Existem momentos com forte poder de explicitar o problema decorrente da falta de honestidade intelectual na imprensa, na academia e nas redes sociais. Ou, se achar muito forte esta afirmação, podemos dizer: o quanto preferências ideológico-partidárias afetam a integridade da comunicação. A reação à reforma na educação proposta pelo Governo Temer é um destes momentos.
Trata-se de um assunto complexo, que mereceria uma abordagem cuidadosa dos chamados “formadores de opinião”, mas não é o que vimos.
Não vou me alongar pois o assunto é denso e exigiria tempo e esforço desnecessários para provar o que digo acima. Basta tomarmos como exemplo um aspecto que foi amplamente comentado como prova de uma “guinada à direita” e uma tentativa de barrar a formação de alunos “dotados de pensamento crítico”: o fim da obrigatoriedade de aulas de filosofia e sociologia.
Você certamente viu matérias falando sobre isto. Viu charges, viu protestos. Mas provavelmente não viu o vídeo abaixo em que Dilma, ainda presidente, defendia estes dois pontos, deixando claro que esta reforma não é fruto de uma decisão intempestiva do “Governo Golpista”, mas a continuidade de uma proposta que vinha sendo formulada pelo governo anterior, com ativa participação da esquerda. Ou seja: o que era defendido antes, durante o desgoverno Dilma, passa a ser atacado não por discordâncias reais, mas por puro oportunismo político e intelectual. Assista e comprove. É curtinho:
Viu?
Diante da clara falta de honestidade intelectual de “formadores de opinião” que escondem isto de você, que continuam defendendo o PT e sua forma muito peculiar de “ética”, diante daqueles que cultivam corruptos de estimação, seja mais prudente. Lembre-se: quem usa a mentira como método não merece sua consideração.
Artigo de Paulo Falcão.
Há uma diferença grande entre uma declaração de simpatia pela supressão de disciplinas feita em entrevista, por um governo que mantinha o diálogo sobre as reformas do sistema de ensino, e um governo que reforma o ensino médio por Medida Provisória e com a confusão a que assistimos e podemos ler na Medida.
Segundo: os maiores problemas dessa reforma não são necessariamente a supressão da filosofia e da sociologia ou outras disciplinas, mas o inevitável aumento da segregação escolar no Brasil e a exclusão de boa parte de adolescentes que estudam o ensino médio à noite porque trabalham ou procuram trabalho (a juventude brasileira é trabalhadora, crianças e adolescentes entram muito rapidamente na População Economicamente Ativa; não faltam pesquisas empíricas demonstrando isso).
De tal sorte que essa matéria é muito ruim, porque meramente voltada ao ataque de adversários políticos ou ideológicos, sem nem um interesse em seu assunto central: qual a posição do autor sobre essa reforma do ensino médio à base de Medida Provisória – não só na forma como no conteúdo? Será que precisaremos esperar que Pinóquio responda?
Tâmara, sua crítica à exclusão de alunos menores do mercado de trabalho deveria ser dirigida à Dilma e não a Temer. Desde 2014 há portaria da SEC que proíbe a matrícula de menores de 18 no turno noturno, salvo casos em que o estudante comprove que trabalha, tenha 15 anos e permissão dos responsáveis. Ou seja, nada diferente do que virá com a reforma. Outra questão é que a medida provisória não faz ” per si” a reforma, antes instaura o processo de discussão do qual nascerá uma reforma plural e flexível, que assegure o básico para todo o país e preserve interesses e identidades regionais.
Quem acusa o governo de não ter discutido esta proposta com a sociedade está mal informado. Os professores vinham participando do Pacto EM a fim de refazer o PPP das escolas e se familiarizar com a educação integral combinada à profissionalizante. Era para cada professor ter recebido 200 reais por mês para participar desse projeto entre 2013 e 2016. Acontece que comeram o dinheiro nas cúpulas universitárias e nas SECs e só pagaram em 2014 nos forçando a discutir em um ano o que deveria ter sido feito em 2013 e 2014.
Passadas a eleições de 2014, cortaram a bolsa e queriam obrigar os professores a continuar com o PACTO nos horários de AC, mas a maioria se recusou. Por isso tanta gente desconhece as bases dessa reforma. Além disso, estão fazendo terrorismo informacional, espalhando boatos e fazendo movimentos contra a reforma como se esta fosse política do Temer e não do Estado.
Tâmara, em primeiro lugar, o artigo tem o objetivo claramente declarado de discutir não o mérito do projeto em si, mas o uso de duplo critério na avaliação da supressão de sociologia e filosofia como disciplinas obrigatórias.
Quanto a suas ponderações, faço minhas as palavras do Luiz Antônio e acrescento que a proposta da MP repete boa parte do conteúdo da Lei 6.840, que está sendo debatida na Câmara desde 2013.
Em um de seus comentários você mencionou que os salários dos professores da escola que você se referiu estavam em dia. Você poderia me dizer qual o valor do salário de quarenta ou vinte horas desta escola?
Homero, não sei responder esta pergunta, mas em uma rápida pesquisa que fiz encontrei duas notícias de aumentos para os professores municipais, de 13,1% em 2015 e progressão de 20% em 2016.
https://goo.gl/yaDX3f
https://goo.gl/Un3yEG
“Se hoje vocês lamentam da péssima educação dos jovens, antes vocês deveriam ter educado os avós.”
Me parece que a ideia de que disciplina e respeito eram “careta ” está apresentando seus filhos para a saciedade.
Como já disse primeiro excelência na formação dos professores; segundo salários que sejam capaz de atrair os melhores alunos do ensino médio para as licenciaturas. Com uma estrutura improvisada, o Colégio de Aplicação, mas com professores ótimos e ajuda das Licenciaturas da UEL, na década de noventa teve rendimento no IDEB igual ou superior às escolas particulares de Londrina. Repito o foco é na formação dos professores.
Obrigado pela sequência de comentários, mas devo lembrá-lo que aquela era outra época e outra cidade. Aqui a desestrutura familiar é o maior problema a ser atacado para se resolver a questão da educação, e está fora da escola. Além disso, assume que os professores aqui são despreparados, mas os que conheci me surpreenderam positivamente.
Lidamos com a realidade, o hoje, o agora. Você insiste em um diagnóstico que é para outra doença. Infelizmente. O problema que você conheceu e ainda idealiza era mais fácil de resolver.
Como já disse e repito: melhor formação dos professores; salários atrativos para que os alunos do ensino médio se interessem pelo magistério; redução do número de alunos por classe; ensino em tempo integral sem cortes de disciplinas; as escolas públicas não devem ser objeto de caridade das empresas, mas obrigação constitucional do estado; de resto como pro exemplo, associação de pais e mestres com participação efetiva na escola, projeto político pedagógico adequado à realidade de cada escola, rol das disciplinas a serem ensinadas. projeto extra-curriculares e outras iniciativas são acessórias. Quanto as crianças subnutridas resultantes da miséria deste pais, pode ser amenizada com duas ou mais refeições em escola de tempo integral. Porém, em estudo que participei na década de oitenta os custo de uma escola de tempo integral se aproximava de trinta por cento, não se computando a necessidade da expansão da rede física, ou seja a construção de mais escolas. Para finalizar, quando na década de setenta quando iniciei como professor a merenda escolar somente estava autorizada aos alunos do ensino fundamental, como o Colégio de Aplicação era ligado a UEL, conseguimos que o Centro de Ciências Agrária nos fornecessem boa da alimentação. Apenas estas medidas fizeram que os alunos do turno noturno (ensino médio) chegassem no horário e o número de ausências caíram e consequentemente houve aumento no rendimento escolar destes. Por derradeiro, houve em Londrina na minha época como diretor, coisa que eu soube em reunião com outros diretores, que havia dois irmãos do segundo e terceiro ano do ensino fundamental que estava matriculados em escolas municipais e estaduais em períodos diferente para comer duas merenda por dias, isto a muito tempo. Portanto, consequência da miséria endêmica que faz parte de nossa história.
Homero, talvez não tenha ficado claro em nossa troca de comentários abaixo, mas esclareço agora: no exemplo que citei, os salários são pagos pontualmente, a escola tem boa estrutura, os equipamentos estão todos funcionando, as salas de aula têm ar-condicionado, existe um laboratório de informática com 15 computadores funcionando e acesso à internet, é servida merenda para todos os alunos, o diretor e a coordenadora pedagógica têm boa formação, são ativos e, com a mesma equipe de professores, levou a escola a ficar sempre entre os 3 primeiros colocados no ranking estadual por vários anos. São tão ativos que procuram ajuda para ir além do que a prefeitura pode oferecer e foi assim que cheguei até eles.
Os alunos não são desnutridos nem passam fome em casa. Não estão em situação de miséria alimentar ou econômica. O problema é causado, de um lado pela já conhecida falta de letramento familiar, de outro por algo bem mais grave: a falta de estrutura familiar, o que se traduz na falta de um norte ético mínimo e mesmo do mais comezinho amor materno/paterno. A crise é de costumes, antes de mais nada, com muitas mães solteiras, prostitutas, jovens mães mais preocupadas com a próxima balada do que com os filhos e muitas outras situações de dar nó no peito.
A solução da escola em tempo integral seria positiva exatamente por reduzir o tempo de convivência da criança com este tipo de situação. E a sugestão de atrelar benefícios sociais à certos compromissos mínimos dos pais para com seus filhos é uma forma de pressioná-los a ter participação efetiva na educação dos próprios filhos.
Tenho uma irmã diretora e sei o que é. Uma pergunta O que desestruturou a familia? Essa desestrutura é proposital? Prostituta, mãe solteira, isso sempre existiu, Mas o que fez isso sair do controle?
João Tarcísio, a tentação de dar uma resposta simplista e errada para sua pergunta é grande, mas prefiro a prudência. Sabemos que nos EUA temos problemas semelhantes, por exemplo. A liberdade sexual (que é uma coisa boa) e os muitos estímulos à libido em propagandas e na indústria cultural criou uma verdadeira epidemia de adolescentes que se tornam mães, muitas com mais de um filho e pais diferentes. As políticas de bolsas com baixas contrapartidas também contribuíram, criando uma certa acomodação. Além disso, esta política de muita tolerância com a indisciplina na escola e nas salas de aula agravam a situação.
Mercadante recuou logo após a celeuma lançada . Temer também , mas já recuou do recuo.
Assim, não estão levando adiante o programa já proposto pelo PT, estão lançando sob responsabilidade deles.
À época critiquei a ação do governo Dilma , sob ação do Ministro Mercadante .
Volto a criticar novamente, sobretudo um governo que na área de Educação foi ouvir Alexandre Frota, mas não especialistas da área.
Eduardo, o artigo não analisa o mérito do projeto, mas o uso de duplo critério na avaliação da supressão de sociologia e filosofia como disciplinas obrigatórias.
Quanto a quem foi ouvido, a proposta da MP repete boa parte do conteúdo da Lei 6.840, que está sendo debatida na Câmara desde 2013.
Nos mais de trinta anos que trabalhei como professor tive o desprazer de passar por quatro leis que tinham como proposta dar novas diretrizes e bases à educação. Muitas palavras, somente retórica, repito retórica. A cada mudança enchiam- se as burras das editoras, porém o dia-a-dia nas escola apenas piorou. Os focos principais que seriam a redenção da educação pública no Brasil, tais como: melhor formação de professores das licenciaturas; salários atrativos para que os melhores alunos do ensino médio se interessem pelo exercício do magistério; número menor de alunos por classe; escolas de tempo integral, como preconizava o liberal Aloísio Teixeira(fundador da UDN) nos anos trinta; número menor de alunos por sala de aula. Nunca aconteceram. Esta reforma que está por vir seja idealizada por quem for, apenas servirá para as editoras faturarem mais.
Homero, com certeza você tem uma experiência enorme e rica na área de educação. Talvez tenha também total razão em suas avaliações e previsões. De qualquer forma, acho oportuno acrescentar um comentário e uma informação que me parece importante neste debate.
O comentário é que o ponto central deste breve artigo não é o mérito do projeto, mas a forma mentirosa e leviana com que foi tratado por muita gente, inclusive da chamada “grande imprensa”.
A informação é que acompanho de perto um projeto em uma escola municipal no Tocantins que atende uma das áreas mais carentes de uma cidade de 80 mil habitantes. A escola é muito bem montada, a manutenção é boa, as salas de aula contam com climatização para garantir o conforto dos alunos e professores, a equipe docente é boa e até alguns anos era sempre uma das mais bem avaliadas nos testes estaduais. Há 3 ou 4 anos o perfil dos alunos mudou, com a entrega de projetos do Minha Casa, Minha Vida nas proximidades, muitos deles também atendidos pelo Bolsa Família. O desempenho da escola caiu assustadoramente.
Ao me aproximar do problema, junto com a direção da escola e a coordenação pedagógica, constatamos que a maioria das famílias é muito desestruturada e vê a escola apenas como depósito de criança.
Colaborei na implantação de um projeto que tem por objetivo estimular os fatores que mais contribuem para o efetivo aprendizado dos alunos, o que inclui conseguir maior envolvimento das famílias. Assim, o projeto premia com uma cesta básica, a cada bimestre, o melhor aluno de cada classe que apresente o melhor desempenho nos seguintes quesitos:
– Melhores notas no Boletim
– Maior Frequência
– Maior número de Tarefas feitas com visto da mãe ou pai e do professor.
– Pai ou mãe participar das reuniões da escola e assinar a ata.
– Pais e alunos respeitarem as regras da escola.
A reunião de pais para explicar como funcionaria o projeto contou com a maior participação da história da escola, mas os resultados posteriores foram muito modestos. Ficou claro que muitos pais e mães não estão dispostos a qualquer esforço para ganhar o que seja. Eles esperavam algo mais automático, do tipo se cadastre e ganhe.
Minha conclusão, talvez ainda com dados insuficientes, é que ao menos os beneficiários do bolsa família deveriam ter o benefício atrelado não apenas à frequência escolar, mas à efetiva participação em termos semelhantes ao do projeto acima, com a diferença que todos que atingissem parâmetros mínimos continuariam recebendo os benefícios.
Certamente o período integral é outro fator que elevaria a chance destas crianças receberem uma educação melhor.
De qualquer maneira, foi triste e pesado constatar que não basta uma instalação bem montada e professores empenhados para assegurar um aprendizado ao menos razoável. Sem envolver também as famílias, não há um bom futuro para estas crianças.
Bem colocado, Paulo Falcão. Reflito muito sobre essa questão, apenas me baseando pelas minhas constatações no dia-a-dia. Observo que nas populações mais pobres, especificamente nas periferias, há muitas pessoas com menos de 20 anos que já tem, pelo menos, um filho, às vezes mais. Aparentemente, algumas dessas pessoas não são maturas e preparadas pra lidar com isso, criam seus filhos “empurrando com a barriga”, sem incentivar a educação e a disciplina. Ao meu ver, este ciclo se repete muitas vezes, e essas pessoas não conseguem melhorar, significativamente, sua qualidade de vida.
Os grandes problemas são essa “má-criação” dos filhos, a desestruturação familiar, e a alta natalidade entre as populações mais pobres. Ora, se essas famílias já são mais pobres e menos educadas, como vão viver dividindo sua renda entre 3 ou 4 filhos?
Esse problema não se limita à educação, também influencia na violência das periferias. Uma mãe que cria sozinha 3 ou 4 filhos, e precisa trabalhar, não consegue “ficar na cola” dessas crianças 24 h por dia. Esses, mutias vezes acabam ficando “largados” na rua. Acredito que esse ambiente seja uma fábrica de “marginais”.
Concordo plenamente. Esta e mais uma reforma que vem de cima para baixo sem a participação da sociedade brasileira. Infelizmente educação basica no Brasil não e prioridade nacional!
Maria, vamos deixar claro: não analisei a proposta como um todo e não posso emitir juízo de valor sobre ela, mas vejo que a maioria das críticas vem de pessoas que também não a analisaram, não a leram, não a conhecem.
A sua crítica mesmo não aponta nenhuma discordância formal, apenas acusando-a de vir de cima para baixo sem a participação da sociedade brasileira, o que não é verdade.
A proposta da MP repete boa parte do conteúdo da Lei 6.840, que está sendo debatida na Câmara desde 2013, envolvendo os dois mandatos de Dilma, o que significa dizer que vem sendo debatida também pela “esquerda” em comissões especializadas há aproximadamente 3 anos. O formato de medida provisória pode ser criticado, mas também pode ser entendido como uma forma para obrigar o congresso a uma análise mais rápida do assunto.