe debate, o que significa falar e ouvir. Ou, em nosso caso, escrever e ler. Nesse sentido, tenho deixado claras minhas críticas a Bolsonaro e Paulo Guedes, bem como tenho sugerido insistentemente que se conheça melhor o caminho adotado pelas socialdemocracias nórdicas.
Logo, seu comentário soa estranho. Bem, nem tão estranho se nos lembrarmos que se recusa a ler os artigos que já lhe indiquei e que poderiam lhe tirar dessa vala comum da economia sem matemática.
Infelizmente você tem preferido o conforto de sua caverna ideológica. Mas deixo aqui mais uma vez o link para o substancial estudo de Lars Mjøset, sugerido novamente no final do artigo acima:
https://neoliberais.com/2021/01/25/a-virada-neoliberal-nas-politicas-economicas-nordicas/
Você apresenta a SUA VERSÃO dos fatos (há outras versões) como sendo a única e verdadeira, e sobre ela alicerça a SUA OPINIÃO (há outras opiniões) como sendo a infalível a partir do LUGAR SOCIAL de onde você vê a realidade, ou seja, o ponto de vista da classe dominante. É como se você estivesse numa caverna vendo na parede as sombras do que você mesmo projeta e tomá-las como sendo a realidade. Chamar a CONSCIÊNCIA DE CLASSE de caverna ideológica pega mal pra você, dá a impressão de que você não sabe o que é consciência de classe nem o que é ideologia. Mas você sabe, não é?
Claramente você confunde ideologia com fatos. Sim, a percepção do fatos passa pela ideologia, mas os fatos seguem sendo fatos.
Apresento uma visão que enumera fatos confirmados pelos participantes. Minha ideologia e meu conhecimento me permitem reconhecer a relação de causa e efeito entre tais eventos. Oferece visões externas sobre problemas semelhantes para ampliar a condição de entendimento de eventuais leitores sobre o assunto em si complexo.
Com ideologia ou sem ideologia, foram as escolhas que fizeram que criaram a crise que colheram. Naquela época, como hoje, muito avisaram das consequências que viriam. Naquela época, como hoje, muitos preferiram ignorar os alertas porque acreditam em ideologia, mas não na matemática. Naquela época, como hoje, fica novamente o registro do alerta. Talvez, e aqui uso um talvez esperançoso, se lesse o que escrevi e o que sugeri como leituras complementares no presente artigo, entendesse que nem tudo é ideologia. A matemática e as relações de causa e efeito na economia são, muitas vezes, realidades para todos, independente de ideologias.
Imagine um técnico da seleção brasileira que tenha deixado a equipe em 2012, volte a dirigir o grupo 10 anos depois. E que à sua disposição só tenha atletas das campanhas anteriores. Essa é a situação de um possível governo Lula em 2023. Não deve ter havido renovação dos quadros petistas nos últimos anos com novos e bons quadros técnicos e intelectuais. Ele só dispõe dos mesmos. Dos que não o abandonaram nos seus piores e dramáticos momentos. Será previsível e até compreensível, que leve-os junto ao poder e ao fracasso inevitável.
A situação é grave porque me parece que eles de fato não compreendem que foi o abandono das diretrizes do Plano Real e a implantação da Nova Matriz Econômica que gerou a crise que atingiu o Governo Dilma já em 2014, mesmo com todas as maquiagens e truques. Será que não há ninguém ali capaz de enxergar o óbvio?
Os “acertos” dos neoliberais desde Joaquim Levy e aprofundados por Temer/Meirelles e Bolsonaro/Guedes certamente são o caminho para o “avanço”. É só ver como está a economia brasileira após anos de políticas liberais. Um retumbante fracasso. É neste caminho que o Brasil deve seguir?
A leitura desapaixonada dos 4 links propostos no artigo dará uma resposta adequada a seu questionamento.
Wagner Sousa A privatização da Valle foi um erros dos “neo liberais “?
Foi o PSDB que privatizou, não foi? Até onde sei, o PSDB aplicou um programa liberal. E que a população preferiu não dar continuidade. Veja, Luiz Baptis não quero entrar em uma discussão ideológica, mas, a meu ver, o Brasil precisa de uma combinação de políticas que contemplem uma complementação entre Estado e Mercado, uma articulação entre os dois. Não é Estado ou Mercado, mas Estado mais Mercado. No Brasil muitos defendem uma visão radical de redução do Estado, que é a visão do Guedes, por exemplo. Isso não funciona, é o que estou criticando. Coréia do Sul, Japão, EUA, Alemanha, todos esses países apoiam empresas sediadas em seus territórios. O governo Biden deu uma guinada a favor de políticas industriais nos EUA. Por que o Brasil deve ficar pensando que “reformas”, abertura e privatizações vão resolver todos os problemas? A meu ver, não vão.
Dos 4 links propostos, este dá uma visão panorâmica do que aconteceu aqui:
Este outro permite enxergar as semelhanças entre o Plano Real e as reformas que salvaram as Socialdemocracias Nórdicas:
https://neoliberais.com/2021/01/25/a-virada-neoliberal-nas-politicas-economicas-nordicas/
Taxa Selic alta numa inflação de consumo com ganho real do salário mínimo faz sentido, não faz sentido é Selic alta em momento de baixo investimento, baixo consumo e manutenção do salário mínimo.
Sobre a questão da queda do Gini, a diferença ocorrida entre 95-02 e 03-10 é absurdamente diferente, nunca houve tanta distribuição de renda quanto na época do governo de Lula.
Ainda em 2014 com diversas políticas que possamos até criticar sobre uma ótica política, mas não econômica, Dilma deixou o país no primeiro mandato com a menor taxa de desemprego da história.
Já em 2015 em meio a crise política, que também há neste governo você teve erros claros de tentativa de manutenção da base política pela Dilma em políticas econômicas discutíveis, no entanto a crise política de 2015-2016 foi externa ao governo já a atual é causada pelo próprio governo.
São casos complexos de se analisar, mas a falta de política de distribuição de renda e direitos colocou a gente numa situação onde mais da metade da população passa por algum tipo de insegurança alimentar.
Com todas as críticas a política de Dilma no segundo mandato eu ao menos não lembro de liberação de 1,3 Tri para liquidez bancária enquanto criticava política de distribuição de renda.
Obrigado por seus comentários, mas suas contestações cometem o pecado (infelizmente comum) de não enxergar a relação de causa e efeito entre o descontrole crescente das contas públicas e a crise que lhe sobreveio. Se tiver paciência para seguir os 4 links sugeridos no artigo vai ter uma visão mais abrangente da questão e, provavelmente, compreenderá que a crítica que fiz ao artigo de Mantega é justa e merecida.
E sem mencionar a tipificação do crescimento – aumentaram o PIB, não via geração de emprego, produtividade, eficiência, mas via antecipação de demanda. Via pagamento futuro e contratação de dividas sem trabalhar a arrecadação futura.
Sim, Marcus. O custo dessa alavancaram sem lastro é um dos pontos que os economistas que não acreditam na matemática têm dificuldade em compreender. Os leigos, mais ainda.