“Você vai entrar na minha sala?”, disse a Aranha para a Mosca.
Este é o primeiro verso do famoso poema The Spider and the Fly, de Mary Howitt, publicado em 1828. É uma fábula moral que avisa crianças e jovens sobre os perigos de ceder ao apelo de estranhos. Também serve para alertar inocentes úteis sobre os riscos de alimentar a sedutora tecelã de armadilhas.
A lembrança me ocorreu em debates com pessoas de quem gosto profundamente. Na disputa entre Bolsonaro e o PT, a democracia já perdeu. Isto tem que ficar claro: as alternativas democráticas ficaram fora do segundo turno. Sem aprender a reconhecer o que é e o que não é democrático, nossa tragédia eleitoral não serve nem como recurso educativo.
Cada dia fica mais claro que, se o PT vencer, muitos inocentes de bom coração e má formação intelectual respirarão aliviados achando que salvaram a democracia, quando na verdade ajudaram a eleger e legitimar um Programa de Governo abertamente autoritário e viabilizaram a volta ao poder de uma quadrilha, em todos os sentidos.
O voto nulo e em branco, algo que nunca defendi, neste segundo turno talvez seja a única alternativa válida de protesto, a única forma efetiva de se dizer que não é possível escolher entre dois projetos autocráticos.
Mas voltemos aos que estão decididos a votar.
Bolsonaro tem aquela transparência dos brutos. Haddad e o PT, o enganador véu de discursos utópicos e práticas autoritárias.
Bolsonaro é um, o PT uma legião.
A estratégia do PT, embora arriscada, foi matar as alternativas do campo democrático e polarizar com Bolsonaro, apostando na repulsa ao fantasma de um golpe/governo militar ou de um governo alinhado com os militares.
Me recuso a fazer o jogo do PT. Me recuso a ser mosca em sua teia. Me causa espanto ver pessoas defendendo o PT como alternativa democrática. Não é. Repito: sem entender isto nossa tragédia eleitoral não serve nem como recurso educativo.
Outro detalhe importante: do ponto de vista da democracia e do estado de direito, o Programa de Governo de Bolsonaro é uma promessa clara de respeito à constituição, enquanto o do PT uma ameaça a ela. O de Bolsonaro promete paz, o do PT chama para a guerra.
Em 2017 publiquei um artigo chamado O Ovo da Serpente em que dizia:
(…) “O réptil já perfeitamente formado” estava evidente desde o momento em que Hugo Chávez começou a destruir a independência dos poderes venezuelanos, a adaptar a constituição a seus delírios messiânicos, à perseguir economicamente quem lhe fizesse oposição. Mas a esquerda aplaudia, em nome de um projeto chamado “Socialismo do Século XXI” gestado aqui no Brasil em um misto de congresso e “clube de amigos” chamado Foro de São Paulo.”
O artigo segue com a questão. Se tiver tempo, leia. O que interessa aqui é que “O réptil já perfeitamente formado” também está bem visível no programa do PT que, uma vez eleito, poderá dizer que seus projetos autocráticos foram igualmente eleitos. Lá está descrita a intenção de destruir o equilíbrio entre os 3 poderes e colocar em prática aqui o modelo de “democracia direta” de Hugo Chávez. Não é exagero. Não é força de expressão.
No curto prazo, nenhum dos dois ameaça seriamente a democracia ou os direitos individuais. Como diz Fernando Gabeira, citando Matias Spektor, da FGV, a sobrevivência da democracia não está ameaçada, mas a qualidade dela, sim. E isto já aconteceu, seja quem for o eleito.
Minha avaliação é de que Bolsonaro tem carisma, mas não tem herdeiros políticos nem um partido ideológico que leve mais longe suas ideias autocráticas. Na área econômica, as propostas de seu Plano de Governo estão no caminho certo.
Já Haddad é liderança de segundo escalão no PT, um partido ideológico que tem uma visão absolutamente errada da economia (ao menos a que está em seu Programa de Governo) e uma visão autocrática da política que o leva a se alinhar com todas as ditaduras mundo afora que sejam de esquerda ou que ataquem o “imperialismo” dos EUA.
Bolsonaro é autoritário, grosseiro e despreparado, mas não é e nem representa um projeto autocrático de longo prazo.
Já o PT, como sabemos, é mais refinado e sedutor, mas também autocrático e com um perigoso e insistente projeto de longo prazo.
Artigo de Paulo Falcão.
Para você entender melhor os contrabandos que o PT tentou implantar no Brasil com o Plano Nacional dos Direitos Humanos (PNDH) de 2010, veja este vídeo de 3 minutos. Só discordo da questão das prostitutas, que deveriam sim ser reconhecidas como trabalhadoras:
Acho que você e o Prof. Roberto Ellery se dariam bem. Olha o que ele disse.
“O bolivarianismo não existe. A Venezuela não existe. A Nicarágua não existe. O comunismo acabou e não se fala mais nisso. Cuba não existe. Coreia do Norte não existe. O partido da vice de Haddad não é o partido comunista do Brasil. O símbolo da foice e martelo não está em bandeiras de partidos nem em manifestações da esquerda. A esquerda da América Latina nunca falou em socialismo do século XXI para se referir ao chavismo.
O perigo que realmente existe é uma ameaça nazista. Existem países governados por partidos nazistas. A suástica aparece em bandeiras de partidos no Brasil que estão recebendo verbas do governo para participar das eleições. Manifestações contra o PT são tomadas por gritos de anauê e bandeiras vermelhas com suásticas pretas em um fundo branco. A direita da América Latina se apresenta como fascismo do século XXI.
Se você não enxerga as coisas assim é porque você sofreu lavagem cerebral da direita raivosa que odeia pobres e minorias. Se você não enxerga as coisas assim você é parte do problema. Assim falou o Grande Irmão injustamente preso por agentes da CIA, digo, agentes da nova Gestapo. Assim falou a Verdade. Assim falou o Partido.”
Obrigado pela contribuição.
Muito bom o artigo. Só não enxerga a teia do PT quem não quer. O Roberto Ellery fez uma análise da carta divulgada pelo PT como sendo do Lula que é uma espécie de prova cabal de tudo que você disse. A carta do Lula veio em boa hora para lembrar a todos quais as verdadeiras intenções do Partido. Acusações à imprensa e à justiça se combinam com discurso do “quem não vota no PT odeia pobres”, odeia o Brasil e etc. Lula, que é useiro e vezeiro em chamar os adversários de fascistas, mais uma vez lança mão do discurso “nós ou o fascismo” em uma adaptação do velho lema “socialismo ou barbarie’.
A leitura atenta da carta de Lula mostra bem onde está o perigo autoritário no Brasil, faz lembrar de onde vem o discurso de ódio como método na política. Se o capitão vai conseguir dar método as barbaridades que fala é algo que só o futuro vai mostrar, mas em Lula o método está pronto e acabado. Se o PSL vai virar uma poderosa máquina partidária a serviço dos planos de poder de Bolsonaro também é algo que só o futuro pode mostrar, mas o PT já é uma máquina poderosa a serviço do plano de poder de Lula. Por fim, como sempre insisto, a falta de reação à altura da sociedade organizada, da imprensa e dos poderes da República a mais essa provocação de Lula mostra mais uma vez que só existe um projeto de poder autoritário que conta com o silêncio, cúmplice ou coagido, das forças que costumam barrar esse tipo de aventura.
Obrigado pelos elogios e pela análise. Publico abaixo a carta do Lula, na íntegra:
Meus amigos e minhas amigas,
Chegamos ao final das eleições diante da ameaça de um enorme retrocesso para o país, a democracia e nossa gente tão sofrida. É o momento de unir o povo, os democratas, todos e todas em torno da candidatura de Fernando Haddad, para retomar o projeto de desenvolvimento com inclusão social e defender a opção do Brasil pela democracia.
Por mais de 40 anos percorri este país buscando acender a esperança no coração do nosso povo. Sempre enfrentamos o preconceito, a mentira e até a violência, e, mesmo assim, conseguimos construir uma profunda relação de confiança com os trabalhadores, com as pessoas mais humildes, com os setores mais responsáveis da sociedade brasileira.
Foi pelo caminho do diálogo e pelo despertar da consciência cidadã que chegamos à Presidência da República em 2002 para transformar o país. O povo sabe e a história vai registrar o que fizemos, juntos, para vencer a fome, superar a miséria, gerar empregos, valorizar os salários, criar oportunidades, abrir escolas e universidades para os jovens, defender a soberania nacional e fazer do Brasil um país respeitado em todo o mundo.
Tenho consciência de que fizemos o melhor para o Brasil e para o nosso povo, mas sei que isso contrariou interesses poderosos dentro e fora do país. Por isso tentam destruir nossa imagem, reescrever a história, apagar a memória do povo. Mas não vão conseguir.
Para derrubar o governo da presidenta Dilma Rousseff, em 2016, juntaram todas as forças da imprensa, com a Rede Globo à frente, e de setores parciais do Judiciário, para associar o PT à corrupção. Foram horas e horas no Jornal Nacional e em todos os noticiários da Globo tentando dizer que a corrupção na Petrobras e no país teria sido inventada por nós.
Esconderam da sociedade que a Lava Jato e todas as investigações só foram possíveis porque nossos governos fortaleceram a Controladoria Geral da União, a Polícia Federal, o Ministério Público e o Judiciário. Foi por isso, e pelas novas leis que aprovamos no Congresso, que a sujeira deixou de ser varrida para debaixo do tapete, como sempre aconteceu em nosso país.
Apesar da perseguição que fizeram ao PT, o povo continuou confiando em nosso projeto, o que foi comprovado pelas pesquisas eleitorais e pela extraordinária recepção a nossas caravanas pelo Brasil. Todos sabem que fui condenado injustamente, num processo arbitrário e sem provas, porque seria eleito presidente do Brasil no primeiro turno. E resistimos, lançando a candidatura do companheiro Fernando Haddad, que chegou ao segundo turno pelo voto do povo.
O que assistimos desde então foi escandaloso caixa 2 para impulsionar uma indústria de mentiras e de ódio contra o PT. De onde me encontro, preso injustamente há mais de seis meses, aguardando que os tribunais façam enfim a verdadeira justiça, minha maior preocupação é com o sofrimento do povo, que só vai aumentar se o candidato dos poderosos e dos endinheirados for eleito. Mas fico pensando, todos os dias: por que tanto ódio contra o PT?
Será que nos odeiam porque tiramos 36 milhões de pessoas da miséria e levamos mais de 40 milhões à classe média? Porque tiramos o Brasil do Mapa da Fome? Porque criamos 20 milhões de empregos com carteira assinada, em 12 anos, e elevamos o valor do salário mínimo em 74%? Será que nos odeiam porque fortalecemos o SUS, criamos as UPAS e o SAMU que salvam milhares de vidas todos os dias?
Ou será que nos odeiam porque abrimos as portas da Universidade para quase 4 milhões de alunos de escolas públicas, de negros e indígenas? Porque levamos a universidade para 126 cidades do interior e criamos mais de 400 escolas técnicas para dar oportunidade aos jovens nas cidades onde vivem com suas famílias?
Talvez nos odeiem porque promovemos o maior ciclo de desenvolvimento econômico com inclusão social, porque multiplicamos o PIB por 5, porque multiplicamos o comércio exterior por 4. Talvez nos odeiem porque investimos na exploração do pré-sal e transformamos a Petrobras numa das maiores petrolíferas do mundo, impulsionando nossa indústria naval e a cadeia produtiva do óleo e gás.
Talvez odeiem o PT porque fizemos uma revolução silenciosa no Nordeste, levando água para quem sofria com a seca, levando luz para quem vivia nas trevas, levando oportunidades, estaleiros, refinarias e indústrias para a região. Ou talvez porque realizamos o sonho da casa própria para 3 milhões de famílias em todo o país, cumprindo uma obrigação que os governos anteriores nunca assumiram.
Será que odeiam o PT porque abrimos as portas do Palácio do Planalto aos pobres, aos negros, às mulheres, ao povo LGBTI, aos sem-teto, aos sem-terra, aos hansenianos, aos quilombolas, a todos e todas que foram discriminados e esquecidos ao longo de séculos? Será que nos odeiam porque promovemos o diálogo e a participação social na definição e implantação de políticas públicas pela primeira vez neste país? Será que odeiam o PT porque jamais interferimos na liberdade de imprensa e de expressão?
Talvez odeiem o PT porque nunca antes o Brasil foi tão respeitado no mundo, com uma política externa que não falava grosso com a Bolívia nem falava fino com os Estados Unidos. Um país que foi reconhecido internacionalmente por ter promovido uma vida melhor para seu povo em absoluta democracia.
Será que odeiam o PT porque criamos os mais fortes instrumentos de combate à corrupção e, dessa forma, deixamos expostos todos que compactuaram com desvios de dinheiro público?
Tenho muito orgulho do legado que deixamos para o país, especialmente do compromisso com a democracia. Nosso partido nasceu na resistência à ditadura e na luta pela redemocratização do país, que tanto sacrifício, tanto sangue e tantas vidas nos custou.
Neste momento em que uma ameaça fascista paira sobre o Brasil, quero chamar todos e todas que defendem a democracia a se juntar ao nosso povo mais sofrido, aos trabalhadores da cidade e do campo, à sociedade civil organizada, para defender o estado democrático de direito.
Se há divergências entre nós, vamos enfrentá-las por meio do debate, do argumento, do voto. Não temos o direito de abandonar o pacto social da Constituição de 1988. Não podemos deixar que o desespero leve o Brasil na direção de uma aventura fascista, como já vimos acontecer em outros países ao longo da história.
Neste momento, acima de tudo está o futuro do país, da democracia e do nosso povo. É hora de votar em Fernando Haddad, que representa a sobrevivência do pacto democrático, sem medo e sem vacilações.
Luiz Inácio Lula da Silva
Parabéns pela análise sem histerismos, coisa rara ultimamente. Como disse o Paulo Roberto de Almeida, “Quase todas as postagens políticas em torno de fascismo, nazismo, homofobia, racismo e coisas afins, postadas como sendo manifestações de ódio de bolsonaristas, são FakeNews petistas. Espanto-me que pessoas inteligentes não percebam. Manifestos de “intelequituais” gramscianos temendo por uma ditadura militar de volta ao Brasil são patéticos, e uma ofensa à inteligência de pessoas normais, simplesmente sensatas. “Causos” relatando essas “perseguições” costumam também ser FakeNews deliberadamente construídas para criar esse clima de retorno à autocracia. Espanta-me, mais uma vez, que pessoas supostamente inteligentes participem dessas correntes fraudulentas, pensando “fazer o bem”.”
Obrigado pela contribuição.
Concordo que devemos olhar para a economia, porém, infelizmente, apenas a presença de um liberal como ministro da fazenda, não vão garantir que as reformas que o país precisa serão realizadas. A Dilma tentou e foi um desastre, o Levy não conseguiu fazer absolutamente nada, a incapacidade de diálogo com o congresso era latente, sem contar com a arrogância da chefe maior, quadro muito semelhante atualmente.
O Brasil vai perder a chance de escolher candidatos que são realmente liberais, para continuar com os extremistas, a paixão continuará norteando o voto da maioria, e de paixões em paixões a cada dia vamos nos aproximando do fundo do poço. Espero sobreviver a esse novo desastre.
Carlos, defendi o voto no núcleo democrático em diversos artigos. Este, é um manual de sobrevivência ao desastre.
Eu sei, acompanho e leio seus artigos. Só que não acredito no candidato 17, ele não apresenta nada substancial, nada de concreto. Se apresenta como um Messias de fuzil na mão, sem respeito por ninguém, quando questionado, sempre manda perguntar ao posto Ipiranga. Ele é fronteiriço demais!
O 13 é inteligente, o problema é o partido, e, seu núcleo centrado em torno de figuras carimbadas de nossa política.
Sinceramente, com as opções que se desenham, não creio que o país saia do atoleiro que se encontra.
Não se engane: Haddad é reconhecidamente um marxista-leninista, fã de Hugo Chávez, e lidera o PT em um momento de confrontação, não de pacificação. Nas eleições anteriores, Lula tinha um empresário como vice-presidente e Dilma um político conciliador. Nesta eleição, a vice-presidência ficou com uma política mais radical que o próprio Haddad e mais despreparada que o Bolsonaro. Se der PT, o desastre será muito maior que se der Bolsonaro.
Entre o PT carnívoro e o Bolsonaro, fico com o segundo, tanto na política quanto na economia. Você deveria pensar melhor nesta questão.
Estou a pensar e a refletir sobre todas as questões, tudo está sendo muito bem pensado.
Matéria da Isto É corrobora boa parte do que foi dito aqui. Seja com sua teia, seja com cavalo de Troia, o PT é o risco maior:
Seria um presente de grego
A uma semana da votação, Fernando Haddad tenta esconder o que o PT nunca teve pudores em escancarar. Por trás das cores, – agora verde e amarela da campanha –, encontra-se o exército de malfeitores petistas que levou o País à maior crise moral e político-econômica da história recente
Rudolfo Lago e Wilson Lima
19/10/18 – 09h30
Em um estudo de história que se tornou um clássico, Barbara W.Tuchman usa a lenda do Cavalo de Tróia, contada no poema Ilíada, de Homero, para comentar como muitas vezes os homens embarcam em apostas insensatas e sem sentido que deságuam em destinos trágicos. Como alguém poderia acreditar que um imenso cavalo de madeira recheado de soldados no seu interior fosse apenas um inocente presente para uma cidade? Barbara W.Tuchman batizou esses momentos de “A Marcha da Insensatez”. No Brasil dos nossos dias, o PT tenta apresentar à sociedade um ób vio Cavalo de Troia. Por trás das cores agora verde e amarelas da campanha de Fernando Haddad, apresentado como simpático ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, encontra-se o exército de petistas que, pela sequência de erros administrativos e envolvimento em escandalosos casos de corrupção, ajudou a levar o País à ruína – indubitavelmente a maior crise moral e econômica da história recente. Especialmente no segundo turno, a campanha de Haddad tenta esconder esse exército. Dourar a pílula de fortes tons rubros. Mas se trata de um aspecto inconteste, que o PT não teve pudores de ostentar quando a eleição parecia navegar em mares de águas menos turvas. “Na verdade, quem buscou transformar as eleições deste ano em plebiscito foi o próprio PT”, observa o cientista político Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília (UnB). Agora, Haddad posa de democrata, apresentando-se como alguém capaz de aglutinar as esquerdas. Como o herói que desponta na relva sobre o cavalo alado a fim de pacificar a nação. Tarde demais. O cavalo, como sabemos, é outro. Há menos de um mês, a história também era outra.
Na estratégia inicialmente montada, o ex-presidente Lula, preso por corrupção na sede da Polícia Federal em Curitiba, imaginava que o eleitor lhe daria uma ampla votação que soaria como uma absolvição popular. Que coroaria a tese do PT de que tudo não passou de uma injustiça. De uma punição política. De carona, seguiriam pelo mesmo caminho da redenção pelas urnas todos os demais petistas enrolados. O eleitor negou a Lula seu plano. Aceitou o formato plebiscitário, mas para derrotar a tese do PT. Deu a vitória na primeira etapa das eleições a Jair Bolsonaro, do PSL, levando Haddad no segundo turno a tentar construir uma impossível e falsa guinada no formato da sua campanha. “O PT apostava que prevaleceria no conjunto da sociedade a memória dos tempos de bem-estar e ascensão econômica dos primeiros anos do governo Lula. Mas o que prevaleceu foi a memória da confusão e da crise dos anos mais recentes, do governo Dilma Rousseff. Os casos de corrupção. E a falta de resposta para o crescimento da violência urbana”, analisa Leonardo Barreto. Ou seja: o que se pretendia escondido na barriga do Cavalo de Tróia, restou escancarado aos olhos do eleitor.
O exército oculto
A sequência de personagens ocultos começa pelo próprio Lula. O primeiro ato de Haddad no segundo turno foi ir à Curitiba receber do ex-presidente a ordem para que parasse de visitá-lo. Assim, a retirada de Lula da campanha já começou não sendo uma decisão de Haddad, mas uma determinação do próprio Lula. Na prática, porém, só o que mudou foi a ausência do contato pessoal entre o criador e a criatura. Emissários do PT têm ido a Curitiba e, na cela na sede da PF, colhem as orientações do ex-presidente para a campanha. Um desses emissários é o advogado Emídio Pereira de Souza, ex-prefeito de Osasco.
Velada ou explícita, a presença de Lula em um eventual governo Fernando Haddad é uma expectativa óbvia. Até porque Haddad foi colocado como candidato para exatamente ser um avatar de Lula. De forma ainda mais explícita do que aconteceu quando da escolha de Dilma Rousseff como sua substituta. Caso siga preso, será um conselheiro evidente, participando especialmente das articulações políticas e das negociações com aliados, sua especialidade. Se deixar a cadeia, Lula poderia vir a ter uma posição de destaque no Ministério de Haddad. A posição mais provável seria ministro das Relações Exteriores.
Dentro da linha inicialmente imaginada de transformar a eleição em plebiscito, o PT imaginava eleger Dilma Rousseff senadora por Minas Gerais. O plano de Dilma era obter um palanque no qual viesse a defender as realizações de seu governo e seguir reforçando ali a narrativa de que seu impeachment foi um golpe. Os votos mineiros lhe dariam a legitimidade para contar tal história. Dilma já era cotada no PT como provável presidente do Senado. Novamente, o plano fracassou. Dilma não foi eleita senadora. Mas segue no leque de opções de Haddad para algum posto técnico no governo. Como o Ministério das Minas e Energia, que ocupou no início do primeiro governo Lula.
Minas e Energia é a área que abriga a Petrobras, berço dos escândalos revelados pela Operação Lava Jato. E é da Petrobras que vem outro exemplo de quem se esconde na barriga do Cavalo de Tróia. O ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli é hoje um dos coordenadores da campanha de Haddad. Gabrielli responde a duas ações de improbidade por mal feitos cometidos no período em que comandava a estatal. No Tribunal de Contas da União (TCU), Gabrielli foi responsabilizado por danos cometidos à Petrobras e condenado a pagar, junto com o ex-diretor Internacional e ex-diretor da BR Distribuidora Nestor Cerveró, R$ 320 milhões, frutos de prejuízos ocorridos nas negociações com a refinaria de Pasadena.
O núcleo mais radical do partido pode estar agora mais escanteado do comando central da campanha de Haddad. Mas segue no PT e segue influente. Caso do ex-senador Lindbergh Farias (PT-RJ), de Fernando Pimentel, ex-governador de Minas Gerais, de Guilherme Boulos (PSOL), derrotado no primeiro turno, mas sempre um soldado de primeira hora de Lula e, por óbvio, do onipresente ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. No primeiro turno, em um momento que parecia mais favorável à vitória de Haddad, Dirceu declarou que o projeto do PT não era ganhar a eleição, era “tomar o poder”. A frase infeliz – numa democracia, o poder é sempre do povo, ninguém deve se arvorar o direito de tomá-lo – foi desautorizada por Haddad e, desde então, Dirceu submergiu. Mas segue distribuindo as cartas nos bastidores da campanha. Outra que mantém ascendência, mas foi aconselhada, nos últimos dias, a ficar na muda foi a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), seguidora também da linha mais radical. “Quem vai acreditar que José Dirceu, Gleisi Hoffmann e outros não terão influência em um eventual novo governo do PT com Haddad?”, questiona o analista político André Pereira César, da Hold Assessoria Legislativa. “A certeza da volta de diversos desses personagens é um problema para Haddad. O antipetismo tornou-se a marca mais importante desta eleição”, emenda Leonardo Barreto.
Nos bastidores, alguns partidos do chamado grupo progressista que o PT tenta trazer para junto de si no segundo turno, como o PDT e o PSB, admitem que a existência das figuras que ficaram marcadas pelos escândalos de corrupção e pelos erros de condução da era petista complicaram as composições no segundo turno. Ao aliar-se publicamente com o PT e, de quebra, com integrantes do partido que já foram condenados ou estão respondendo a ações judiciais, existe um receio de que as outras siglas acabem sendo contaminadas pelo sentimento antipetista que tem dificultado a vida de Haddad no segundo turno. Leonardo Barreto simplifica o sentimento: “Ninguém aposta em cavalo perdedor”. Principalmente, se for de Tróia.
O cavalo não esta na Iliada, ela termina com o funeral de Heitor domacorseis!
Obrigado pela observação.
Ninguém disse que o PT é democrático, só que ele não faz propaganda de como é bom bater em viado.
Não há qualquer chance de se seguirem os planos de governo. O do PT por ser impraticável à realidade, o de Bolsonaro por ser impraticável ao homem.
Não há legislativo para segurar o tirano fascista quando o tirano fascista elegeu mais de um terço do congresso.
Inocência é achar que um homem incompetente, inapto, inepto e inconstante segurá com uma constituição que tentou rasgar a vida toda porque sua subida ao poder exige que ele finja que não é um projeto de Hitler tropical.
Quanto a não ter herdeiros políticos, sugiro uma pesquisa nos nomes eleitos pelo país. Além da força de seu nome, tendo elegido filhos e ex-mulher, tem a força de sua influência, elegendo uma série de fanáticos religiosos em favor de um estado que aja em favor do seu amigo imaginário.
A democracia pode ter morrido. Os direitos humanos, o direito de resposta, a civilidade… Essas ainda estão na UTI
Minha posição é que os problemas na área econômica, previdenciária e de segurança pública já serão graves o suficiente para Bolsonaro abrir novas frentes de desgaste brigando com movimentos como o LGBT. Pessoas que o conhecem melhor e que sempre lutaram pela causa LGBT, como o Gabeira, concordam com minha análise. O Pondé, idem. Me parece que já teve início inclusive uma sinalização de paz entre Bolsonaro e LGBTs.
Quanto à constituição, ele está se elegendo destacando que a cumprirá, ao contrário do PT.
De qualquer maneira, o objetivo do artigo nem é defender o Bolsonaro. Como digo, algo que nunca defendi, o voto nulo e em branco, neste segundo turno talvez seja a única alternativa válida de protesto, a única forma efetiva de se dizer que não é possível escolher entre dois projetos autocráticos.
Mas me recuso a ser mosca na teia que o PT teceu.
Parece que o Cidão Gomes leu seu artigo antes de fazer este discurso:
Obrigado pela contribuição.
Fazer autocrítica é preciso!
Estamos diante do atraso, da barbárie, da mais absoluta incerteza em termos ideológicos, especialmente. O PT nos deixou a herança da desinformação política, alimentou a intolerância, dividiu a sociedade entre “nós e eles”.
O PT foi mais além, institucionalizou a desonestidade, a fantasia, a ilusão, a mentira, a corrupção… Práticas estas que foram o carro chefe dessa organização criminosa. Mas, o delito maior que o PT cometeu não foi contra o erário e, sim, contra o Socialismo, pois este foi atingido mortalmente.
Então, fazemos um apelo dramático àquilo que ainda resta do pensamento socialista, se é que ainda ficou alguma coisa. Vamos juntar os cacos e tentar renascer das cinzas. Sabemos das boas intenções de alguns camaradas, no entanto, o “inferno” está cheio dos bem intencionados. A hora é da “onça beber agua”. Estamos diante de uma verdadeira tragédia.
Assim sendo, percebe-se a inversão de conceitos, isto quando a direita explícita afirma, categoricamente, que o PT e PCdoB são comunistas e, o mais grave, atribui os delitos praticados por essas organizações criminosas ao Socialismo. Já a direita travestida de “esquerda”, representada pelo o PT e PCdoB, principalmente, também cometem seus delitos conceituais, senão vejamos: diz que impeachment é “golpe”, confunde conservadorismo com fascismo ou nazismo. Mudam de cor, “viram” religiosos e tentam esconder que Venezuela, Nicarágua, China, Cuba, Coreia do Norte nada têm a ver com o que seria um Socialismo verdadeiro. Assim sendo, procuram transformar mentiras em meias-verdades. No entanto, a verdade é uma das armas indispensável para a caminhada socialista, ela é revolucionária. Mesmo assim, o PT cumprindo seu nefasto papel contrarrevolucionário, transformou-se em mentiroso contumaz.
Por fim, devo esclarecer o seguinte: não sou um anti-petista, isto não. Sou um militante de esquerda, um anticapitalista que tem compromisso com a verdade, com o Socialismo. Por isso, embora lamentando e sentindo uma profunda dor no meu coração, não posso abraçar a mentira em detrimento da verdade e dos mais humildes, especialmente.
Ivanildo Cavalcante – militante de esquerda PSOL/CE.
Caro Ivanildo, embora não comungue em nada com suas preferências ideológicas, aprecio sua ética e sua clareza. Não é a primeira vez que debatemos o tema do socialismo. A versão que normalmente o vejo defender é utópica, em que estão presentes também a liberdade e a democracia. É a primeira vez que o vejo defender o socialismo pela revolução, o que, conceitualmente falando, significa eliminar um dos lados da equação na chamada Luta de Classes. Me parece que há um conflito conceitual insanável entre um socialismo com liberdade e democracia e a eliminação (física, inclusive), de um dos atores desta disputa. Concordo, evidentemente, que a teia de mentiras e corrupção tecida pelo PT merece todas as críticas. Como você, me recuso a cair nesta teia.
O PT não aprendeu nada e não mudou nada…continua o mesmo partido estelionatário de outrora…
E autoritário como sempre.
Parabéns. É preciso coragem para assumir esta posição em meios mais intelectualizados.
Concordo com você, mas sofro muito com isso. Aliás, o Gabeira, que você citou, também sofre.
Veja:
O Antagonista 15.10.18 08:58
Fernando Gabeira é acusado de ser condescendente com Jair Bolsonaro, desde que o entrevistou na GloboNews e não o tratou como um monstro.
Ambos foram colegas na Câmara dos Deputados e têm ideias e posições diametralmente opostas, a não ser em relação à corrupção.
Civilizado que é, Gabeira explica na sua coluna como a esquerda tosca errou e continua a errar:
“Minha experiência é de quem defendeu no Parlamento bandeiras que Bolsonaro ataca. As frases preconceituosas que ele eventualmente dizia são as mesmas que ouvimos nas ruas de todo o Brasil.
Minha relação com ele era de alguém que representava minorias, que até hoje apoio, com alguém que, no meu entender, estava mais perto do espírito majoritário das ruas.
Um ponto de convergência foi a luta contra a corrupção. Aliás, foi essa luta, no meu tempo de político, que me permitiu disputar com alguma chance eleições majoritárias.
Minha atitude não foi a de rotular de fascista, misógino, racista ou homofóbico, mas compreender que, por baixo dessas reações populares, existe uma insegurança sobre as mudanças culturais, e é preciso buscar avanços que não provoquem um retrocesso maior. Discussões em baixo nível no Congresso contribuem para abrir a Caixa de Pandora na sociedade. Hoje, infelizmente, está aberta.
O primeiro ponto de contato para enfrentar a maioria, portanto, é afirmar que movimentos minoritários e culturais não precisam ser coniventes com a corrupção dos partidos de esquerda, ter vínculos com o poder, nem depender financeiramente dele.”
E ainda:
“Não pensem que não tenho consciência do enorme trabalho que teremos. Desde o princípio, afirmei que a tática da esquerda estava errada. Além de não reconhecer seus erros, atrelou o destino ao de um homem na cadeia, supondo que estava repetindo a história de Mandela.
Ao atrelar o destino a Lula, o PT escolheu o caminho mais difícil. E a esquerda saiu dividida. Ciro talvez fosse um pouco mais competitivo. Ainda assim, a onda era muito forte.
Isso tudo é passado. Estamos quase no meio do segundo turno. As grandes escolhas foram feitas. Não criei essa situação. Forças poderosas estiveram em choque. É razoável que, prevendo o desfecho da batalha, comece a olhar para a frente, tentando desvendar, a partir da experiência, uma fórmula de lidar com o poder emergente.
Claro que, nos embates que nos esperam, outras posições vão surgir. Creio ter aprendido alguma coisa com a eleição de Donald Trump. Ali ficou claro que era preciso rever a tática, pois as críticas acusatórias só o faziam crescer.
Muita gente se disse surpreendida com o que aconteceu nas eleições. Algumas surpresas sempre acontecem. Mas quantos não quiseram ver, por achar que as coisas estavam se desenrolando de uma forma que não lhes agradava.
Bolsonaro era recebido por pequenas multidões nos aeroportos. Falava de luta contra a corrupção e, embora alguns concordem, foi ele que percorreu o Brasil defendendo-a. Bolsonaro falava de segurança pública, e não houve um programa de segurança alternativa contra o seu. Vi seu crescimento e notei como os ataques o fortaleciam.
Só me resta agora segurar a onda do jeito que aprendi. Não significa que esteja certo. Apenas uma voz.”
Obrigado pelo elogio e pela contribuição.