Faça uma pesquisa isenta e comprove: mesmo neste nosso Brasil de tantos problemas é possível observar que, para os pobres, para a parte de baixo da pirâmide, as condições socioeconômicas hoje lhes são mais favoráveis do que há 100 ou 50 anos.
Só nos últimos 30 anos pode-se observar que houve inclusão de trabalhadores rurais idosos no sistema de aposentadorias (mesmo sem terem feito qualquer contribuição), houve horizontalização do acesso à educação (mesmo com qualidade insuficiente), houve ampliação do sistema público de saúde (mesmo que longe do desejável), houve melhoria de renda etc.
Pode escolher o tópico: houve evolução. A exceção é a segurança pública, mas neste ponto a explicação está mais no hábito brasileiro de empurrar os problemas com a barriga. Dizer que é culpa da pobreza e da desigualdade é desinformação ou má-fé. Já tive este debate aqui.
É fácil compreender que a desigualdade não é, necessariamente, um problema em si.
Tomemos uma situação hipotética em que a base da pirâmide ganha U$ 2,00 e o topo ganha U$ 60,00 por exemplo. Ou seja, o topo ganha 30 vezes mais.
Passado algum tempo, vemos que a mesma base agora ganha agora U$ 3,00 e o topo U$ 600,00, ou 200 vezes mais.
É óbvio que a desigualdade de renda aumentou, mas a base da pirâmide recebe um valor 50% maior que antes. Observe: aumentou 50% apesar do aumento da desigualdade. Esta situação, com outros números, aconteceu tanto no governo FHC quanto no governo Lula, por exemplo.
Ou seja: é igualmente óbvio que, para quem está na base da pirâmide, a situação socioeconômica melhorou.
Isto não significa que não seja desejável trabalhar por diminuição da desigualdade de renda, mas significa, claramente, que seu aumento não é um mal em si.
Aliás, é fundamental lembrar aqui que desigualdade de renda é muito diferente de desigualdade social.
A grande questão com a desigualdade é atacá-la no que tange ao acesso à educação, saúde e segurança alimentar. A renda aqui é periférica.
Reduzir a desigualdade nestes três quesitos significa uma melhoria significativa de oportunidades para as pessoas mais pobres, capacitando-as para conquistarem aumentos de renda mais significativos.
A insistência de grupos como o Instituto Oxfam em focar na desigualdade de renda e não no incremento de renda e outros ganhos sociais evidentes para a base da pirâmide é, comprovadamente, uma estratégia de manipulação eficiente, mas ainda assim, apenas isto: uma estratégia de manipulação – que leva incautos a conclusões equivocadas.
As democracias liberais (todas elas capitalistas) produziram (inclusive para a base da pirâmide) as sociedades mais prósperas e livres da história. É sob democracias liberais que houve a maior conquista de direitos civis e trabalhistas, além de consistentes benefícios sociais.
O foco na desigualdade de renda parece ser o único argumento de peso que restou à esquerda para atacar as democracias liberais e o capitalismo, embora sempre esqueçam que nas experiências de socialismo real a desigualdade foi reduzida sim, mas não deixando todo mundo mais rico e sim deixando todo mundo mais pobre.
Não caia nesta.
Artigo de Paulo Falcão.
PS – Sobre as famosas pesquisas do instituto Oxfam, faço a análise de uma delas aqui.
Paulo, o artigo é bom. Me parece apenas que há um perigoso grau de estatolatria, que é a ideia que a solução de todos os problemas envolve o governo fazendo algo, nunca a população se unindo para resolver (a estatolatria é tão forte no Brasil, em parte graças à CF/88 que responsabiliza o governo em fazer tudo, que os brasileiros perderam a iniciativa de se unir e resolver os problemas, ao ponto que essa ideia nem passa mais na cabeça de muitos de nós intelectuais). Por exemplo no 2º artigo que você postou que você considera como “evolução” não o real acesso da população pobre aos serviços de saúde, educação, segurança de alta qualidade a baixos preços mas a população receber esses serviços do governo, como se terem acesso aos serviços por empresas privadas por baixos preços e alta qualidade não fosse “evolução” alguma. É em prática um socialismo fabiano, implantação do socialismo a prestações: “só vale se o governo estiver fazendo, então vamos estatizar mais e expandir mais o governo até estar tudo de alta qualidade”, claro que só vai resultar em totalitarismo, falência financeira do governo e falência da economia, como está ocorrendo na Suécia e ocorreu na Grécia.
Ramon, obrigado pela leitura e comentários, no entanto é necessário esclarecer alguns pontos. Em primeiro lugar, mesmo Adam Smith e Jonh Locke advogavam a necessidade do Estado se ocupando de áreas essenciais como segurança e educação.
Nada contra empresas privadas atuarem em educação e saúde, seja de forma autônoma, seja pelo sistema de vauchers, mas nada contra o estado se ocupar desta área.
Sistemas como o que temos no Canadá, Nova Zelândia, Noruega e Suécia, por exemplo, são interessantes.
O do Canadá me é particularmente interessante porque o sistema de impostos baseado em previsão orçamentária e cobrança de acréscimos caso a despesa seja maior que o previsto e devolução caso sejam menores cria uma consciência do cidadão sobre o conceito de “dinheiro público” como “dinheiro do pagador de impostos” e do papel do cidadão em vigiar o Estado para que seja eficiente, não “o provedor”.
No mais, se preservamos a democracia e o estado de direito (que contempla a propriedade privada dos meios de produção), inviabilizamos a essência do ideário socialista.
Quanto aos casos de Suécia e Grécia, me parecem muito diferentes. Vou indicar abaixo dois artigos em que um caso e de outro são abordados:
A AURORA NÓRDICA PARA O CAPITALISMO.
https://goo.gl/R23T22
e
A IGNORÂNCIA NÃO É UMA BENÇÃO.
https://goo.gl/4RMSmm
O problema do governo na educação Paulo, e em qualquer setor é: Qual será o limite? Quantos % da população recebendo educação estatal ou qualquer serviço estatal será o bastante?
Ninguém pensa nessas perguntas, então a resposta fica: nunca é o bastante e não há limite. Existir pobres não recebendo é motivo para expandir mais.
Cada vez que a esquerda sobe no ciclo do poder da democracia expande a serviços estatais, e com isso aumenta os impostos e a dívida estatal, e a direita raramente reduz, quando não aumenta também, até estar tudo estatizado.
É a estratégia do socialismo fabiano.
Outro problema é: nunca o governo pode oferecer um serviço por um custo menor que empresas privadas podem, pois o governo tem estrutura burocrática, enquanto empresas tem estrutura gerencial. Para o curso de Administração por exemplo, um aluno da USP custa R$ 11mil/mês, mais de 4 vezes que um aluno paga na rede privada.
Toda e qualquer expansão de atividade estatal tem altos custos, precisando de mais dinheiro vindo de impostos.
+ serviços estatais = + impostos – crescimento econômico de longo prazo + estagnação + oportunidades de corrupção + oportunidades de totalitários tomarem o poder.
A proposta é sempre bonita, mas quando é levantado os custos e comparados a outras alternativas, fica claro que fornecimento da maioria dos serviços estatal é uma das piores alternativas.
Por isso vouchers são tão importantes, até os abomináveis ditadores comunistas chineses implantaram vouchers na educação e saúde na China, pois o custo de fornecimento estatal do serviço é caríssimo.
E quanto mais o governo se preocupa com outras coisas, menos se preocupa e tem dinheiro para Segurança Pública, Judiciário e Defesa Nacional.
Considero razoável que o Estado atue nas áreas de saúde, educação e segurança de forma direta. Há experiências bem sucedidas, como a Canadense, em que a forma de tributação do contribuinte cria a consciência sobre a necessidade de eficiência e controle de gastos do Estado. Entendo suas ponderações, mas acho que há sim um caminho virtuoso em que o Estado atenha sua atuação àquilo que os liberais clássicos julgavam essencial.
Paulo Falcão, você não entendeu o que eu falei, não perguntei o que você acha, apresentei 3 problemas e você me deu sua opinião sobre a existência desses serviços, e nenhuma solução aos 3. É por isso que os citei, sabia que provavelmente você não sabia disso.
Se você ainda apoia esses serviços serem estatais:
1- ignora esses problemas que citei por apego emocional a essas ideias
2- ou não entendeu a gravidade deles
3- ou tem a solução para os 3 problemas.
Pelo visto não é o 3º caso.
Qualquer “sucesso”, como você diz, nessas empreitadas estatais é – temporário -, já que esses sistemas vão crescer lentamente, com custos mais de 3x que os privados, e o governo vai dar menos atenção e dinheiro às outras atividades essenciais para se focar nessas empreitadas, resultando em falência financeira no longo prazo.
O sistema de saúde canadense que você considera um sucesso já está falindo, Lee Friday mostra nesse artigo:
https://mises.org.br/Article.aspx?id=2884
Se apoia essas ideias, pelo menos descubra a solução a esses 3 problemas e poste aqui se lembrar.
Ramon, de fato não tinha esta informação. Obrigado pelo artigo arrasadoramente esclarecedor.
É as classes médias nos EUA e na Europa nos últimos trinta anos nadaram de braçada, não é mesmo? As conclusões de relatórios como Oxfam entre outros podem e devem ser criticadas, mas dizer apenas que tudo vai bem é um equívoco da mesma dimensão… Se não maior. Milhões foram incluídos nos mercados, mas proporção similar viu suas vidas serem destroçadas em condições cada vez mais precárias. Enfim, não perceber as implicações negativas da crescente desigualdade de renda é, para dizer o mínimo, um enorme falta de sensibilidade política.
Você não entendeu o que leu.
Reli o artigo e reitero o que escrevi… Dizer que a bandeira da distribuição de renda é a única que sobrou às “esquerdas” no mundo é não entender nada do cenário político mundo afora. As chamadas “esquerdas” não conseguem se articular por não serem capazes de apresentar uma solução para o desconforto das classes médias que vivem de uma forma cada vez mais precária. Não adianta dizer que a base da pirâmide se beneficiou se isto se dá a custa da maioria da população. Ou seja, as faixas de renda média vem sendo prejudicadas em políticas públicas que privilegiam os grandes grupos econômicos e os muito ricos. Donald Trump se elegeu porque soube dar alguma esperança à parcela da população que se vê cada vez mais excluída do cenário econômico e político. Enquanto, apontava as consequências do livre comércio manipulando as conclusões do público e dando falsa esperanças de resolvê-la, Hillary insistia na questão identitária. Que é provavelmente a maior bandeira das “esquerdas” mundo afora. Um grande equívoco na minha opinião. A grande bandeira deveria ser atacar as políticas públicas que promovem concentração de renda que você diz não ser um problema. Candidatos progressistas como Bernie Sanders abordam esta questão. Negar isto é negar a realidade dos fatos… Que a renda vem se concentrando com os ganhos de produtividade favorecendo descaradamente ao capital, especialmente o financeiro, nos últimos 40 anos e os cortes nas redes de proteção social incluindo, especialmente, aposentadorias, saúde e educação. Por isto as chamadas democracias liberais estão em crise, pois elas não mais conseguem atender aos anseios e demandas da maioria. Se você não entende isso talvez seja porque você confunde social democracia ou política progressista com comunismo ou socialismo. Ninguém está defendendo o Estado venezuelano… Não use argumentos ad absurdum para desqualificar outras visões de sociedade. O que se advoga é o resgate de uma sociedade em que os ganhos do trabalho sejam melhor distribuídos e o desenvolvimento seja mais responsável e sustentável para o meio ambiente e o social. O que as evidências fáticas trazidas pelos mais diversos autores acadêmicos ou não demonstram que não está acontecendo.
“Não adianta dizer que a base da pirâmide se beneficiou se isto se dá a custa da maioria da população.” Esta sua frase revela dificuldade em compreender o que lê e o que escreve. Ainda assim, baseado em outro trecho de seu comentário, deixo mais uma sugestão de leitura:
SERÁ QUE EXISTE UMA EXPERIÊNCIA VIRTUOSA DE ESQUERDA?
https://goo.gl/NnN35D
“MEU DEUS! MEU DEUS! SE EU CHORAR NÃO LEVE A MAL”
Viajei no carnaval sem computador. Dias leves, tranquilos. Voltei, abro o computador e acesso meu email. Fiquei pasmo e estarrecido com a leitura deste artigo de Paulo Falcão do blog da direita “Questões relevantes”.
-Sua tese: O aumento da desigualdade não é problema pois as condições de vida da humanidade teve melhoras acentuadas, graças ao capitalismo liberal ( Pausa: não sei se rio ou choro!). Leiam o artigo dele, mas contenham o choro, e me respondam:
-Quem passa fome hoje está melhor do que alguém que passava fome há cem anos atrás?
-Quem não tem TETO hoje está melhor do que alguém que não tinha TETO há cem anos atrás?
Fiquei estarrecido com tese por ele defendida. Como alguém, estudado e até se achando erudito, defende isto?
-Quem, hoje, não tem comida nem teto, estar bem pior do que alguém, com estas carências há cem aos atrás. Estes, naqueles tempos, podiam entrar na mata mais próxima comer frutos da terra e matar fome caçando e se protegendo nas tocas. Já ouviram falar em índios?
-Os de hoje, se fizerem isto, levarão um tiro! Ou esqueceram que os “donos do mundo” usurparam todas as terras!?
Outra aberração defendida por ele: O capitalismo liberal foi quem propiciou estas melhorias para a humanidade!?!?!?
“Meu Deus! Vou chorar!”. Quando vão entender que, quem produz riqueza é o trabalho, mesmo sendo trabalho escravo!?
-O capitalismo liberal, cujos liberais não são liberais nem entre si, usurpa está riqueza do trabalho e quer escravizar o trabalhador.
-Pergunto a estes liberais: Acham mesmo que quem chegou no topo da piramide, cada vez mais com menor diâmetro e com base cada vez maior, e que ficou forte, vai se sentir satisfeita com o que tem e se tornar altruísta?
-Crer nisto é não entender nada da natureza humana!!!
SEM FREIOS O FORTE ESCRAVIZA É A BARBÁRIE.
FABIO COLARES
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Fábio, você continua lutando contra seus fantasmas.
Qualquer pessoa dotada de capacidade para ler e compreender o que lê pode verificar nos diversos portais mundo afora que nos países de democracia liberal houve enorme evolução de qualidade de vida para as camadas mais pobres da população.
Suas perguntas soam tolas porque as respostas são dadas pelos indicadores sociais da OMS ou IDH: nas democracias liberais, há hoje menos pessoas passando fome ou sem teto do que há 100 ou 50 anos.
Isto vale para todas as suas provocações.
Já é tempo de você começar a exorcizar estes seus fantasmas do século XIX.
Em relação ao Brasil, isso não deixa de demonstrar que “existe algo de podre na Dinamarca”, pois as desigualdades são enormes, e o que o seu artigo tenta fazer é justificar o injustificável (pelo menos em termos do Brasil), mesmo que talvez involuntariamente.
No plano interno, temos de ter esse foco pois em um país onde 25 por cento da população (fonte IBGE 2016) está situada abaixo da linha de pobreza, muito ainda se tem que fazer, do ponto de vista social. O Capitalismo e o Grande Empreendedorismo praticado aqui ainda são muito selvagens, retirando direitos trabalhistas e pagando salários irrisórios em comparação com outros países que já experimentaram o estado do bem-estar social, e que mesmo assim prosperam.
Assim não há como esconder que nosso empresariado ainda carrega aquela mentalidade “escravagista” do Império – ainda não conseguimos nos livrar desse preconceito que se mostra em todos os setores da sociedade – a qual entende e pratica ainda pensamentos do tempo de Dom Pedro.
Isto está especialmente corroborado pelas ações tomadas pelas atuais forças políticas que galgaram o poder, que só tomam medidas para cada vez mais aumentar a desigualdade, ao perdoar dívidas de setores financeiros e do empresariado mais reacionário e fundamentalistas, tungar direitos trabalhistas, criar relações de emprego terceirizadas que cada vez mais tentam reduzir a força de negociação de empregados, além de entregar as nossas riquezas aos estados unidos. O que é isso senão o aprofundamento das desigualdades? Neste cenário não vi nenhum “aumento” dos ganhos sociais tão preconizado em seu artigo…
E mais estamos com 12,7 por cento de desempregados no país (Fonte IBGE,2017), sem tendência de queda, o que só exacerba as desigualdades…
Se seu artigo se referir aos países desenvolvidos, realmente a desigualdade pode provocar poucos estragos, pois tais países contam com salvaguardas criadas pelos “welfare state” e a mentalidade empresarial mais, digamos, evoluída. Mas em termos de Brasil, que é uma situação sui generis, a desigualdade de renda provoca realmente o desfazimento de todos os benefícios conseguidos com os ganhos sociais de anos, o que torna seu artigo irrelevante.
Diferentemente de outros rincões, onde o empresariado entende que deve distribuir sua riqueza amealhada, de outras formas além dos impostos que já pagam, até porque também são beneficiados pelos benefícios fiscais, mas além disso entendem que a maior distribuição de sua riqueza vai acabar beneficiando a ele próprio, aqui no Brasil os grupos econômicos só se preocupam em concentrar renda e sonegar o máximo possível, embora o nível de tributação do país esteja na média mundial,(Fonte FMI-2015), ela foca mais nos impostos sobre consumo, causando uma ineficiência e contribuindo para uma concentração dos capitais nas mãos de poucos, e tendo como consequência a desigualdade de renda. Quanto aos ganhos sociais, o que vinhamos conseguindo antes da mudança de governo era o mínimo para nos considerarmos um país digno. Mas infelizmente tudo foi perdido a partir de 2016.
A esse respeito consulte este estudo que faz uma relação entre a desigualdade de renda e mobilidade social
https://goo.gl/2Ftpiy
Este trabalho mede, entre outras coisas, o quanto a renda é concentrada. Quanto mais alto o valor, maior a desigualdade. Veja comparação entre 20 países analisados no estudo, inclusive o Brasil…
Outros estudos mostram que o aumento da renda per capita tem impacto na redução da desigualdade:
https://goo.gl/qS6nbx
Sergio, obrigado pelos comentários. Sem dúvida colaboram para um debate melhor da questão.
Não sou, de maneira nenhuma, contra a redução das desigualdades de renda, ou mesmo políticas compensatórias como o Bolsa Família. Deixo isto claro neste e em outros artigos do blog.
Mas sou contra o foco na desigualdade de renda, porque ele esconde a evolução que a sociedade vem experimentando, mesmo no Brasil, e dificulta uma discussão mais racional e imediata da questão.
Aliás, no artigo do NEXO que você indicou, encontramos conclusão semelhante à que postulo em meu artigo.
Lá eles dizem: “Segundo o autor do estudo, o economista Miles Cerak, a mobilidade está relacionada aos estímulos nos primeiros anos de vida, acesso à educação básica de qualidade e investimentos nos filhos. Em países desiguais, a tendência é que filhos de pais pobres não tenham acesso a esses fatores, e tenham poucas chances de ascender socialmente”.
No meu, digo: “A grande questão com a desigualdade é atacá-la no que tange ao acesso à educação, saúde e segurança alimentar. A renda aqui é periférica. Reduzir a desigualdade nestes três quesitos significa uma melhoria significativa de oportunidades para as pessoas mais pobres, capacitando-as para conquistarem aumentos de renda mais significativos.”
Não tenho dúvida de que o Brasil é pródigo em injustiças sociais e econômicas, mas ainda assim os dados indicam evolução.
Quanto aos 12,7 por cento de desempregados no país, é necessário reconhecer que são obra de Lula pós 2008 e Dilma desde o primeiro dia. E não foi por falta de aviso, como vários artigos do blog testemunham.
Quanto ao presente governo, tem erros e acertos, mas é superior ao governo Dilma.
No artigo anterior lembro mais uma vez que “Temer serviu ao governo Lula e foi vice de Dilma em duas eleições. Não há motivos para imaginar que seja mais honesto que ambos. Foram colegas de armas e métodos.
O mesmo vale para a maioria dos nomes de sua base no congresso.
(…)
Temer é a alternativa legal que nos coube e, mesmo que muitos julgassem impossível ou improvável, mesmo que muitos tenham trabalhado muito, de forma legal e ilegal, para atrapalhar, teve conquistas importantes.
Assumiu em agosto de 2016 com uma inflação de 9,28% e acelerando. Terminou 2017 com a inflação em 2,9%, o menor índice em muitos anos.
Encarou o desafio de uma recessão de quase 4% que se arrastava por 2 anos e reverteu o processo. Atravessamos 2017 com em crescimento mínimo, mas o último trimestre já apontava para um crescimento anualizado próximo a 3% do PIB.
Tirou o setor elétrico do caos em que Dilma o havia mergulhado.
Mesmo a Petrobrás, que quase foi destruída pela gestão do PT, mostra sinais de recuperação.
Quer dizer que está tudo bem?
Claro que não. Mas apostar no aprofundamento da crise econômica, social e política é certamente um atentado contra o povo brasileiro que não vive no reino da fantasia nem é militante profissional.”
Mais uma vez: a desigualdade de renda pode e deve ser combatida, mas as ferramentas para isto são garantir cada vez mais acesso à educação, saúde e segurança alimentar. Isto gera evolução, em todos os sentidos.
Intervenções arbitrárias na desigualdade de renda, pelo contrário, geram involução. A distribuição de renda como algum tipo de “vingança” contra os muito ricos sempre acaba em algum tipo de autoritarismo e redução da riqueza total da sociedade.
As democracias liberais possuem as ferramentas para as necessárias ações afirmativas que resultarão em redução das desigualdades, inclusive de renda.
Como já disse, mesmo neste nosso Brasil, houve evolução real neste sentido.
Não preconizo vingança contra ninguém mas um maior enfoque em justiça social.
Que bom que concordamos (acho) que o país precisa de um maior choque em políticas sociais. Isto posto, como conseguir recursos para financiar programas sociais sem atacar a enorme injustiça tributária que faz com que os ricos paguem proporcionalmente bem menos imposto (consenso da sociedade) que os assalariados sem mexer na carga tributária?
O desemprego altíssimo é outro problema (e não vou entrar no mérito de quem é culpado isso poderia gerar outra discussão boa pois não concordo com seu diagnóstico sobre quem é culpado mas é outra história) e só se resolve com investimentos em programas de governo que custam dinheiro e de onde virá? De impostos mais justos, claro.
Por outro lado este investimento irá dinamizar a economia e acabará beneficiando todas as classes sociais.
Outro problema sério é a gigantesca e absurda carga de privilégios e benefícios que determinadas categorias do estado recebem, bem como algumas castas de empresários que se beneficiam de financiamentos subsidiados , bem como privilégios, incentivos e renúncias fiscais que terão que ser revistas se quisermos ter alguma justiça social neste país, que só se faz com o fim destes privilégios que são indecentes.
Este na verdade é o grande problema do país, poucos ganhando demais e com excesso de privilégios vergonhosos e que geram revolta e de outro lado o povo desempregado ou subempregado com salários de fome ou mesmo sem comer sem direito à saúde, educação e moradia decentes.
Quem fala que o povo melhorou tem que refazer seus conceitos do que é melhorar, porque isto é muito relativo quando você não faz parte destas classes sociais nem vive o dia a dia delas.
A inflação está baixa porque o povo não tem dinheiro para gastar. A renda e o consumo caíram vertiginosamente por que temos milhões de desempregados.
Devido ao advento da internet os empregados hoje são pegos trabalhando em jornadas muito acima do regulamentar. Os salários caíram e a jornada aumentou. Não vejo onde pode ter havido melhora a não ser para uma pequena casta de beneficiados e privilegiados.
Tenho contato direto com a base da pirâmide social no sertão do Brasil central. Acompanho de perto o setor de supermercados e posso lhe assegurar que o cenário já esteve pior.
Em junho de 2017 as empresas que fornecem equipamentos sob encomenda para os supermercados (gôndolas, ilhas de congelados, sistemas de resfriados e congelados, equipamento de panificação etc.) pediam 45 dias de prazo para entregar novas encomendas. Em setembro este prazo já tinha saltado para 90/120 dias em função do aquecimento do setor.
Cada uma destas empresas emprega de dezenas a centenas de funcionários.
Cada nova loja de um supermercado de médio porte (8 a 10 caixas) emprega em torno de 100 funcionários que se revezam em turnos de 8 horas.
Nas vendas, houve alguma migração para marcas mais baratas, mas já está refluindo. Em termos de faturamento, o setor cresceu 1,5% acima da inflação em 2017.
O setor da agroindústria (produção + transformação) também teve muito investimento em 2017 e na safra 2017/2018 os resultados estão bons, o que deve manter o investimento em alta.
São dois setores importantes, que movimentam bastante a economia.
Quanto aos favorecimentos, como já respondi a outro leitor, podemos (e devemos) criticar o capitalismo de compadrio, espúrio, praticado nas altas esferas políticas e empresariais no Brasil, mas 99% das empresas brasileiras estão à margem desta troca de favores e conquistam cada milímetro de mercado na unha, com muito esforço e risco.
São micro, pequenas e médias empresas que geram empregos e lutam contra uma burocracia caríssima.
A questão tributária sem dúvida é parte da solução, mas quando se fala em reforma tributária os governos estaduais não se entendem com o federal, e nenhum deles com os municípios.
Não é diferente com quem paga impostos.
Em outros artigos já defendi que estudemos modelos virtuosos como o do Canadá, por exemplo, ciente de que uma boa cópia é melhor que uma ideia original ruim, ou que nunca avance.
Nossa principal diferença é que vejo uma redução da desigualdade social no Brasil e nas democracias liberais mundo afora quando tomamos uma curva de tempo maior (30 anos, por exemplo).
Ou seja, reconheço que, embora em ritmo inferior ao desejável, as coisas estão melhorando.
Identificar e reconhecer estas melhoras é fundamental para não cair em armadilhas como a que assistimos com pesar na Venezuela.
Você escolheu setores (agroindústria e supermercados) que não servem como parâmetro para medir evolução da economia porque as pessoas têm que comer, não podem deixar de gastar, esteja a economia como estiver. Ainda mais porque as pessoas esquecem a sazonalidade de períodos como o natal e carnaval onde as vendas tendem a ter um ligeiro aumento por causa das festas e do décimo terceiro. Mas vamos ver se se mantém.
As micro e pequenas empresas respondem por 27 % do PIB somente (fonte Sebrae).
Volto a dizer que o Brasil é sui generis não adianta pegar exemplos de fora pois tais países tem mais salvaguardas sociais que impedem excessos do capital.
E porque será que quando se quer depreciar o socialismo e o bem-estar social se usa como exemplo a Venezuela que sofre um boicote econômico e financeiro dos americanos e não os Países Nórdicos ou sei lá a China que vai ser a grande potência mundial na próxima década?
Sérgio, segundo o mesmo SEBRAE:
“O setor de serviços é o setor com maior participação na economia. No 3º trimestre de 2017, o setor de serviços representou 72,8% do PIB gerado no país. A indústria alcançou os 22,2% e a agropecuária, 5,0% do PIB.”
“Pelo lado da demanda, o investimento foi o destaque no 3º trimestre de 2017. Após 15 trimestres seguidos de contração, o investimento cresceu 1,6% no 3º
trimestre. O consumo das famílias avançou por mais um trimestre (alta de 1,2% com relação ao 2º trimestre) e os gastos do governo caíram 0,2% na mesma comparação.”
“Os pequenos negócios respondem por mais de um quarto do PIB brasileiro. Em 2011, as micro e pequenas empresas geraram 27% do PIB, um resultado que vem crescendo nos últimos anos.
Em 1985, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a participação dos pequenos negócios no PIB brasileiro era de 21%.”
Ou seja, os dados do SEBRAE estão em consonância com minha leitura dos fatos.
Quanto à Venezuela, atribuir a culpa a boicote dos EUA é tapar o sol com a peneira. Sobre este tema específico, sugiro a leitura deste artigo:
IGOR FUSER, O MALABARISMO DAS PALAVRAS E A MISÉRIA INTELECTUAL.
https://goo.gl/xdPBm2
Na questão da socialdemocracia, gosto do modelo e o defendo. Mas de maneira nenhuma pode ser considerada de esquerda. São todas democracias representativas com livre-mercado. Trato do tema em diversos artigos. Um deles é este:
SERÁ QUE EXISTE UMA EXPERIÊNCIA VIRTUOSA DE ESQUERDA?
https://goo.gl/xb9M8d
Imagine que o sonho do Itamar era que o salário mínimo fosse = 100$. Pensa no que faríamos com 350,00… Nosso dinheiro perdeu o valor, o lastro e o poder de compra. Quem mais sofre São a classe média e assalariados.
O dólar não desvalorizou tanto. Logo, houve aumento real do salário mínimo. Este é o ponto.
Embora discorde das visões do site (Questões Relevantes), sempre respeito as análises contrárias ao meu pensar… Pois, o mais importante é se estabelecer um debate para além das distorções provenientes das esquerdas reformistas e populistas.
De outro lado, é também muito importante atentar para o que diz Bernie Sanders: “Difícil de compreender o fato de que as seis pessoas mais ricas da Terra agora possuem mais riqueza do que a metade mais empobrecida da população mundial – 3,7 bilhões de pessoas. Além disso, o top 1% tem agora mais dinheiro do que os 99% de baixo. Enquanto os bilionários exibem sua opulência, quase uma em cada sete pessoas luta para sobreviver com menos de US$ 1,25 (algo como R$ 4,00) por dia e, por conseguinte, cerca de 29 mil crianças morrem diariamente de causas totalmente evitáveis, como diarreia, malária e pneumonia.” – São outros dados, ou fatos, a se considerar.
Antônio Carlos, analisei uma pesquisa anterior do Oxfam e observei que a fortuna dos 62 mais ricos, acumulada ao longo de toda uma vida soma U$ 1720.6 bilhões de dólares. É realmente um dinheirão. A solução mais sonhada pela turma que adora socializar o capital alheio é confiscar tudo (talvez enforcar estes capitalistas em suas tripas) e dividir o valor entre os 50% mais pobres. São aproximadamente 3,6 bilhões de pessoas (é bom lembrar que deste total, 1 bilhão está na China, o mais próspero país socialista, e outro bilhão na Índia, país que sofre com sua cultura de castas e nunca foi um país capitalista ou uma democracia liberal).
Dividindo um pelo outro, cada uma das pessoas que está entre os 50% mais pobres receberia U$ 477,94. É isto mesmo, quatrocentos e setenta e sete dólares e noventa e quatro centavos. Não é por mês. É valor total. Resolveria o problema da desigualdade? Não. Da fome? Não. Da falta de perspectiva? Não. Mas criaria um problemão na outra ponta: milhares de funcionários qualificados perderiam o emprego, a atividade econômica nas áreas mais dinâmicas da economia seria drasticamente afetada e contribuiria enormemente para o empobrecimento geral. Lembre-se que a riqueza que pode ser cobiçada e confiscada é finita. No fim, é como dizia Thatcher, quando acaba o dinheiro dos outros, o sonho socialista acaba também.
Não localizei a informação sobre o valor total concentrado nas mãos de 1% da população e que equivaleria à riqueza dos 99% restantes, mas podemos pensar que o resultado final de seu confisco seria semelhante ao descrito acima, provavelmente com um desarranjo ainda mais grave da economia.
A desigualdade é um problema e deve ser combatida, principalmente a desigualdade “na partida”, como segurança alimentar, saneamento básico e educação de qualidade. Não se combate a desigualdade punindo aqueles que possuem um maior talento para a geração de riqueza.
Posso andar contigo no Recreio?
Ramon, podemos fazer uma rodinha para ler Adam Smith…
Necessário se faz esclarecer que a China não é um país socialista… O que existe por lá é um “capitalismo de Estado” que deu certo até agora, a custa da vida de milhões de pessoas. E hoje é, com certeza, a segunda maior economia do mundo, e logo vai ultrapassar os Estados Unidos, pois é o que sinaliza o processo histórico. Quanto a ideia de falsos “socialista/comunistas” de “enforcar os capitalista em suas próprias tripas” não passa de uma distorção política, visto que para construir uma nova sociedade não é preciso usar dessa falaciosa e superada retórica dos séculos 19 e 20.. Em termos de “democracia liberal” bastaria, provavelmente, taxar as grandes fortunas por alíquotas mais altas, o que poderia resultar em recursos suficientes para compensar em parte a miséria e a pobreza, frutos da concentração da renda em poucas mãos. Pensar e refletir é preciso!
Antônio, enquanto manteve-se fiel ao socialismo “puro sangue” a China continuou na miséria. Com a abertura e o início do Capitalismo de Estado (mas diferente do modelo da URSS, pois admite sócios capitalistas), passou a prosperar. Mas lembre-se: o capitalismo funciona em ditaduras, o que não funciona em ditaduras é a democracia liberal. É nesta segunda que a humanidade encontrou o melhor modelo de organização social já conhecido.
Ótimo artigo.
Obrigado.
Segundo Clóvis Rossi, Lula deixou os ricos mais ricos. Segundo seu raciocínio, isto é bom…
https://goo.gl/b9crwP
Carlos, o artigo demonstra um fato e cita como exemplo os governos FHC e Lula.
Logo, respondendo objetivamente sua provocação: se ajudar os mais ricos viabiliza uma situação de pleno emprego e crescimento sustentável, pode ser positivo.
Podemos (e devemos) criticar o capitalismo de compadrio, espúrio, praticado nas altas esferas políticas e empresariais no Brasil, mas 99% das empresas brasileiras estão à margem desta troca de favores e conquistam cada milímetro de mercado na unha, com muito esforço e risco.
Outro ponto: o artigo evita ao máximo partidarizar a questão. O objetivo é fazer uma reflexão sobre o princípio em si: o aumento da desigualdade de renda não é um mal em si, ao contrário do aumento das desigualdades de oportunidades em educação, saúde e segurança alimentar.
Espero que tenha ficado claro.