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O PT está na presidência da república há 13 anos. Quem tem 16 anos hoje, o novo eleitor, tinha 3 anos quando Lula venceu a primeira eleição. Quem tem 30 anos tinha 17 e a maioria votou no Lula gritando “Fora FHC”. Outros, mais velhos, também o fizeram, mas estes não podem desfrutar da desculpa da ingenuidade ou ignorância.

Acredito que o artigo de Eliane Cantanhêde no Estadão de 26 de julho de 2015 seja interessante para que estes jovens e já não tão jovens vejam a história política brasileira do final da ditadura militar para cá com alguma perspectiva e, quem sabe, entendam a natureza de um partido que sempre teve um projeto de poder, mas nunca de democracia ou governabilidade.

Achei necessário acrescentar alguns comentários e faço isto entre parênteses no próprio artigo.

CAMBALHOTAS

Por Eliane Cantanhêde

Governo é governo, oposição é oposição. Até por isso, mas não apenas por isso, é questionável o ex-presidente Lula pedir ajuda ao antecessor Fernando Henrique para buscar saídas para a imensa crise em que Dilma, o PT e o próprio Lula afundaram o País e se afundaram. Lula e o PT foram implacáveis e duríssimos contra tudo e contra todos, como esperam que tudo e todos sejam condescendentes com eles agora?

Quando ficou evidente que a emenda Dante de Oliveira não passaria no Congresso e as “Diretas Já” teriam de esperar mais um pouco, todas as forças políticas responsáveis se uniram em torno da transição com Tancredo Neves. O PT ficou de fora para privilegiar seu próprio projeto de poder. Quem se opôs às diretrizes de cúpula caiu em desgraça e enterrou precocemente promissoras carreiras políticas.

Quando veio a Constituinte de 1988, todos os setores da sociedade empenharam-se de corpo e alma por suas ideologias, seus interesses e, muitos, por um País melhor. Todos os partidos, após perderem umas, ganharem outras, endossaram o que o grande Ulysses Guimarães carimbou como “Constituição cidadã”. O PT ficou de fora, mais uma vez, para privilegiar seu próprio projeto de poder.

Quando o governo Collor fez água, todas as forças políticas, empresariais, sindicais, estudantis, militares e eclesiásticas aderiram a um pacto de governabilidade em torno do vice Itamar Franco. O PT, tão ativo para derrubar Collor, ficou de fora para privilegiar seu próprio projeto de poder. Luiza Erundina insubordinou-se e nunca mais teve vez no partido.

Quando o ministro Fernando Henrique liderou os mais geniais economistas no combate à inflação e Itamar avalizou o Plano Real, as forças públicas e privadas deram suporte à investida que mudou os horizontes do País. O PT, que entrou na Justiça contra o plano, ficou de fora para privilegiar seu próprio projeto de poder.

Quando se discutiu uma aliança entre PSDB e PT para governar o País com as melhores, mais bem intencionadas e capacitadas forças políticas e técnicas, prevendo a alternância entre os dois na cabeça de chapa, o PT, sabendo que o PSDB abriria a temporada, ficou de fora para privilegiar seu próprio projeto de poder. O Brasil paga um altíssimo preço por esse erro de petistas e tucanos.

Quando o governo FHC começou a tropeçar em dificuldades políticas e econômicas, a popularidade do presidente desabou, mas sua sustentação política e partidária foi suficiente para que concluísse o mandato dignamente, com saldo positivo. O PT, de onde gritavam “Fora FHC”, ficou de fora para privilegiar seu próprio projeto de poder.

Quando veio a sucessão de 2002, FHC foi decente na campanha e há até quem jure que ele trabalhou mais pelo adversário Lula do que pelo aliado e amigo José Serra. Na transição, escancarou o governo ao sucessor e à nova equipe. Pois a primeira providência de Lula ao assumir foi fazer picadinho do legado de FHC, cunhado como “herança maldita”. (Nota deste blog: isto é impreciso. Lula e o PT perceberam que o país quebraria rapidamente se não seguissem a cartilha do Plano Real e, mesmo vociferando contra, mesmo falando em herança maldita, puseram o ex-presitente mundial do Banco de Boston Henrique Meireles no Banco Central, o bombeiro Palocci no ministério da fazenda, acalmaram “o mercado” e superaram a crise criada pela incerteza que o “Projeto PT” representava).

O projeto de poder do PT acabou dando certo e ele já está no quarto mandato, mas o custo é alto. (Nota deste blog: aqui também há imprecisão. As iniciativas “originais” do PT fracassaram uma após a outra, como o natimorto “Fome Zero”. Após fracassar com suas propostas puro sangue o PT resgatou, unificou e turbinou as políticas de distribuição de renda e inclusão do governo FHC – que tanto criticaram – rebatizou-as e as transformou nas vitoriosas bandeiras do partido, como o Bolsa Família. Sobre este último tópico, nada mais claro que ouvir o próprio Lula em dois momentos distintos e ver alguns documentos do próprio governo do PT:

Lula: https://www.youtube.com/watch?v=khrWYPd3hRQ

Dilma e a mentira documentadahttps://www.youtube.com/watch?v=ZWSKSPF6u70

A vida dá voltas, a política dá cambalhotas e eis que Lula vê sua popularidade e seu mundo esfarelando, com Dilma isolada, ainda teimosa e apegada à irrealidade dos palácios. Acossado pela Lava Jato, exposto por ligações perigosas com empreiteiras e mortificado pela escolha lamentável de Dilma para ser a líder política e a gestora econômica do Brasil, Lula agora quer a ajuda de Fernando Henrique.

Que interesse FHC pode ter nisso? Não é legítimo PSDB devolver na mesma moeda e privilegiar seu projeto de volta ao poder? E como explicar uma aproximação para os 62% da pesquisa CNT-MDA que são pró-impeachment? É o caso de os tucanos darem a mão para o PT, para Dilma e para Lula e voltarem às costas para a maioria da população? Um grão tucano lembra que até o PMDB está desembarcando e resume tudo de forma cruel. “Fernando Henrique só poderia encontrar Lula com uma única intenção: sugerir a renúncia de Dilma.”

Link para o artigo original no Estadão: http://m.politica.estadao.com.br/noticias/geral,cambalhotas,1731976

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